Planet Hemp lança novo álbum depois de 22 anos Divulgação

Rio - O Planet Hemp está de volta de forma decisiva ao cenário nacional com um novo álbum, o primeiro após um hiato de 22 anos. “Jardineiros” chegou às plataformas na última sexta-feira e mostra que a banda manteve seu discurso combativo. E apesar de a energia da indignação ser o que move todas as reflexões propostas pelo grupo, o projeto de inéditas tem como missão semear ideias, visões e utopias.


“O Planet Hemp faz parte da necessidade das nossas vidas de se expressar. A gente achou que nunca mais iríamos fazer um disco, porque estávamos satisfeitos com nossas obras, até o Brasil nos obrigar a sair desse lugar de conforto. É necessário para o público e é necessário para gente”, afirma Marcelo D2, vocalista da banda.

Com formação atual composta por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru, o Planet Hemp usa como referências a sua própria caminhada e o momento atual do país para debater pautas como a crítica à política sobre drogas e questões sociais, ao mesmo tempo em que expande o leque de sonoridades, se unindo à nomes como Black Alien, MC Carol, Tropkillaz, Criolo e o trapper argentino Trueno.

"É importante lembrar que não existe apenas um caminho no mundo, nem dois apenas, mas vários. Queremos trazer essa pluralidade de volta, e podemos dizer que ela se expressa de todas as formas, inclusive na quantidade de estilos presentes no álbum", ressalta BNegão.

O novo trabalho conta com uma opinião política bem definida, e muitas vezes controversa, que é característica do grupo. Um exemplo disso é o explícito posicionamento a favor da legalização da maconha, que fez o Planet Hemp ser acusado de fazer apologia ao uso de drogas em suas letras. Os membros do grupo chegaram a ser presos em 1997. “Às vezes eu escrevo mais para o público que não é do Planet Hemp do que para os que são, porque é para alfinetar e trazer reflexão”, explica Marcelo D2, afirmando que não costuma lembrar do tempo que passou na prisão, já que considera que existem realidades muito piores no Brasil. “Esse país é duro demais, e a gente acaba normalizando certas coisas que são inaceitáveis”, reflete.

A banda acredita que sua função social passa pela necessidade de “colocar o dedo na ferida”, e eles continuam fazendo isso neste novo projeto. “A arte de combate é o lugar onde eu melhor escrevo e mais gosto de escrever”, destaca Marcelo D2. “A gente veio da época do final da Ditadura Militar, onde tudo era falado nas entrelinhas, e a gente teve esse impacto do punk rock brasileiro que falava tudo ‘na lata’ e foi o que trouxe a gente aqui. Essa é uma energia nossa que está presente muito forte no disco”, completa BNegão.

O vocalista relata ainda que esse retorno da banda partiu de uma cobrança dos fãs devido às atuais demandas sociais. “A gente foi cobrado, por nós mesmos e pelo público, para expor nossa opinião. É basicamente isso que acontece no disco. E a gente fez questão de lançar agora justamente por estarmos em um momento político chave”, salienta BNegão. “Para muita gente, o Planet foi o fio que as pessoas puxaram para falar sobre política e questões sociais, e isso se dá porque o Planet furou uma bolha. Nós éramos uma banda feita para tocar no ‘submundo’, e acabou que estourou e o que a gente estava falando chegou pra muita gente, e fez diferença na vida de muita gente. Muitas pessoas que fazem ativismo falam que começaram por uma letra do Planet. Então, é importante demais a gente estar nesse momento, historicamente e politicamente. Como o Planet é uma banda de opinião forte, acho que se não estivéssemos seria uma omissão”, reitera.

Entretanto, para além de incomodar, o grupo acredita que a música também precisa traçar novos caminhos para dias melhores. “Esse é um disco muito mais maduro. A ideia é de a gente semear para colher lá na frente algo melhor para todos. Pode ser uma utopia, mas o Planet é essa utopia”, finaliza, Marcelo D2.