Há cerca de 6 meses, Cauã saiu de casa, com uma mochila e poucas roupas e nunca mais foi visto. Ele morava em São Gonçalo e sonhava em ser DJ. Familiares e amigos realizam buscas para encontrar o adolescente Arquivo Pessoal

O sonho do adolescente Cauã Wendel Silva de Oliveira, de 15 anos, de seguir a carreira como DJ (Disc Jockey) para embalar festas e eventos acabou se tornando um pesadelo para família. Há cerca de 6 meses, Cauã saiu de casa, no bairro do Rocha, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, com uma mochila nas costas, levando poucas roupas e a ideia fixa na cabeça. Contudo, jamais retornou ou deu notícias.
A falta de informações sobre Cauã deixou familiares e amigos apreensivos. Eles iniciaram buscas em diversos pontos da cidade, além de hospitais, clínicas, abrigos e Institutos de medicina legais. O caso foi parar na polícia e passou a ser investigado por agentes do Setor de Descobertas de Paradeiros (SDP) da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Região. adolescente estava sem aparelho celular.
Cauã está matriculado no 9º ano do ensino fundamental, no Instituto de Educação Clélia Nanci, em São Gonçalo, onde cursava correção de fluxo. Segundo a coordenação pedagógica da escola, o estudante estava assistindo, regularmente, às aulas de forma online, e, até o desaparecimento, comparecia, nas datas previstas, para recolher as apostilas. “Tivemos pouco contato presencial, no entanto, o Cauã sempre mostrou cordialidade e interesse nas atividades propostas”, disse a coordenadora Ana Maria de Amorim Quintanilha, que fez o acolhimento à família e auxilia nas buscas.
Cauã não apresentava problemas de saúde, tampouco tomava remédios controlados ou teria se envolvido em conflitos familiares, de acordo com depoimentos de parentes. A hipótese de ter sido aliciado por estranhos também não foi descartada. O adolescente já havia saído de casa, mas sempre retornava ou, quando demorava, costumava informar o paradeiro. O caso também está sendo acompanhado pelo Conselho Tutelar da região.
‘Quanto mais o tempo passa, a dor aumenta’
Comunicativo e educado, Cauã tinha muitos amigos e, conforme familiares, gostava de passar grande parte do dia ouvindo música. Do gosto musical teria nascido a ideia de trabalhar como DJ. Para avó paterna, a aposentada Isaura Cardoso de Almeida, de 62 anos, o vazio da casa, a saudade e o passar do tempo só fazem aumentar a dor da ausência do neto, que passou a morar com ela após a separação dos pais.
“Quanto mais o tempo passa, a dor aumenta. Ele saiu de casa na manhã do dia 24 de junho e nunca mais voltou. Parece que foi ontem. Foi sem avisar ou dar pistas para onde iria. É um menino educado e gostava de pedir a minha benção antes de sair. Estamos ‘sem chão’. Ele estava bem. Vivenciou o trauma pela morte da mãe, há 6 anos, mas estava se tratando e levava a vida com normalidade. Estou com o coração apertado, pois, quando chega o Natal e as festas, só penso nele”, disse, emocionada, a avó.
Família continua com as buscas 
Imagens de câmeras da região estão sendo analisadas. Correndo contra o tempo, as buscas continuam sendo feitas por familiares com apoio de amigos e colegas do adolescente. Solicitamos à Polícia Civil do Rio de Janeiro informações obre o caso, mas, até o fim desta edição, ainda não obtivemos repostas. Informações sobre o paradeiro do adolescente Cauã Oliveira podem ser repassadas ao Disque-Denúncia (2253-1177) ou ao SDP da Delegacia de Homicídios em Niterói, São Gonçalo e Região (2719-2949).

Desaparecimentos de adolescentes têm maior número de registros, segundo Ministério Público
De janeiro a outubro de 2021, foram registrados 3.268 registros de desaparecimentos de pessoas em todo Estado do Rio de Janeiro, conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Baixada Fluminense lidera em número de casos no estado, com 1.017 ocorrências, seguido da Zona Oeste e Norte do Rio, que juntas somam 80. A Região Metropolitana e dos Lagos registraram, no mesmo período, 433 sumiços.
De acordo com dados do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, o desaparecimentos de adolescentes, entre 12 a 17 anos, correspondem a aproximadamente 30% dos casos registrados.
Conflitos familiares e aliciamentos pelas redes sociais têm sido recorrentes
Conflitos familiares e aliciamentos pelas redes sociais têm sido os gatilhos recorrentes nos desaparecimentos de adolescentes, nos últimos meses, segundo Luiz Henrique Oliveira, gerente do Programa SOS Crianças Desaparecidas, da Fundação para Infância e Adolescência (FIA).
Oliveira, reitera, no entanto, que, tanto os conflitos quanto a exposição excessiva na web devem ser analisados de forma multifatorial, pois não envolvem só as famílias, mas deve ser visto como um problema social, onde as soluções passam pela participação das instituições especializadas e de toda sociedade.
“Tanto os conflitos familiares quanto a exposição sem controle na web, quando não administrados, têm sido os principais motivadores dos desaparecimentos de adolescentes. Contudo, não podemos apenas achar que é um problema de família, mas analisar de forma criteriosa e ampla. As soluções passam pela participação de diversos atores sociais”, explica Luiz Henrique, que ressalta a necessidade do diálogo franco entre pais e filhos, sobretudo quando o uso indiscriminado da internet pode colocar as crianças e adolescentes em riscos.
Lei da Busca Imediata garante o registro de ocorrência
Não é necessário esperar 24 horas para registrar o desaparecimento de uma criança ou adolescente. Conforme a lei, o usuário deve procurar imediatamente a delegacia de polícia civil mais próxima a sua residência para registrar ocorrência. A Lei Federal 11.259/2005 determina a investigação policial imediata em casos de desaparecimento de crianças e adolescentes.