Luarlindo Ernesto - Histórias do LuarDaniel Castelo Branco

As imagens dos bombeiros na televisão fazendo varredura no Rio Botas, em Belford Roxo, na procura de corpos de três meninos desaparecidos, me trouxeram tristes lembranças. Andei em áreas terríveis na Baixada Fluminense, desde o final dos anos 1950, início dos 1960. Rodei por dezenas de centenas de quilômetros pelos Rios Guandu, Botas e outros afluentes que abastecem de água nossa cidade. Em todas as ocasiões, o assunto sempre foi o de presença de corpos humanos e ou de animais, naquelas águas sujas e poluídas.
Para que tenham ideia da terrível verdade, lembram da matança do Rio da Guarda? Foi no governo Lacerda, quando funcionários públicos inescrupulosos e criminosos, jogavam mendigos nos leitos desses rios e riachos que circundam a cidade do Rio de Janeiro. O caso foi batizado nos jornais na época como "Os Mata-Mendigos".
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O costume de criminosos, ou grupos de bandidos, de jogar mortos nesses mananciais é antiga. Hoje em dia, ficamos alarmados com a presença de bactérias, de geosmina ou outros vermes, nos deixam assustados. Mas, só ver a cor da água negra, parecendo petróleo, do Botas, revirada pelos soldados nas buscas das crianças, me deixou apavorado. Tanto pela violência quanto pela contaminação. Sem contar os sofás, fogões, geladeiras, pneus e esgotos descartados naquele rio.

Resolvi fazer uma enquete com amigos, conhecidos e, claro, com os vizinhos Tirei um plantão no portão e abordei, aleatoriamente, quem passasse pela calçada. Vejam as perguntas: Ficamos preocupados com a água que nos servem para beber? Ficamos revoltados com as informações de corpos de crianças e adultos jogados nas águas dos rios? Pedi respostas curtas e grossas, sem delongas e sem discursos. Ih, quase teve discussão política. Mas, controlei a situação. Como? Servi umas cervejas mas, avisei que o produto não usava as águas do Guandu. É aquela que tem uma estrela vermelha no rótulo, sabem? Por pouco virava festa.

Anotei, discretamente, os votos. Afinal, foi uma consulta simples para problemas sérios. Não separei classes sociais, sexo, grau de instrução, preferência política e religiosa. E nem mesmo de futebol. Quem ganhou? Difícil avaliar. Mas, as pessoas se mostraram mais preocupadas com a qualidade da água. A violência - os corpos atirados nos rios - perdeu em proporção alarmante.
A violência perdeu feio. A proporção foi de 10 para 4. Incrível. Eu, particularmente, torcia para dar empate. Perdi. Detalhe para leitores: a contaminação da água pela geosmina, veio a público em janeiro de 2020. Enquanto a triste maneira de se descartar corpos humanos nos rios que cercam a cidade, é mais velha do que andar pra frente. Em alguns casos, andar para trás.

A rodada de cerveja que ofereci, foi um ardil para atrair os eleitores. Digamos que foi um incentivo. Deu certo. Entretanto, omiti que, desde janeiro de 2010, quando o abastecimento da Cedae começou a dar mostra de crise, passei a usar água mineral. Amigos, não lembram que já contei que, na Serra dos Pretos Forros, bem aqui em frente, tem a fonte de água mineral? Pois é a água que uso para beber e cozinhar. A outra, serve para molhar plantas, lavar o carro, lavar roupas, tomar banho (depois borrifo álcool). E ainda tenho sistema de aproveitamento da água das chuvas. Não tentei o poço artesiano. Quem sabe um dia...
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Quanto à violência, é preciso educar os jovens para não ter que punir os adultos. Ah, sem discussões, por favor.