Porque eu simplesmente não era. Fui criado na roça pela minha avó e por isso sempre tive um jeito mais educado ou delicado, como alguns gostam de enfatizar. Mas sempre tive namoradas e todas elas podem testemunhar sobre isso. Assim como depois da tragédia que vivi e comecei a repensar na vida, sempre deixei claro que se algum dia me apaixonasse por alguém, seja homem ou mulher, eu tornaria isso público. E assim o faço hoje.
Muitos podem não acreditar, mas eu quando amo, não olho para os lados. Como só havia namorado mulheres e me casei com uma, a atração pelo outro gênero não aconteceu. Sempre fui fiel e completo nos meus relacionamentos. E mesmo minha ex-mulher dizendo tantas mentiras contra mim, existem na internet inúmeras declarações dela relatando o quanto era satisfeita sexualmente comigo.
Hoje eu estou com um homem. Não namoro pensando em terminar. Se estou namorando eu penso num relacionamento para a vida, mas sim, me considero bissexual, porque sinto atração por mulheres. Tenho lido que as pessoas não acreditam na bissexualidade, então não entendo o B no LGBTQIA+, mas me considero bi, sim. Contudo, hoje estou com um rapaz.
Então, minha família é da roça, cristã e de uma cidade muito pequena no interior. Contei pra eles essa semana. Dizer que foi fácil é mentira. Ainda existe o conceito do pecado, essas coisas. Meus irmãos foram tranquilos. Diante de tudo o que passei, eles só querem me ver feliz. Minha mãe acho que ainda está em choque. Mas uma mãe que resgata um filho do hospício e sofre com ele 3 anos para mostrar sua inocência, eu creio que em breve ela também vai conseguir digerir tudo isso. É difícil para ela, mas não tenho dúvidas que ela me ama e quer me ver feliz.
Não, de forma alguma. Até porque o que eu fui acusado não tem a ver com a homoafetividade. Nas vezes que ela tentou incluir isso foi para suscitar um preconceito que ela tem contra a comunidade gay. O que ela fez foi uma mentira cruel envolvendo uma criança e também tínhamos uma vida normal de casal. Ela também acusou o primeiro marido de ser gay, psicopata e muitas outras coisas, mas eu tenho certeza de que ela vai usar isso para tentar se 'redimir' com seus seguidores ou com a Igreja e muitos vão acreditar. Caso ela extrapole, será acionada judicialmente, já que ela é proibida por lei de falar sobre mim ou de chegar perto de mim e de minha família. Ela também falou sobre pedofilia no intuito de dizer que todo gay era pedófilo, mas sofreu muita pressão para voltar atrás nessa fala. Ela também me chamou de 'satanista', então não dá pra acreditar em alguém que foi desmentida em todas as esferas da Justiça brasileira.
Totalmente errado. Cada um tem o seu tempo, seus medos, seus traumas. A sexualidade não é algo que se liga e desliga como um interruptor. Imagina alguém como eu, aos 40 anos, vivendo algo novo. É assustador. Você não sabe o que fazer e como lidar com os sentimentos. Se pudesse eu teria desligado o interruptor, mas não funciona assim. Procurei ajuda e tive meu tempo de colocar a cabeça no lugar.
Fui casado com uma pessoa extremamente cruel. Depois de sobreviver a isso, pequenas coisas já me deixam feliz. Eu não sei como será minha vida depois dessa declaração. Possivelmente, muitos vão me mandar por inferno e serei xingado por gerações. Posso dizer que estou ansioso, com um pouquinho de medo, mas estou em paz. E não estou sozinho.
Não, como disse, todos os meus relacionamentos eram completos, nenhuma mulher que namorei pode falar algo contra mim.
Sim, eu fiz teologia e fui pastor sênior de uma igreja, mas hoje, por amor à verdadeira Igreja, às pessoas genuínas que realmente amam a Jesus e tentam fazer o bem, por amor a elas e para evitar confusão ou escândalos, neste momento eu abro mão do título eclesiástico. O título nunca foi importante pra mim. Ele não está no meu RG, então eu sempre serei o Felipe, e isso pra mim basta.
Para as igrejas tradicionais, sim. Hoje existem as igrejas inclusivas, que não haveria problema, mas essa não é a questão. Neste momento eu não quero pastorear. Tenho o apoio do Daniel Mastral e do Ministério MGL, que me aceitam, me amam e protegem, mas são poucas as igrejas que optam por apoiar e não excluir os homossexuais. Eu ainda estou reconstruindo os pedaços da minha vida que foram quebrados. É hora de cuidar de mim e não dos outros.
Acho que a resposta seria o que não muda! Muitos vão se decepcionar, e eu lamento por isso, mas esse sou eu agora. O amanhã pertence a Deus. Estou lançando um livro esse mês chamado 'Encontro Marcado', que fala justamente das pessoas que foram excluídas da igreja e como Jesus lidava com elas. Tenho o livro de toda a história de terror que passei nos últimos anos para ser lançado no segundo semestre e um filme dessa história que está começando a ser construído.
Seria ingenuidade minha achar que todos irão me abraçar. Eu fui crucificado sendo inocente, imagina agora mexendo numa ferida da Igreja. Mas quem me ama vai estar comigo. Além do Mastral e MGL, creio que muitos outros virão para somar.
Então, em breve vamos falar abertamente de como nos conhecemos, nos aproximamos e tudo o que passamos nos últimos meses. Mas o Bruno De Simone, apesar de ser o oposto de mim, é alguém que tem um coração enorme, bom caráter e comprou minha briga, me defendendo quando eu mesmo nem tinha forças para fazê-lo. Acho que relacionamento é isso: companheirismo, cumplicidade e amor.
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