Clarissa Garotinho Luciano Belford/Agência O Dia

A deputada federal Clarissa Garotinho está de malas prontas para deixar o PROS, onde está desde abril de 2018, e seguir para o PSL muito em breve. Segundo a parlamentar, "as conversas estão avançadas para que esse seja, sim, o meu destino e o do meu pai, o ex-governador Garotinho". Mas, por enquanto, não é o destino de toda a família. "Meu irmão Wladimir, prefeito de Campos, não disputa as próximas eleições, então não há necessidade de ele entrar em discussões sobre definições partidárias este ano", explicou. Nesta entrevista à coluna, Clarissa falou também sobre o caminho para o desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro no pós-pandemia. "Quanto mais rápido vacinarmos a população, mais rápido conseguiremos seguir em frente. Também no plano nacional, com reflexos na economia do Estado do Rio, é importante aprovar a Reforma Tributária, certamente a mais importante das reformas", disse. "Precisamos resgatar as vocações regionais, investindo principalmente na Baixada Fluminense e no interior", completou.
O PSL é o destino de toda a família Garotinho?
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As conversas estão avançadas para que esse seja, sim, o meu destino e o do meu pai, o ex-governador Garotinho. Meu irmão Wladimir, prefeito de Campos, não disputa as próximas eleições, então não há necessidade de ele entrar em discussões sobre definições partidárias este ano. No meu caso, meu atual partido, o PROS, fez uma intervenção na direção estadual, contrariando o seu próprio estatuto, mas há males que vêm para o bem. Isso abriu caminho para que novas possibilidades surjam, como o PSL, um partido grande. E vamos consolidá-lo como a maior legenda do estado.
Quais seus planos para as eleições de 2022? Tentará reeleição ou uma volta para a Alerj?
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Ainda é muito cedo para essa definição. Tudo vai depender se meu pai vai conseguir reverter na Justiça os danos causados a ele, por causa da perseguição que sofreu após denunciar o grupo do ex-governador Sérgio Cabral à Procuradoria Geral da República. Foi algo muito sério. Para você ter uma ideia, o grupo de Cabral e Picciani intercedeu, inúmeras vezes, em partidos políticos onde tinha influência para tentar impedir que minha família ingressasse em seus quadros. Só nos restaram as legendas menores. Em 2022, o cenário será outro: o PSL tem um bom tempo de TV e a estrutura necessária para uma disputa mais justa. Além disso, é importante lembrar que eu tenho uma trajetória própria na política. Isso também será levado em consideração na hora de uma definição.
Como a senhora tem avaliado a atual gestão do prefeito Eduardo Paes?
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Estamos em um ano muito atípico. Eduardo Paes assumiu no meio de uma pandemia e com a prefeitura devendo até décimo terceiro salário. Então, esse tipo de avaliação fica um pouco prejudicada, para sermos justos. Isso não impede, porém, de pontuarmos algumas coisas. Paes prometeu reabrir o restaurante popular da Central do Brasil, para atender toda aquela população flutuante que passa fome no entorno. Esse tipo de iniciativa é pra ontem, não dá pra esperar. Ele também prometeu diminuir imediatamente as filas do BRT, e isso ainda não aconteceu. Prometeu acabar com as linhas fantasmas que obrigam o morador da Zona Oeste a passar mais de uma hora esperando por um ônibus. Então, a única avaliação que posso fazer é a de que a atual gestão está respondendo de maneira muito lenta às necessidades urgentes da cidade.
Como resolver o problema das milícias, que atuam no Rio de Janeiro?
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O Rio de Janeiro tem que resolver o grave problema do domínio de seu território por quadrilhas, sejam elas milícias ou não. Essa situação se deve em parte à ausência do Estado. É preciso ser firme no combate à criminalidade, mas de nada adiantará a firmeza da polícia se o Estado não fizer o seu dever de casa, investindo em inteligência, na modernização do aparelho policial e também em políticas públicas essenciais para a recuperação dos territórios: saneamento; construção de creches, escola e postos de saúde; entre outras coisas. Precisamos cuidar das pessoas verdadeiramente.
Diariamente vemos casos de violência ou desrespeito contra a mulher. Como a senhora avalia o espaço da mulher na política e como é possível avançar mais?
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A política ainda é um ambiente muito machista, mas estamos avançando bastante em algumas questões nos últimos anos. Essa mudança de mentalidade se deve a vários fatores, mas, de imediato, cito dois. Primeiro, conseguimos estabelecer a obrigação de partidos destinarem 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres. Em 2018, o efeito disso foi um aumento de 55 para 77 deputadas federais eleitas. Outro motivo é a força que a bancada feminina está conseguindo, no melhor estilo “ninguém larga a mão de ninguém”. Foi por causa dessa união que nós, as parlamentares, conseguimos aprovar leis, nos últimos dois anos, cada vez mais inibidoras da violência doméstica contra a mulher. Esse é um tema que me sensibiliza muito. Quero cada vez mais contribuir para melhorar essa legislação, proporcionando igualdade plena de direitos entre homens e mulheres.
Nos últimos dias, vimos cenas de violência do DJ Ivis contra a ex-mulher. Qual a explicação para os inúmeros casos de agressão contra a mulher e feminicídio e como diminuir esses índices de forma objetiva?

As cenas de violência desse DJ são completamente repugnantes. Acho que isso se deve à herança machista, patriarcal, que ainda tem resquícios sérios no Brasil. Mas é necessário mais do que indignação. A gente conviveu com casos famosos como o de Angela Diniz, Eliza Samudio, Sandra Gomide, sem discutir com a devida profundidade como evitar isso. Um passo importante é parar com a cultura de culpabilização da vítima. Outro é investir cada vez mais em políticas públicas que protejam a mulher. Nesse sentido, a Lei do Feminicídio, em 2015, foi um marco importante. No Congresso, venho participando de discussões que fazem a questão avançar, mas cabe a todos os Poderes essa tarefa. Do Executivo, por exemplo, deve-se cobrar a implantação de mais Delegacias da Mulher, principalmente no interior e em regiões mais desassistidas. Do MP, é necessário cobrar eficiência na fiscalização dos serviços. Enfim, ainda há muito o que fazer.
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Qual é o caminho para o desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro no momento de pós-pandemia?
A principal é a vacina. Quanto mais rápido vacinarmos a população, mais rápido conseguiremos seguir em frente. Também no plano nacional, com reflexos na economia do Estado do Rio, é importante aprovar a Reforma Tributária, certamente a mais importante das reformas. Sou membro titular da Comissão da Reforma Tributária do Congresso e defendo a reforma 3D: desburocratizar; desonerar a carga tributária; e distribuir melhor as receitas, de uma forma que estados e municípios recebam uma fatia maior, porque são eles que cuidam da vida do cidadão. Um outro fator que será determinante é a continuidade do auxílio emergencial. Especificamente no Estado do Rio, precisamos resgatar as vocações regionais, investindo principalmente na Baixada Fluminense e no interior. São Paulo é forte porque o interior do seu estado é forte. No Rio, não pode ser diferente. Precisamos também buscar acordos justos com o governo federal, afinal de contas a cidade do Rio já perdeu muito quando deixou de ser a capital do país. E as contrapartidas que deveríamos ter recebido nunca vieram. E mais: o regime de recuperação fiscal foi péssimo para o Rio. Deveria ser chamado de regime de dependência fiscal.