O presidente da ABI, Paulo Jerônimo de Souza, o "Pagê"Arquivo ABI
Com 81 anos de idade, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo de Sousa, o Pagê, já foi repórter, copy-desk, colunista e editor, além de assessor de imprensa da Prefeitura do Rio, do Governo do Estado e do BNDES. Em abril, o jornalista foi homenageado pela Alerj com a Medalha Tiradentes. Em entrevista a O DIA, ele destaca a importância da ABI para a democracia. "Ficamos meses pensando com os editores de grandes jornais uma forma de driblar isso e decidimos retirar os veículos dali", lembra ele sobre a decisão de acabar com a cobertura da imprensa ao "cercadinho" do Palácio Alvorada, em Brasília, após ataques a jornalistas.
O DIA: Qual o balanço da atuação da ABI nesses 114 anos de existência?
PAGÊ: Foi na ABI que nasceu a campanha "O petróleo é nosso", por exemplo. A Petrobras nasceu aqui, como o impeachment do Collor. Na minha gestão procuramos manter essa linha direta com as liberdades. E, nesses três anos do atual governo, até entramos com pedido de impeachment. Costumo dizer que é uma luta permanente. A ABI foi criada para estar na linha da história e garantir a luta constante pela liberdade de imprensa na sociedade.
De que forma a pandemia atingiu a ABI?
A pandemia, foi um desastre, principalmente porque, com o esvaziamento do Centro do Rio, onde o nosso prédio fica, nossas receitas acabaram sendo muito afetadas. Nós chegamos a ficar devendo aluguel – lá tinham três empresas de cursinhos para concursos. Nossa prioridade era sobreviver. Pouco antes de eu tomar posse, tivemos um trabalho para reinventar o Rio de Janeiro, no qual treinamos 1.200 jornalistas que estavam desempregados. É preciso um grande trabalho para acompanhar essa revolução da comunicação.
Desde 2015, o Brasil ocupa a 105° posição no Ranking de Liberdade de Imprensa. Como o senhor analisa isso?
O governo Bolsonaro foi o pior nesse sentido. Quando o presidente, no início da pandemia, no cercadinho, em Brasília, atacava a imprensa, nós dizíamos: "Isso é um circo para ofender jornalistas". Ficamos meses pensando com os editores de grandes jornais uma forma de driblar isso e decidimos retirar os veículos dali. Fizemos até uma nota pedindo a renúncia dele quando ele ofendeu jornalistas mulheres — tivemos 400 visualizações no site, nosso recorde de audiência. Além disso, na CPI da Pandemia, por exemplo, vimos um trabalho incansável dos jornalistas. Um sucesso.
Como a associação vem atuando no combate às fake news, em ano eleitoral, principalmente?
Nós participamos ativamente dessa discussão. Estamos juntos com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem um grupo de trabalho contra fake news. Além disso, entramos em grupos da Câmara e do Senado. Mas esse combate, para ganhar força, depende muito do governo, não só da sociedade. No entanto, vemos o bolsonarismo tentando barrar propostas importantes no Congresso de criminalização das notícias falsas.
Qual será o futuro da imprensa?
Sem dúvida, os jornais vão ter que se readequar. Vários já tiveram que fechar suas portas. Lá fora, o The New York Times e o Washington Post, por exemplo, estão ótimos. No Rio, já perdemos grandes veículos, como a revista Manchete e o Jornal do Brasil. Hoje, a revolução tecnológica obriga a imprensa a se adaptar: antes, você tinha mais tempo para fazer matérias elaboradas; hoje, a apuração não pode ser tão longa, tem que correr. É bom ver comunicadores envolvidos e dispostos a se transformarem e acompanharem a evolução, como o Felipe Neto.
Em março, o senhor recebeu a Medalha Tiradentes da Alerj. O que isso representa?
Foi uma emoção muito grande, uma honra. Para a ABI, foi um reconhecimento imenso da sociedade brasileira para o trabalho árduo. Também conquistamos o prêmio de empresa do ano na área de comunicação. É o equivalente ao Prêmio Esso de Jornalismo. É o reconhecimento de um trabalho de 114 anos sem interrupções. Hoje, a ABI está enfrentando as fake news, o retrocesso político e democrático. Estamos na luta pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos.
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