Wladimir Garotinho
Wladimir GarotinhoCésar Ferreira
Por Sidney Rezende
O prefeito Wladimir Garotinho (PSD), 36 anos, governa a maior cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes. Filho de dois ex governadores e prefeitos da cidade, Rosinha e Anthony Garotinho, Wladimir foi deputado federal e agora enfrenta o maior desafio de sua vida pública: governar um município "falido e abandonado nos últimos 4 anos" em uma crise sem precedentes na saúde, agravada pela pandemia do coronavírus. Mesmo diante das dificuldades, com tom conciliador e considerado um workaholic, Wladimir é otimista e promete escrever uma nova história para Campos. Em entrevista ao jornal O Dia, o prefeito falou como está o trabalho para enfrentar a covid-19. "Além das vacinas que recebemos do governo para imunizar a população, assinamos um protocolo de intenções para a compra de mais vacinas", disse. E entre os projetos de seu governo está a reabertura do restaurante popular. "Vai ser muito importante nesse momento de dificuldades com a pandemia, com muita gente passando por momentos difíceis".
Prefeito Wladimir, o senhor assumiu a Prefeitura de Campos em um momento muito difícil: com muitos problemas e poucos recursos, se levar em consideração que Campos já foi um dos maiores orçamentos do país. Que balanço o senhor faz destes primeiros meses de governo?
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São três meses de muito trabalho, avaliação e planejamento. Assumi um município onde a conta não fecha e só as dívidas com os servidores, que não receberam o mês de dezembro e o décimo terceiro salário, somavam mais de R$ 106 milhões. Mas eu não abri mão do mandato de deputado federal para ficar apenas reclamando. Estou buscando recursos nos governos estadual e federal, fazendo parcerias com a iniciativa privada e conseguindo emendas parlamentares. Já reabrimos unidades de saúde que estavam fechadas. Vamos reformar o Hospital Geral de Guarus que atende grande parte da população de Campos. Estamos em obras para reabrir o Restaurante Popular, que vai ser muito importante nesse momento de dificuldades com a pandemia, com muita gente passando por momentos difíceis. A cidade está ganhando um novo aspecto de limpeza urbana, com o aumento do efetivo das equipes de rua. Iniciamos o programa “Estradas do Produtor”, permitindo renda e empregos ao homem do campo que precisa escoar sua produção. Enfim, são muitas frentes de trabalho para construir uma nova história para uma cidade que estava abandonada.

No primeiro momento, como foi lidar com o cenário de tantas dificuldades?
Durante a campanha, já imaginava que seria um grande desafio, mas ao assumir a prefeitura vimos que a situação era ainda pior. Chegamos na Secretaria de Fazenda, por exemplo, e a situação me preocupou bastante, pois não encontramos nenhuma informação, um verdadeiro “apagão”, sem nenhuma série histórica de dados. Encontramos apenas R$ 2,9 milhões disponíveis nos cofres da Prefeitura para toda a despesa. Graças a Deus, aos poucos, estamos vencendo os desafios, vamos pagar 15 folhas em 12 meses. Até agora, além de pagar janeiro e fevereiro, pagamos o 13º dos aposentados e o mês de dezembro de todos os servidores, que foram deixados pela gestão passada em atraso.

Logo nos primeiros dias de governo, o senhor iniciou um mutirão no município, que estava parado. Como conseguiu iniciar os trabalhos em meio a tantas dificuldades?
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Na verdade, iniciamos duas frentes de trabalho, porque a cidade estava abandonada. Era lixo, mato e buracos por todos os lados. Começamos com a equipe de limpeza atuando em vários bairros e uma Operação Tapa-Buracos para melhorar as condições das vias. Criamos um programa inovador chamado “Programa Amigo da Cidade”, onde tanto a população como empresários podem participar com materiais ou serviços. Lançamos o edital de chamamento público, os interessados procuram a prefeitura e a resposta tem sido positiva, porque tem muita gente querendo ajudar o nosso município acreditando que é possível as parcerias renderem bons frutos.
Hoje a palavra de ordem entre governos é parceria. Como funcionam as parcerias no município?
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Exatamente! Essa é a palavra de ordem. Temos parceria em todas as esferas. Logo no início do mandato, me reuni com o governador Cláudio Castro para estreitar o relacionamento entre Estado e Município, visando o desenvolvimento de Campos. Também firmamos parceria com os Ministérios da Saúde, da Mulher, Família e Direitos Humanos, da Cidadania, Ministérios da Infraestrutura e Agricultura, além do DNIT e INCRA. No âmbito estadual firmamos parceria com o DER para recuperação de estradas e ruas. Sem falar nas parcerias regionais com o Senai, Sesc e com a iniciativa privada, porque eu acredito que ninguém faz nada sozinho.
Como é a relação do governo com as instituições filantrópicas de Campos?
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Uma relação de respeito e com diálogo permanente. Antes de assumir como prefeito de Campos, ainda como deputado federal, destinei recurso para quase todas as instituições do município. O repasse da nossa gestão, que a prefeitura faz hoje, está em dia, tudo seguindo o fluxo normal. Existem débitos da gestão passada que estão sendo apurados e serão auditados.
A saúde em Campos é apontada como um dos grandes problemas que se arrastam há anos, principalmente quando se fala em hospitais públicos e privados. O que o senhor tem feito para melhorar o quadro encontrado?
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Encontramos todos os equipamentos sucateados e sem dinheiro em caixa. Consegui com o governador Cláudio Castro, uma verba de R$ 76 milhões para custeio na área da saúde. Nos dois primeiros meses, reabri duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) que estavam fechadas. Através do Programa Amigo da Cidade, a Prefeitura de Campos recebeu doação de material de construção para reforma de duas Unidade Pré-Hospitalar (UPH) e, ainda, reabri o Centro de Referência de Atendimento à Mulher, que voltou a oferecer testes rápidos para doenças sexualmente transmissíveis como hepatite B, Sífilis e HIV. Reativei o Conselho Municipal de Saúde, que estava parado há dois anos, um órgão fiscalizador e regulador não pode ficar desativado. Aos poucos, vamos reativando os serviços que estavam parados e, assim que for possível, também vamos reformar o Hospital de Guarus.
A contaminação pela Covid-19 aumenta em todo país. Como o senhor está trabalhando para conter essa pandemia?
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Essa é uma questão muito delicada e que afeta a todos nós. Não é fácil, mas estamos fazendo a nossa parte. Criamos um Gabinete de Crise, reunindo várias secretarias e a sociedade civil organizada, para discutir e avaliar semanalmente a situação. Além das vacinas que recebemos do governo para imunizar a população, assinamos um protocolo de intenções para a compra de mais vacinas contra o coronavírus. Conseguimos 10 leitos de UTI para o Centro de Combate ao Coronavírus, através de convênio com a Prefeitura de Duque de Caxias, que cedeu os equipamentos por seis meses sem ônus para Campos. Agora, conseguimos alugar mais 10 leitos de UTI elevando a 130 leitos para Covid em Campos. O município já conta com 185 leitos clínicos para Covid. Com isso, a média do número de leitos UTI para Covid em Campos está acima do que preconiza a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Ainda dentro da pandemia, outra questão é quanto à Educação na rede pública, se retornam ou não às atividades. Como o governo está conduzindo a questão?

De imediato, fiz o lançamento do Programa de Aprendizagem Eficiente (PAE) em parceria com universidades e órgãos municipais, durante o evento de Abertura do Ano Letivo de 2021. Na solenidade, anunciei o envio à Câmara de Vereadores de projeto de lei que altera o atual modelo de regência para os professores, de modo a beneficiar a categoria na modalidade de aulas não presenciais, devolvendo a estes profissionais o benefício que havia sido retirado. A ideia inicial era retornar as aulas em um modelo híbrido, mas não foi possível. Precisamos preservar a saúde dos profissionais de ensino e dos alunos.

Nestes três meses de governo, o que já mudou de fato no município?
Aos poucos, a cidade vai ganhando cara nova, ficando mais bonita, mais alegre. A população está vendo que estamos trabalhando para mudar o caos que foi instalado ao longo dos últimos quatro anos no município. Hoje a cidade está mais limpa, estamos reabrindo unidades de saúde, ampliando a oferta de atendimento aos campistas e preparando o município para um novo tempo. Não vai ser fácil, eu sei, nunca disse isso, mas é possível mudar. Estamos construindo uma nova história.

Quais são as metas para os próximos meses?
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As obras do Restaurante Popular estão praticamente prontas. Devido à situação em que o município se encontra, com 100% dos leitos de UTI ocupados por pacientes que contraíram a Covid-19, ainda não marcamos a data para a inauguração. O Restaurante Popular, que foi fechado pelo governo anterior, vai oferecer refeições a cerca de 2 mil pessoas, sendo almoço e sopão no final da tarde. Precisamos amenizar a situação de milhares de famílias que não têm o que comer. Reformaremos o Hospital Geral de Guarus (HGG), que recebe pacientes de Campos e região e, ainda, reabriremos algumas Unidades Básicas de Saúde fechadas há anos. Vamos inaugurar o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM) e ampliar o apoio ao pequeno produtor. Temos muitos planos, mas o planejamento de todos os gestores tem sido dificultado pelo avanço da pandemia. Peço a Deus sabedoria, discernimento e força para enfrentar esse momento tão difícil para todos nós e que Ele console a todos que perderam algum ente querido para o coronavírus.