O frio congelante aqui na caverna, madrugada insone, me obrigou a usar o aquecedor de ambiente. O que atraiu as duas gatas, Yunne e Katrina. Claro, 16º lá no quintal e, aqui, no abrigo, 31º. Mas, cadê o sono? Então, eu me lembrei do velho aparelho de vídeo K7. E, em seguida, o filme Casablanca. Lembram? Com Humphrey Bogart e a diva Ingrid Bergman? Ele é o aventureiro Rick, cínico e amargo dono do Café do Rick, um antro noturno na cidade que dá nome à trama. Um filme espetacular, gênero drama romântico, recheado de contrabandistas, espiões nazistas, notívagos, guerra da Espanha e ao início da II Guerra Mundial. Bem, não devo contar mais. Tudo tá lá, no filme, para todos conhecerem ou recordarem. O caso é que a madrugada passou, o dia amanheceu, eu não consegui dormir. Pulei da cama quentinha e fui cuidar da vida.
Primeiro, as medicações matinais. Depois, o lanche. Por último, o quintal. Afinal, o José Hélio, amigo lá da Tijuca, quer detalhes (e fotos) da área. Acho que ele vem parar por aqui qualquer dia desses. Já me disse que quer ver a passarinhada se fartando nas frutas. Bem, comecei a varrição. Neste pedaço do mundo, o vento é forte e quase constante. Consequentemente, as folhas das árvores não param de cair. Por outro lado, fico exposto aos vizinhos. Melhor gravar fita com o "bom dia" diplomático. Tenho receio de não ser compreendido. A tarefa diária, que poderia durar uns poucos minutos, acaba se alongando por mais de uma hora. Não falta conversa. E, atendo a todos.
— Bom dia, Luar. Pode me conseguir uma muda de cidreira? — Tem boldo? — Tem fruta de conde madura. Se não colher, vai esborrachar no chão. Posso pegar? — As bananeiras estão demorando a dar frutos. Tem aguado bem?
Vez por outra, desconverso. Engreno assunto do final dos anos 1800. Tipo: — Lembra do cabo submarino, que ligou a Inglaterra aos Estados Unidos por sinais de morse? Não tínhamos a internet...
Posso está desafiando a mente dos amigos. Vão dizer que estou esclerosado. Mas, me divirto com as fisionomias que surgem com os assuntos que tento emplacar.
Vocês não imaginam as respostas do arco da velha que recebo. Ah, quase esqueci dos mascates que passam a todo instante. Tem quase congestionamento. Vou confessar um detalhe, ou dois: costumo usar um fone de ouvido. Somente um. Bem discreto. É para ouvir as notícias, via um pequeno rádio de pilhas. O radinho custou R$ 15, no camelô de trem da SuperVia. Deixo o aparelho no bolso da bermuda. O outro ouvido, o desocupado, é para ouvir os vizinhos. Ainda carrego o telefone sem fio e o celular. Tudo longe dos olhos dos amigos. Afinal, sou um ser da comunicação.
Quando o assunto chega à política ou futebol, finjo que não escuto. Nem quando frequentava o Bar do Gordinho (infelizmente o bar fechou). Bolas, eu ia ao bar para beber cervejas e conversar educadamente. Nada de paixão ou extremismo. E, assim, me porto até hoje, nos papos na porteira da caverna. Detalhe: quando falta assunto, procuro lembrar aos amigos que a pandemia não acabou. E, diariamente surgem doenças contagiosas que se alastram mundo afora. A última, acredito, é a tal da varíola dos macacos.
Engraçado, ou infelizmente, muitos nem sabe que, no Egito foram sete as pragas. Enquanto isso, atualmente, perdi a conta.
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