Érico BrásRonald Santos Cruz

Rio - Consagrado como um grande nome do humor brasileiro, Érico Brás estreia no horário das seis na nova novela da Globo, “Mar do Sertão”. A trama, que estreia dia 22 de agosto, substituindo “Além da Ilusão”, é ambientada no sertão brasileiro, afetada pela seca e domínios de terra. Dentro desse enredo, o ator dará vida ao jornalista Eudoro Cidão. Ao O DIA, Érico conta um pouco sobre o personagem e o prazer de voltar a gravar após a pandemia.
“É muito bom estar de volta às telas, depois de um período tão conturbado. Voltar a gravar com os colegas nos Estúdios Globo é como reviver. É a prova que a gente sobreviveu a esse momento tão difícil. E nada melhor do que a arte para sarar e fechar essa ferida que ficou na humanidade, que foi a pandemia”, começa Érico.
ENREDO
“Eu ganhei esse presente na novela das seis, que é um horário muito gostoso, que é fazendo o Eudoro Cidão. Ele é um jornalista dessa cidade fictícia, Canta Pedra, e por ser dono de jornal, dono da mídia local, tem um certo envolvimento com a política e com tudo que acontece ali. Então pra mim está sendo um prazer fazer esse personagem que tem um certo poder, mas que não deixa de ser um bajulador, um cara que vai pra onde dá bom pra ele”, explica o ator, que também contracena com um veterano da comédia.
“Eu tô jogando muito com o Welder Rodrigues, que é o prefeito de Canta Pedra, o grande Sabá Bodó, que é meu amigo de ‘Zorra’, a gente fez muita coisa juntos. Então a comédia desse núcleo da gente está bem garantida, a gente está se divertindo muito gravando e enlouquecendo os diretores e o autor com ideias”, disse.
A expectativa de Érico para a estreia de “Mar do Sertão” é a melhor possível, pois acredita que a trama será bem recebida pelo público. “Eu acho que o público vai se surpreender. Tem muito tempo que não tem uma novela assim, com uma cidade fictícia e personagens tão marcantes. A gente tem uma coisa que é muito importante nessa novela que é um elenco que tem propriedade no sotaque, no jeito de falar. Não estou dizendo que Canta Pedra é um reflexo do nordeste brasileiro não. Mas tem muita coisa que existe na novela que são de vários nordestes. Então eu acho que o público vai se surpreender com os personagens, com os atores novos que estão chegando, com essa propriedade da linguagem. A história é muito gostosa, divertida, curiosa, questionadora, e eu acho que a gente está carecendo de uma história assim na novela das seis”, conta.
PAPEL SOCIAL
Eleito um dos "100 Negros Mais Influentes do Mundo", no Mipad 2018 (Most Influential People of African Descent), Érico Brás reflete sobre a importância de seu personagem ter um papel de destaque na trama, fugindo ao esteriótipo dado aos homens negros de subserviência. “Tem um reconhecimento de uma luta histórica que é muito importante. Há pouco mais de dois meses a gente perdeu Milton Gonçalves, que foi um grande batalhador. Antes dele a gente teve Ruth de Souza que se foi também. E outros artistas que estiveram na Globo, no cinema, no teatro, dizendo: ‘A gente pode fazer outros personagens porque a gente faz parte da sociedade brasileira’”, relembra o ator.
“Não tem problema ser um limpador, ser um garçom, porteiro, não tem problema. O problema é que história está se contando em relação a esses personagens. Então quando a gente vê um Eudoro Cidão, que é dono do jornal, que tem um determinado poder, a gente vê duas coisas importantes: o reflexo da luta e o interesse da Rede Globo em atingir a diversidade que a gente tanto fala e trazer pra tela a diversidade. Essa novela tem muito da diversidade brasileira, então eu acho que é um grande avanço”, explica Érico.
Nascido em Salvador, Érico começou a fazer teatro aos 8 anos. Trabalhou em diversas profissões até se juntar ao Bando de Teatro Olodum, onde despontou com a peça "Ó Paí, Ó", que virou filme e posteriormente série homônima na Globo, marcando sua estreia na televisão. E grande parte da representatividade consumida pelo ator vem do Olodum, e ele relata sua importância.
“A Bahia realmente é diferenciada. O Bando de Teatro Olodum nasce dentro do Olodum. É uma companhia de dança, teatro, música, de tudo. E aí o Michael Jackson chega no Brasil e vai para a Bahia. Ele entende que ali é um lugar onde tem a maior preservação da cultura africana no Brasil. E ali é onde nasce tudo. Então o Bando de Teatro Olodum tem uma importância política. Os artistas negros bahianos, para além de terem o seu talento, eles tem uma consciência política que é necessária, ainda mais no Brasil que a gente está vivendo agora. A consciência política é vital”, ressalta.
VERSATILIDADE
Com passagem em todo tipo de produto audiovisual, Érico foi apresentador do "Se Joga", na TV Globo, de 2019 até 2021, e participou do remake da “Escolinha do Professor Raimundo”. Ainda na dramaturgia, deu vida a Jader na novela "A Lei do Amor" e fez muito sucesso na série "Tapas e Beijos" como Jurandir, um dos seus personagens mais marcantes que conquistou o público. Para o ator, a única diferença entre essas produções é a linguagem, pois tudo é arte.
“Eu não sou só um ator, eu sou um artista. Eu faço diversas coisas. E com o tempo que eu tenho de carreira me sinto à vontade para fazer tudo que me vem na mente. E acho que a arte está precisando desse sopro. Eu lancei recentemente um álbum que compus na pandemia, terminei de escrever um livro infantil que vai ser lançado em breve, estou escrevendo coisas para o cinema. Acho que o que difere mesmo é a linguagem, e eu me sinto muito à vontade de correr por dentro dessas linguagens”, afirma.
Embora já tenha feito de tudo um pouco em mais de 15 anos de carreira, Érico ainda tem um sonho artístico para realizar. “Em tanto tempo de televisão, ainda não protagonizei nada. Ninguém teve a coragem de me entregar o protagonismo de nada. E essa é uma vontade minha”, conclui.