Sambistas vacinados retomam seus projetos. Na foto, Tia Surica em sua casa.banco de imagens O Dia

Rio - “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil…” O Rio de Janeiro completa 457 anos nesta terça-feira de Carnaval e, apesar das mazelas que ainda persistem na capital, quem é carioca ama e tem recordações bonitas pela ruas da cidade. Por isso, O DIA celebra a data e convida cinco artistas cariocas da gema para compartilhar seus lugares queridinhos por aqui. Eles resgatam lembranças e afetos de diferentes partes da cidade.
Tia Surica e o amor pelo Carnaval

Para abrir a lista, uma lenda viva da cultura popular carioca. Nascida e criada no Rio, Tia Surica não abandona Madureira por nada. O ícone da Portela tem 81 anos de vida, sendo mais de 70 dedicados ao Carnaval. Não é à toa que seu lugar favorito no Rio é a Avenida, é o Sambódromo, é onde está o Carnaval.

“Daqui eu não saio de lugar nenhum… A lembrança que eu tenho é do Carnaval. Eu fico 365 dias aguardando a data de fevereiro, mas como esse ano vai ser em abril, estou na expectativa de passar na Marquês de Sapucaí. Tenho um afeto muito grande por lá”, conta.
Luana Xavier e o afeto por Sepetiba
Carioca raiz, a atriz Luana Xavier ama explicar que Sepetiba, onde nasceu, não é uma cidade, mas, sim, um bairro da Zona Oeste do Rio. Como todo morador de lá, já usou ônibus, trem, metrô e o que for necessário para atravessar a cidade e correr atrás dos seus objetivos. Para ela, que usa sua carioquice como cartão de visitas, o melhor lugar do Rio é, claro, Sepetiba.
“Poderia falar dos lugares que frequento agora, mas escolho falar da minha infância e adolescência. Sepetiba é meu lugar no mundo, é onde realmente me sinto em casa. Tenho orgulho em dizer que meu bairro tem praia, vila de pescadores, resistência cultural e um povo absolutamente batalhador, que mesmo sem nenhum projeto vigente de mobilidade urbana, se vira em mil para atravessar a cidade e trazer o pão de cada dia para casa”, diz.
“Minhas melhores lembranças em Sepetiba, sem dúvidas, estão ligadas às religiões de matriz africana. Nossa festa de Yemanjá na Praia do Recôncavo, ou Praia Dona Luiza para os íntimos, é um marco. Mistura todo tipo de gente e coloca qualquer Copacabana no chinelo”, completa.
Luís Lobianco e a boemia da Lapa
O ator Luís Lobianco já morou em todas as regiões da cidade. Depois de nascer em Vila Isabel, passou pelo Leblon, Barra e Lapa. É nesse último que o coração dele bate mais forte. “O meu lugar no Rio, que digo que é o meu lugar no mundo, é a Lapa. Morei lá durante 10 anos. Primeiro, na Rua dos Inválidos e, depois, no Bairro de Fátima”, diz.

“Mas, antes disso, tenho as melhores memórias da infância, de ir à Rua da Alfândega bater perna o dia inteiro com minha avó e depois tomar suco de laranja com pastel. Durante a escola de teatro, no ano 2000, era na Lapa que a gente fazia todos os nossos encontros, que eu assistia os artistas, as pessoas que são importantes para mim. Tanto os artistas do Circo Voador, da Fundição Progresso e dos grupos de teatro da escadaria Selaron, mas também os artistas da noite, como Rose Bombom, Suzy Brasil e Laura de Vison”, conta.

“Depois, quando fui morar na Lapa, primeiro lugar que morei sozinho, vivi intensamente. Fixei minha cia de teatro no Buraco da Lacraia e vivi aquilo ali com a maior paixão do mundo. Hoje, já não moro mais lá, moro no Jardim Botânico, mas ainda é o lugar que vou sempre, onde estão meus amigos, encontro a cerveja mais gelada, que tem a feira que mais gosto, que tem o melhor aipim... Quando estou fora do Rio e sinto saudades, é da Lapa que me lembro”, completa.
Moacyr Luz e a multiplicidade do Rio
Escolher um só lugar para o sambista Moacyr Luz é uma tarefa difícil. Comandante do tradicional Samba do Trabalhador, o músico enxerga a cidade como um espaço “múltiplo em atrações e seduções”, pois em cada cantinho dela, o carioca e o turista pode descobrir “um recanto bonito”.
“Atualmente, tenho uma intimidade grande com o parque do Aterro do Flamengo. Acredito, inclusive, que esse pedaço da cidade não foi descoberto pelas pessoas. Muita gente passa de carro numa velocidade grande e não identifica um local de descanso e divertimento, que tem sombras para sentar e fazer um piquenique com os amigos. Gosto muito desse canto da cidade”, começa.
“Gosto muito também da Pedra do Sal e do Largo São Francisco da Prainha. Remete a ancestralidade, mexe com igualdade social, questões delicadas, sentimentos e reflexão da história do Rio”, finaliza.
Alinne Prado e as lembranças da Ilha
Nascida e criada na Ilha do Governador, Alinne Prado vive atualmente na ponte aérea Rio - São Paulo por causa do "TV Fama", programa que apresenta diariamente na RedeTV! Ao olhar para o passado, recorda-se com carinho das lembranças familiares, vivências, alegrias e tristezas presenciadas na cidade. 
"Foi onde cresci, aprendi a sambar ainda criança, casei em um bloco de carnaval, constituí família, vivi as mais felizes e também as mais terríveis lembranças. O Rio é realmente o purgatório da beleza e do caos... Já morei em diversos lugares, mas o mais memorável para mim é a Ilha do Governador, bairro onde vivi até os 20 anos. Até hoje, quando sonho que estou voltando para casa, sonho com esse bairro", diz.