Antonio Florêncio de Queiroz Junior, presidente da Fecomercio-RJ - Alexandre Macieira
Antonio Florêncio de Queiroz Junior, presidente da Fecomercio-RJAlexandre Macieira
Por Sidney Rezende
Na presidência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro – Fecomércio RJ desde abril de 2018, Antonio Florencio de Queiroz Junior vê o setor passar por uma das maiores crises da história, com a pandemia do novo coronavírus, que ocasionou a morte de 190 mil pessoas no país e viu muitos comerciantes fecharem as portas com o isolamento social necessário. Nesta entrevista, Antonio Florencio diz o que espera de 2021. "Em toda e qualquer discussão sobre esta pandemia, a prioridade absoluta é, claro, a saúde pública. Mas é possível, também, ver com bons olhos que 2021 pode ter na vacina um caminho para fazer a economia andar – leia-se, a capacidade de gerar empregos. E o emprego, não me canso de ressaltar, é o melhor programa social que existe. Há uma série de demandas represadas, investimentos congelados, planos adiados que podem, enfim, voltar a ganhar fôlego no ambiente de negócios do país".

Este foi um ano difícil para todos. O que o senhor destaca como exemplo de resiliência do seu setor?

Foi um ano difícil para todos, sem exceção, no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo. Tivemos que aprender, em curto espaço de tempo, a lidar com uma situação sem precedentes na história contemporânea mundial. Na cidade do Rio de Janeiro, foram quase 100 dias de comércio fechado, alguns negócios operando apenas com vendas por delivery. O setor do comércio de bens, serviços e turismo reúne mais de 314 mil estabelecimentos, que respondem por 2/3 da atividade econômica do estado e representam 68% dos negócios, gerando mais de 1,6 milhão de empregos formais no total, que equivalem a 60% dos postos de trabalho com carteira assinada no estado do Rio de Janeiro. Acredito que o maior exemplo de resiliência apresentado pelos empresários foi percebido a partir da reabertura da economia. A união de todos os segmentos em prol dos protocolos de segurança, seguidos rigorosamente pelo setor. Vejo que as Regras de Ouro já foram incorporadas ao DNA dos empresários, isso é muito positivo para a segurança dos trabalhadores e da população. É com muito orgulho que posso dizer, estamos dando exemplo.


O senhor lutou muito pelo entendimento das autoridades do estado e do município do Rio com o setor que lidera. Qual o saldo deste esforço? O que deu certo e o que poderia ter sido melhor?

Desde o primeiro minuto do fechamento do comércio, a Fecomércio RJ buscou um entendimento com o poder público, na esfera Estadual e Municipal. Lideramos diversas tratativas, realizamos dezenas de reuniões, sempre com o objetivo de mitigar os impactos da pandemia no comércio de bens, serviços e turismo. Durante este período, incentivamos ações de apoio ao comércio, seja com a produção de pesquisas feitas pelo Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises, que auxiliaram os empresários em muitas tomadas de decisão, assim como através de nossa equipe jurídica, que apresentou mais de 36 pleitos às autoridades, conquistando êxito em 19 deles. Por tudo que observamos, creio que o comércio de rua poderia ter retomado suas atividades um pouco antes. Todos já estavam comprometidos com as orientações de segurança para a reabertura, como restrição de pessoas nos ambientes, disponibilização de álcool em gel e medição de temperatura na porta. Em função da demora, muitos empresários não conseguiram suportar e encerraram suas atividades, aumentando assim os índices de desemprego no estado. Outra dificuldade foi o acesso ao crédito, que poderia ter colaborado na sobrevivência de muitos negócios.

O que esperar de 2021?

Em um momento em que o número de vítimas fatais da Covid-19 no Brasil chega a 190 mil, já é possível ter conclusões para além dos aspectos médico e sanitário desta terrível pandemia. Uma delas é que um país também é capaz de ficar doente, infelizmente. É certamente enfermo um país que convive com um recorde de mais de 14 milhões de desempregados (14,6% da população economicamente ativa, conforme dados do terceiro trimestre), com inflação ensaiando apresentar alta e com a população dividindo-se entre a expectativa do boom do pós-vacina e a necessidade de lidar com os graves e urgentes problemas de manutenção, no dia a dia, dos negócios e dos empregos. Assim como em relação às vidas humanas, a vacina contra a Covid-19 também será providencial para a economia do país. Em toda e qualquer discussão sobre esta pandemia, a prioridade absoluta é, claro, a saúde pública. Mas é possível, também, ver com bons olhos que 2021 pode ter na vacina um caminho para fazer a economia andar – leia-se, a capacidade de gerar empregos. E o emprego, não me canso de ressaltar, é o melhor programa social que existe. Há uma série de demandas represadas, investimentos congelados, planos adiados que podem, enfim, voltar a ganhar fôlego no ambiente de negócios do país. E não falo aqui apenas de grandes corporações. Isso vale tanto para IPOs na Bolsa de Valores quanto para o pequeno comerciante que tinha planos de expansão e, óbvio, preferiu não arriscar em 2020. Ou, aqueles que infelizmente perderam emprego e renda na pandemia e, agora, esperam algum tipo de oportunidade com a retomada econômica. As vacinas devem servir como gatilho para o otimismo com dias mais próximos da normalidade. Afinal, a vacina é a notícia que queríamos ouvir desde que percebemos que a pandemia era muito mais do que um jargão das autoridades sanitárias.

Um novo prefeito assume em janeiro, qual a principal demanda que o senhor gostaria de levar para Eduardo Paes?

Temos trabalhado muito no combate ao comércio ilegal, tanto de produtos piratas, como os de origem ilícita. Outro grande desafio é o crescimento desenfreado da informalidade, que aumentou substancialmente na pandemia, pois milhares de pessoas perderam seus empregos. Ambos são desafios complexos, que afetam muito os empresários que geram empregos formais, renda, pagam impostos e fazem a economia girar. São questões que demandam um olhar atento e consciente da gestão municipal.

A necessidade de geração de emprego é urgente. Qual a sugestão que o senhor pode dar para a economia crescer no nosso estado?

Além do comércio de bens e serviços, que são a porta de entrada do primeiro emprego, precisamos que haja um plano estratégico para o fortalecimento do fluxo turístico. O estado do Rio de Janeiro é a porta de entrada do turismo nacional, porém perdemos um pouco do brilho ao longo dos últimos anos. É necessário um trabalho conjunto das entidades, dos municípios e do governo estadual com foco na promoção dos destinos fluminenses e na Segurança Pública em nosso estado. Nossa vocação para o turismo é inigualável, com lindas serras, um interior pujante, um litoral sem igual no mundo. A cadeia de empregos gerados pelo turismo é colossal. Atinge desde o setor de serviços (transportes, beleza, alimentação, lavanderias, bares, pontos turísticos etc.), como o comércio de rua e de shoppings, assim como os produtores locais, a cultura, enfim toda a cadeia produtiva.

Se o senhor fosse listar as 5 prioridades mais urgentes do Comércio, quais seriam?

Precisamos enfrentar alguns desafios urgentes. O primeiro e mais danoso é o comércio ilegal. Recentemente, nós do Sistema Fecomércio RJ e a Secretaria de Estado da Polícia Militar unimos forças em uma campanha educativa para a conscientização da população sobre as consequências e riscos de estimular e financiar o mercado ilegal. Os impactos negativos não se restringem ao comércio, grande gerador de empregos e arrecadador de impostos, mas à vida de todos os cidadãos. Mercadorias vendidas clandestinamente nas ruas têm origem em ações criminosas, muitas com uso de violência, como roubos de carga e roubos de ruas. Na sequência, podemos listar a informalidade, o roubo de cargas, segurança pública e a transformação digital do comércio. Atenta às tendências e com o objetivo de oferecer uma solução simples e eficiente, a Fecomércio RJ firmou uma parceria com a Convem, empresa dedicada à criação de lojas online. Ao acessar o site http://www.fecomercio-rj.org.br/lojaonline e seguir o passo a passo indicado, rapidamente será possível ingressar no ambiente virtual com o seu negócio e potencializar suas vendas de forma prática e rápida.

Os setores do comércio e de serviços precisam de boa sintonia com a indústria e demais fornecedores. Alguns gargalos constatados em 2020 podem ser desobstruídos em 2021?

Acreditamos que com diálogo poderemos superar as adversidades. A Fecomércio RJ trabalha com esse objetivo. Foi um ano muito difícil para todos, mas de certa forma, aprendemos algumas lições e certamente estaremos mais bem preparados em 2021.

Qual a sua aposta de retomada econômica no Rio de Janeiro?

Assim como destaquei acima, o Turismo pode ser nossa mola propulsora. Poucos estados possuem uma infraestrutura de aeroportos, hotéis, serviços e natureza como o Rio de Janeiro. Temos que trabalhar melhor esses atributos, criar incentivos, realizar campanhas e tudo que possa atrair turistas nacionais, nosso primeiro e talvez mais importante público nesse momento, e posteriormente, os mercados internacionais. Sempre seguindo os protocolos de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).