Coordenadora da Agência de Inovação da UFRJ, Kelyane da SilvaDivulgação
Nesta segunda-feira será comemorado o Dia da Inovação na UFRJ e uma amostra dos projetos desenvolvidos pela universidade estará em exposição. O evento conta com apresentações da reitora, Denise de Carvalho, e de representantes de instituições que investem no saber e no empreendedorismo, como o presidente da Firjan. Coordenadora da Agência de Inovação da UFRJ desde maio de 2021, Kelyane da Silva é doutora em propriedade intelectual pelo INPI. Em entrevista a O DIA, ela explica em que consiste a inovação, fala sobre a importância da troca de saberes entre universidade e mercado, e traça um panorama geral sobre esse processo no Brasil.
O DIA: Como você definiria inovação em geral e no contexto das universidades?
KEYLANE: Costumo usar muito um conceito de um professor da UFPE, que define inovação como a emissão de mais e melhores notas fiscais. Ela ocorre nas empresas, que desenvolvem novos produtos e processos para serem adquiridos pela sociedade. Mas isso não significa que outros atores não sejam importantes: são as universidades que formam alunos com capacidade de desenvolver novas tecnologias no mercado privado. Além disso, há os NITs — núcleos previstos na lei de inovação, com o fim de transmitir o conhecimento das universidades às empresas.
Qual é o papel de uma agência de inovação em uma universidade?
A agência é um NIT. Ela deve proteger o conhecimento gerado dentro da universidade por meio da propriedade intelectual e o transferir à sociedade, a partir de parcerias, prestação de serviços, e até mesmo transferências de know-how e patentes.
Em que campos a inovação acontece na UFRJ?
A UFRJ incentiva inovação em todas as áreas. Como é uma das universidades mais antigas do país, e a maior federal, incentivamos a geração de conhecimento para desenvolvimento da sociedade em todos os campos. Ou seja, desde a tecnologia a áreas sociais: englobamos óleo, gás, sustentabilidade, saúde — e também as belas artes, por exemplo.
Qual é a importância das universidades para a inovação em geral?
A universidade desenvolve muito conhecimento em nível nacional e mundial: novas pesquisas, novos protótipos. A UFRJ, por exemplo, tem pesquisadores reconhecidos e tem condições de desenvolver novas invenções, que podem ser transferidas para empresas e, então, se transformarem em produtos. Na pandemia, vimos que as principais soluções de problemas complexos vieram de conhecimento gerado nas universidades, seja no desenvolvimento de vacinas ou na atuação de profissionais qualificados na linha de frente.
Em que tipo de projeto da UFRJ já se destacou?
Temos vários exemplos de sucesso. Uma interação muito benéfica para a sociedade brasileira foi o desenvolvimento da exploração de pré-sal. Temos aqui a Coppe, uma grande referência que atua principalmente no setor de óleo e gás. Ela fomentou o conhecimento gerador para, em conjunto com a Petrobras, fundamentar essa descoberta. O boom do pré-sal contou também com outras universidades, mas a UFRJ tem o diferencial do Cenpes, que promove a interação com o mercado.
O que pode ser feito para impulsionar o Brasil em termos de inovação?
Este é um grande desafio, porque requer um conjunto de atores, para além das universidades ou empresas. A exemplo dos países desenvolvidos, o Estado atua diretamente no incentivo da inovação — normalmente, por meio de políticas industriais e tecnológicas, direcionando investimentos para alcançar objetivos enquanto nação. Outras formas são os incentivos fiscais e financiamentos, por agências como Finep e CNPq, que fomentam pesquisas. Inovar custa caro, o que representa risco — e incentivos públicos atuam nessa variável. Além disso, há o fator da incerteza, já que sempre há a possibilidade de, ao final de muito trabalho e pesquisa, o resultado almejado não ser alcançado. Outro ponto é que precisamos incentivar muito o setor corporativo a ter um olhar mais estratégico para a propriedade intelectual no Brasil, pois quem mais produz patentes é a universidade.
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