Do tempo do início do rádio no Brasil, os noticiários, novelas, comerciais e etc e tal, já se vão 100 anos. Não sou tão antigo mas, ainda sou da época em que ouvir o Repórter Esso, acompanhar o Direito de Nascer e aturar a Voz do Brasil diariamente eram quase obrigação. Bem, uns 28 anos depois da primeira transmissão. Vocês se lembram de algum desses? Nós usávamos Guaraína, para combater as dores de cabeça. Por falar em cabeça, tínhamos o Gumex, para segurar o penteado que, com o produto, resistia às ventanias, passando pela Brilhantina. Ah, Emulsão de Scott, fortificante da melhor qualidade.
Até 1922, era proibido ter aparelho de rádio. E, depois que foi autorizada a posse dos aparelhos, teve o tempo que o cidadão pagava imposto. Não sei se havia clandestinos que não pagavam. Mas, a partir de 1923, com a inauguração oficial da Rádio Sociedade, ter o receptor era coisa de gente mais abastada.

Anos mais tarde, com o modismo das rádios nas casas, se os amigos passassem pelas ruas, iriam ouvir a voz do personagem Albertinho Limonta, pela potente Rádio Nacional, na hora da novela O Direito de Nascer. Ou, só dava a voz do Eron Domingues, anunciando as últimas notícias no Repórter Esso. O engraçado era que o povo construía as imagens dos "donos" das vozes que nos chegavam pelas ondas das transmissões.
Aí, começavam os anúncios, as cantoras e cantores (tínhamos as Rainhas e Reis do Rádio), as preferidas das forças armadas (Emilinha Borba e Marlene), e os astros Chico Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas, e outras e outros que surgiram ao longo do caminho. Todas e todos endeusados em todo o país, do Oiapoque ao Chuí. E chegaram as revistas especializadas em mostrar os "artistas", como eram chamados a partir dos anos 40 e 50.

Claro que estou adiantando o relógio do tempo. Não teria espaço para falar das primeiras transmissões experimentais, desde 1910, até 1922 (7 de setembro, centenário da Independência), em Recife, passando por transmissão em 1923, no Rio (pela atual Rádio MEC), com a voz do presidente Epitácio Pessoa. Temos, ainda, o surgimento dos humoristas, dos programas de auditórios (o povo podia ver os artistas), e nunca esquecer que a aviação comercial ainda recebia ajuda das transmissões radiofônicas ao longo dos estados.
Os pilotos escutavam as transmissões e, pelos prefixos, informados pelos locutores, podiam ter certeza de que estavam no caminho certo. Lembrem-se que não existiam radares. Viajar de avião pelo litoral era mais fácil. Mas, isto é outra história. Não esqueçam que, até os dias de hoje, ainda uso o radinho de pilhas, que custou R$ 20 (comprei no trem), que me auxilia todas as manhãs, quando ouço noticiários.. Caramba!
Quase esqueci dos fãs-clubes das cantoras e cantores, criados nos idos de 1950. Me disseram, na verdade um vizinho me contou, que ainda existem alguns bem atuantes. Devo confessar que sou fã, até hoje, da Elizete Cardoso. Lembro até do último LP lançado por ela, meados dos anos 70, no Bola Preta. Eu estive lá, trabalhando. Não sou saudosista, acreditem. Vejo TV, também.