Gabriela LevinntReprodução
Eu resolvi largar tudo para tratar de uma depressão. Passei também por várias crises de ansiedade por conta de episódios que eu vivi nos bastidores da televisão. Sofri por uma exposição não tão legal e olha que não era aqueeeeela exposição porque eu nem era famosa, mas eu não queria mais ser vista daquele jeito. Fui fazer terapia, estudar e descobrir realmente quem eu era. Foi uma decisão bem pensada. Tive que sumir para me recuperar da imundície dos bastidores.
Eu falo de fofocas e principalmente de assédios sexual e moral que eu sofri durante os quatros anos que trabalhei no 'Pânico'. Entrei lá em 2012 e saí em 2018 e vi como era um ambiente machista e tóxico. Muita baixaria. Eu trabalhava no programa 'Legendários' e fui indicada por uma amiga para fazer uma participação no 'Pânico', onde eu aparecia nua no lugar do entregador de pizzas. Topei porque a nudez nunca foi um problema para mim e até que foi tranquilo porque todos me respeitaram e tudo saiu melhor do que esperavam. Passei a ser chamada para outras gravações e uma vez no intervalo de uma delas, um dos diretores me chamou para um reservado. Eu juro que achei que ele iria passar alguma coisa, uma dica ou me cobrar algo. Não levei na maldade mesmo, mas aí ele me agarrou e colocou o p** para fora. Praticamente me obrigou a fazer um bo***** e disse : 'se você quer aparecer mais, tem que colaborar'. Saí correndo, me mantive quieta o resto do dia e deixei para pensar o que iria fazer no dia seguinte. Decidi ver qual era a situação.
Percebi que aquilo era uma coisa rotineira e que todas as meninas eram assediadas. Das panicats mais famosas até as que só eram participantes de alguns quadro como eu era, todas eram assediadas sexualmente. Também fui vendo que as meninas que topavam 'colaborar' iam subindo, iam aparecendo mais nos programas, ganhavam destaques.
Sim. Nós éramos chamadas de p**** e vagabundas pelos diretores e pelos atores. Diariamente. Os únicos que nos respeitavam eram o Carioca, Ceará e o Emílio. O resto nos xingava direito. Eu não ligava muitos para os xingamentos e não me afetavam porque eu sabia que aqueles adjetivos não eram pra mim. O que me deixava irritada e possuída de ódio era ter que sair ou dar para alguém para ganhar um destaque no programa. Também não gostava quando passavam a mão na minha bunda. Era direto, eu ficava indignada.
Sm. Algumas meninas também comentavam abertamente sobre o que andavam fazendo nos bastidores. Uma vez, durante uma gravação do quadro 'A Igreja do Poderoso', eu fiquei apertada para ir ao banheiro e como eu não estava no set, saí para o alojamento. Quando cheguei a porta estava trancada e eu fiquei esperando um tempinho a pessoa sair. Não demorou muito e duas panicats saíram do toilet acompanhadas de um diretor famoso do programa.
Eu fiquei calada porque precisava daquele trabalho. O 'Pânico' não me deva dinheiro, mas me proporcionava fazer outros trabalhos fora da televisão como campanhas, desfiles para marcas, ensaios de biquíni e presenças vips e isso foi o que me tirou da pobreza. Eu sou de uma favela do Jardim Ângela, aqui de São Paulo, e consegui ganhar dinheiro com esses extras para sair de lá e poder ter uma vida melhor. Mas, quando eu saí do programa, eu briguei, xinguei e fiz um dossiê contando tudo que foi parar na direção. Soube que depois da minha última gravação, o ' Largadas e Peladas', algumas pessoas foram demitidas e dois meses depois o programa saiu do ar.
Porque me sinto mais forte agora em poder falar sobre esse episódio desagradável que vivi e também considero que a minha revelação seja uma forma de alertar as pessoas. Outro dia mesmo li que um produtor vem tentando atrair meninas para a televisão prometendo mundos e fundos em nome de um grande diretor da Globo. É um golpe velho, mas muitas mulheres ainda caem. Caem nas mãos de produtores e diretores fakes, como os verdadeiros também, que são esses grandões que aparecem na televisão. Elas passam por situações terríveis. Todo mundo quer ainda ficar muito famoso, mas não sabem o submundo da caminhada da fama.
Eu estou com 32 anos e trabalho com Instagram. Sou também microempresária com vendas de produtos para sobrancelha e estou montando um espaço beauty completo na zona sul de São Paulo.
Não tenho. Eu não entendia direito por que era tão xingada, julgada e recebia ofensas pelo meu trabalho. Cheguei a ser agredida fisicamente sem saber o motivo. Hoje, depois de muita terapia, eu consigo me blindar e não me abalar com as críticas. Sabia que na época de panicat ter um relacionamento amoroso era quase impossível? Nenhum homem queria namorar uma mulher que aparecia de biquíni na televisão e era chamada de 'p***' nas ruas e nas redes sociais. Fico pensando nessas participantes do 'De Férias com EX', que aparecem nuas e transando sem o menor constrangimento e só as panicats eram p****. Difícil, né? Só agora eu percebi que isso lá no fundo me abalava e eu não tinha ideia desse sofrimento. Sumi do mapa justamente para me fortalecer e ter a certeza de que tudo é um aprendizado.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.