Mel Lisboa dá vida à enfermeira Annie Wilkens em 'Misery', espetáculo baseado em suspense de Stephen Kingfotos Divulgação

Rio - Com uma carreira repleta de personagens marcantes e completamente diferentes entre si, Mel Lisboa assume um novo desafio na adaptação de um suspense de Stephen King para o teatro. Após uma temporada em São Paulo, 'Misery' estreia nesta sexta-feira no Teatro Firjan Sesi, no Centro do Rio, e mostra a relação "esquisita" entre uma fã e seu ídolo, prometendo cenas impactantes e uma reflexão sobre relacionamentos tóxicos.
Assim como a obra original, lançada em 1987, o espetáculo segue a história do renomado escritor Paul Sheldon, conhecido por uma série de livros protagonizados pela personagem Misery Chastain. O conflito se inicia quando o autor, interpretado por Marcello Airoldi, sofre um grave acidente de carro e é socorrido pela simpática enfermeira Annie Wilkens (Mel Lisboa), que se apresenta como sua maior fã. Ao invés de levar Sheldon ao hospital, a jovem decide aprisioná-lo em sua casa, uma fazenda isolada, onde começa um jogo perigoso de obsessão.
Desafios da nova versão
Nos últimos 30 anos, o romance de Stephen King ganhou várias releituras para outros formatos, como quando a norte-americana Kathy Bates levou o Oscar de melhor atriz, em 1991, por sua atuação como Annie no cinema. Para Mel, dar vida à enfermeira na versão dirigida por Eric Lenate se mostrou um verdadeiro conflito. "Não podia me deixar influenciar e levar pela qualidade excepcional do trabalho da Kathy para não fazer o que ela fez. Essa não era a proposta", explica a gaúcha.
"Eu pensei bastante na forma de trazer para Annie um corpo e uma fala que remetesse a uma mulher do campo, um pouco mais embrutecida por morar sozinha em uma casa de campo, tendo que lidar com tudo sozinha. É uma enfermeira também e lida com os pacientes nesse interior. Ela tem um traquejo, mas também não tem uma delicadeza exatamente. Ela tem uma alternância muito grande de humores, não é simples de ser feita. Buscamos fazer de uma forma que fosse crível mesmo. Em uma cena, ela está muito feliz e empolgada e, na outra, ela já está gritando, arrastando móvel... Isso é uma dificuldade", confessa.
Com a adaptação de Claudia Souto e Wendell Bendelack, o diretor do espetáculo procurou fugir dos estereótipos que marcaram Annie Wilkens em outras versões de 'Misery', como a atriz destaca: "Lenate quis trazer essa coisa mais ambígua da personagem, tirando a coisa soturna que ficou marcada na nossa cabeça nessa personagem. [Ele] quis trazer uma Annie mais solar, mais alegre e divertida. Isso causa um sentimento paradoxal nas pessoas a medida em que a história vai se desenrolando. Já criamos uma empatia por ela e aí criamos um conflito como espectador quando ela começa a fazer certas ações. Pensamos o porquê de eles estarem agindo das formas que eles agem".
Interpretando uma personagem tão complexa, Mel entende os questionamentos que o público pode ter durante a peça, principalmente aqueles que estiverem tendo seu primeiro contato com a relação formada entre Paul Sheldon e a enfermeira. "Ela é a que melhor retrata o que a gente leva para o palco. Não sabemos bem se ela está cuidando dele ou se está prendendo aquele homem ali. Você não sabe de fato se ele pode gostar dela ou se ele a odeia. Essas dúvidas que pairam permeiam todo o espetáculo. E também é a relação que poderia ser bacana e feliz, mas não é assim que as coisas se desenvolvem. O relacionamento vai ficando cada vez mais tóxico, agressivo e esquisito", opina a artista.
Retorno aos palcos
Chegando ao Rio de Janeiro para uma temporada que se estenderá até o dia 5 de junho, 'Misery' também marca o reencontro de Mel Lisboa com o público. Durante a pandemia do coronavírus, a atriz participou de espetáculos transmitidos pela internet e chegou a estrear em seu primeiro solo, na peça 'Madame Blavatsky', com direção de Márcio Macena e texto de Claudia Barral. Agora, a artista comemora o retorno aos palcos e o contato com os espectadores.
"A experiência tem sido gratificante. Eu gosto muito de fazer teatro, acho fundamental estar no palco e ter essa troca com a plateia. Você vê que as pessoas saem felizes do teatro, eu também fico muito feliz e satisfeita", comenta ela, que ganhou reconhecimento nacional ao protagonizar a minissérie "Presença de Anita" (2001), na TV Globo, e se prepara para retornar à telinha como a vilã de "Cara e Coragem", folhetim que substituirá "Quanto Mais Vida, Melhor" na faixa das 19h, a partir de maio.
Com alta expectativa para a temporada carioca, a atriz relembra a surpresa que teve durante a exibição de 'Misery' em São Paulo, desde sua estreia no dia 4 de fevereiro. "Existe uma imagem muito forte do filme e para quem leu o romance e criou suas próprias imagens e narrativas. As pessoas, que já viram o filme e leram o livro, os fãs de Stephen King, adoram ver uma outra versão daquele texto que eles gostam tanto."
"Foi legal ver também muita gente indo ao teatro pela primeira vez. É muito gratificante saber que tem pessoas saindo de suas casas para ir ao teatro pela primeira vez. Teatro é um lugar em que a gente corre riscos. E as pessoas também resolvem se arriscar, sair das suas casas para ver uma história e ser arrebatados por essa história", reflete Mel Lisboa.
SERVIÇO:
Misery - Estreia dia 8 de abril no Teatro Firjan Sesi.
Endereço: Av. Graça Aranha, 1 – Centro. Tel: 2563-4163

Temporada de 8 de abril a 5 de junho

Sextas, às 19h. Sábados e domingos, às 18h.

Ingressos: R$ 40