Danielle Barros
Danielle BarrosPhilippe Lima
Por Sidney Rezende
Funcionária de carreira da educação do Rio de Janeiro, Danielle Barros é professora, contadora de histórias, ativista e gestora cultural. Está há pouco mais de um ano à frente da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. Regulamentou o Fundo Estadual de Cultura após 22 anos e modificou a política de projetos culturais financiados com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, com foco na diversificação do incentivo para projetos e projeção da cultura nos 92 municípios do estado. Mestranda em Educação no Campo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, também atuou em todo estado do Rio como Delegada Federal de Desenvolvimento Agrário, conhecendo todos os 92 municípios e suas particularidades. Fui subsecretária de Cultura do Município do Rio antes de assumir a Cultura do Estado. Nesta entrevista ao jornal O DIA, Danielle falou sobre os desafios da secretaria no pós-pandemia. "Estamos criando um calendário de eventos junto com outras secretarias, que contempla ações em todo estado. Também estamos retomando convênios com o Governo Federal para a liberação de recursos, como o programa Cinema na Cidade, para construir cinco complexos exibidores no interior", contou.
Quando será possível retomar as atividades culturais no estado do Rio?
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É importante destacar que a cultura se reinventou com a pandemia. Vivemos da aglomeração de pessoas e tivemos que migrar para ambientes controlados e utilizar a internet. Hoje temos peças, musicais, atrações diversas acontecendo nas plataformas digitais. Estamos, como todos, aguardando o avanço da vacinação, mas criando formas. Assim foi com o Edital Cultura Presente Nas Redes, que premiou 1500 artistas para apresentações online no estado do Rio, além da Aldir Blanc, fundamental ao socorro dos nossos artistas, que mostrou como a cultura é criativa, pulsante e acontece em todos os locais, com as devidas adaptações. No primeiro trimestre deste ano, atividades presenciais chegaram a ser autorizadas, o que significou uma abertura para a realização de exposições, monólogos teatrais, shows e até visita à Biblioteca Parque Estadual, tudo com muito controle. Podemos dar continuidade a essa transição, mas sempre obedecendo às recomendações científicas.
Com a falta de eventos culturais, como a secretaria tem trabalhado nesse mais de um ano de pandemia?
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Um cenário desafiador. Assumi em dezembro de 2019 e pouco mais de dois meses veio uma pandemia, que mudou completamente a vida de todos, especialmente a cultura, setor mais impactado. Desde o primeiro momento, arregaçamos as mangas, apoiamos os artistas com o gabinete humanitário, atendendo coletivos culturais que do dia para a noite ficaram sem sustento. Atendemos mais de 30 cidades com doação de cestas básicas, livros, poesia, kits de higiene e limpeza, realizamos programas de leitura para quem estava em isolamento, demos apoio técnico para formulação e apoio nos editais e propostas de efetivação de políticas culturais mais democráticas. Seja presencialmente ou em home office, eu e minha equipe nos desdobramos, seguindo os protocolos de saúde, trabalhando diariamente, com perdas familiares, como tive, mas seguimos. É por isso que falo que a cultura não parou necessariamente, ela se reinventou.

Quais os desafios da secretaria de Cultura no cenário pós-pandemia?
A secretaria tem muito a realizar no cenário pós-pandemia e já estamos trabalhando para essa nova realidade. Estamos criando um calendário de eventos junto com outras secretarias, que contempla ações em todo estado. Também estamos retomando convênios com o Governo Federal para a liberação de recursos, como o programa Cinema na Cidade, para construir cinco complexos exibidores no interior. Precisamos encarar o grande desafio de lidar com essa nova demanda de eventos e espetáculos online, que será algo permanente daqui para frente. Teremos muitos eventos realizados de forma híbrida, com público junto e é necessário criar os protocolos que garantam total segurança para os artistas e o público.
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Que iniciativas estão sendo feitas para gerar emprego no setor e ajudar na recuperação econômica do estado?
Quando lançamos um edital como o Cultura Presente nas Redes, que nós premiamos para apresentações virtuais, garantimos o sustento das pessoas. Com a Aldir Blanc, foram 2300 projetos no estado, possibilitando renda para o fazedor de cultura e movimentando a economia. Estamos encontrando maneiras criativas de garantir emprego e renda, uma vez que um projeto cultural quase sempre envolve pessoas da economia criativa. Investimos mais de R$ 200 milhões somente em 2020 no setor cultural, com recursos do Fundo, Aldir Blanc e também da Lei de Incentivo. É importante destacar que o patrocínio a uma peça de teatro não contempla apenas os atores, mas cenógrafo, iluminador, técnicos dos bastidores que também trabalham. Nosso papel tem sido fomentar a arte, que com ela vem o emprego de mais pessoas. Também iniciamos um cuidado maior com a recuperação do Patrimônio Histórico do estado, o que é um importante vetor de estímulo ao turismo. Como é notório, esse é um setor de enorme potencial para a geração de empregos.
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O Carnaval deste ano foi cancelado e ainda não se tem certeza sobre se haverá condições de realizar os desfiles de escolas de samba e blocos em 2022. Como a secretaria pode auxiliar esse setor?
O maior espetáculo da Terra já teve um primeiro investimento da secretaria de cerca de R$ 5 milhões para 103 projetos beneficiados pela Lei Aldir Blanc ligados à indústria do carnaval. São escolas de samba e blocos da capital e do interior que receberam essa ajuda e atenderam com isso toda uma cadeia de profissionais, como músicos, aderecistas, passistas, cenógrafos, coreógrafos, entre outros. Agora com os editais de Carnaval, que chamamos de “Não Deixa o Samba Morrer”, vamos apoiar a indústria, vital para a economia do Rio. Vamos abrir nesta segunda (26), a chamada pública que vai injetar mais R$ 4 milhões na economia do estado para apoiar o setor carnavalesco que é fundamental para o Estado. Estamos falando de empregos, mas também de um verdadeiro patrimônio do estado, fundamental para a retomada cultural e dos eventos. Vamos patrocinar atrações online para escolhas de samba e atrações musicais para blocos, ligas, escolas e associações. E estamos na torcida para que seja possível a realização dos desfiles em 2022.
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Como a lei Aldir Blanc tem auxiliado profissionais do setor?
A Lei Aldir Blanc foi um alento muito significativo para o setor cultural. Temos orgulho de ter apoiado a aprovação do projeto no Congresso e de sermos a terceira secretaria do país, sendo a primeira do sudeste, que melhor executou os recursos transferidos no país. No último balanço feito pela Secretaria Especial de Cultura, ficou demonstrado que executamos 99,6% dos R$ 105 milhões destinados ao estado. Foram 2.400 projetos beneficiados, que atenderam milhares de profissionais, além da renda emergencial para 1699 profissionais da cultura. Também temos que ressaltar a importância dos eventos online para o público, que pôde mesmo de casa matar a saudade dos espetáculos e shows.
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Quais são as prioridades da sua secretaria para este ano?
É o cuidado com os nossos artistas, com os profissionais da cultura. Sem eles, não temos a arte, tão importante para nós. Para isso, estamos criando maneiras e uma das nossas prioridades é possibilitar uma maior democratização da Lei de Incentivo à Cultura do estado para que os recursos cheguem aos fazedores de cultura de todo o estado de forma mais descentralizada. Já demos o primeiro passo com o aumento de 40% no investimento ao interior. Ano passado, atendemos mais de 60 cidades com 86 projetos, cenário diferente de 2019, onde foram projetos concentrados na capital. Estamos atualmente com o nosso sistema Desenvolve Cultura aberto que lá os projetos culturais podem ser inscritos. Estamos cuidando da casa, dos convênios, e criando políticas culturais de acesso e formação de plateia como o Passaporte Cultural RJ, que vai permitir a pessoas de baixa renda que nunca visitaram um equipamento cultural ter essa experiência. Outra vertente importante do nosso trabalho é a retomada de convênios federais, como o Padec e o Pontos de Cultura, que também podem levar recursos para os municípios fluminenses.
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Como socorrer os artistas desamparados que, neste momento, não têm dinheiro para o seu sustento e da família?
O governador Cláudio Castro tem uma grande preocupação com o setor cultural e tem auxiliado o socorro ao fazedor de cultura apoiando todas as iniciativas da secretaria, e nós temos priorizado a política de fomento à arte de forma democrática. Retomamos a política de realização de editais, sempre desburocratizados, regionalizados, permitindo que todo estado seja contemplado. Estamos criando a nossa Escola da Cultura, para ajudar na formação de profissionais em diversas vertentes culturais e também na instrução ao uso do fomento e pensando em política pública para favorecer o artista e a economia criativa da cultura, que é pulsante, rica e gera emprego e renda para o estado.