Luarlindo Ernesto
Luarlindo ErnestoGilvan de Souza / Agencia O Dia
Por Luarlindo Ernesto*
Tudo quase começou quando surgiu na minha mente o Samba do Arnesto. Aquele, do melhor cronista da paulicéia desvairada, o Adoniran Barbosa, autor, também, do Trem das Onze, que ganhou o Carnaval
carioca de 1964, Lembram, agora, do Arnesto?
Pois bem, nas confusões em que Ernesto, o ex-chanceler, se meteu ao longo do período em que esteve como ministro, eu via o João Rubinato, vulgo Adoniran, cantarolando sua música. Parecia um vídeo que se repetia na minha mente. E, por inúmeras vezes, fui ao portão receber pão e o leite das mãos do motoboy, cantarolando a música.
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O motoqueiro chegou a perguntar se eu estava ensaiando. Em outro dia, perguntou se eu somente conhecia essa música. Sorri em resposta. Não consegui parar de cantarolar. Eu cheguei a pensar em procurar um psicólogo. Achei que era obsessão, ou sei lá o que poderia ser. Já tentaram consultar por telefone? É complicado. Desisti.
Entre ligações telefônicas de um amigo e outros - detesto o tal de zap - cheguei a comentar o problema. Claro que virou problema. O Fred, por exemplo, passou a me enviar, por e-mail, fotos da terra dele, a Suíça e, chegou a deixar na caixa do Correios, fitas com músicas tradicionais. Obrigado, amigo Fred.
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Não adiantou. A patroa reclamou, os gatos, ou melhor, gatas, me olhavam desconfiadas. Que período terrível. O Ibiapina comentou que poderia ser efeito da clausura, do confinamento, do medo da possível contaminação pelo vírus. Sugeriu escapadas regadas a cervejas e embutidos na casa do Fred. A Marita,
velha (?) amiga, jornalista de primeira, soube do problema e se ofereceu para me abrigar por uns dias na casa dela, "para ouvir Aznavour, ou Sinatra".
Cadê ânimo para sair de casa ? Amigos de Brasília me convidaram-me para passar dias por lá. Brasília? Confesso mais um trauma: será que aparecerá alguém receitando geosmina para covid ?

Esta semana, logo na segunda-feira, passei a ouvir (oh traumas) o prefixo das edições extras do falecido Repórter Esso, da também falecida TV Tupi. E que, amanhecia e as emissoras de rádios e televisões, daqui do Rio, começaram a bombardear a mente com as informações chegadas da capital. Olha o Arnesto aí,
novamente. Em seguida, bem em seguida, as notas de demissões, exonerações, desmentidos, lista de degolas, confusões, entra ministro, sai ministro, especulações, crise político militar, jogo de xadrez, xeque mate, confusão. Caramba, que pandemia. Não tirem as máscaras !
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Como? O homem mandou todos voltarem ao trabalho. A área médica do governo diz para manter isolamento. Pilatos ensinou o lava mãos. Lembram? Tome crise. Faz ou não faz. Ônibus cheios, trens e metrôs, também. Comércio quer funcionar. Ambulantes, também. Faltam leitos de UTIs e enfermarias. Acabam os estoques de medicamentos. Cadê as vacinas ? Anvisa aprovou a da Janssen ! Lista de mortos aumentando...
Bolas, sabem qual musiquinha eu ando cantarolando desde então ? Vou dar uma pista: Sérgio Marcus Rangel Porto, falecido em setembro de 1968, autor do samba Atual Conjuntura, música criada para uma peça do Teatro Rebolado, em 1966. Sim, a maioria dos amigos só lembra do amigo pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Então, vamos entoar a música? Pois é essa que está na parada de sucesso da minha mente.
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"Foi em Diamantina, onde nasceu JK..."