A geração Z desenvolveu o hábito de criar e compartilhar playlists como uma maneira de contar suas histórias pessoaisDivulgaçÃo

Rio - O advento dos serviços de streaming mudou drasticamente o modo contemporâneo de consumir música. A facilidade de ter acesso a milhões de faixas, dos mais variados artistas, em um só lugar, impulsionou o público a abandonar o hábito de fazer download ilegal de músicas, ocupando memória no disco rígido do computador, do celular, ou ainda nos aparelhos de MP3, que atualmente se tornaram obsoletos. E junto a facilidade de ouvir música, veio a possibilidade de criar sua própria lista de reprodução, as chamadas playlists.
Um comportamento que vem chamando atenção hoje em dia é justamente o hábito de criar playlists. Existe uma enormidade de listas de reprodução disponíveis nas plataformas para os mais variados momentos: estudar, relaxar, dormir, dançar, malhar, pré-balada, pós-balada, e por aí vai. A jornalista Victoria Rohan é uma das pessoas que teve a sua forma de ouvir música transformada pelas playlists e pelos serviços de streaming. Para ela, que trabalha diretamente com cultura e entretenimento no Telas Por Elas, a música tem um poder que vai além do lazer e alcança importantes pautas sociais.

“O que você consome, em qualquer formato e plataforma que seja, vai te afetar e contribuir pro seu repertório de vida, para formar sua personalidade. Tem muita gente que não ouve muita mulher, ou pessoas pretas ou LGBTQIA+. Não tem como isso não ser um sintoma da nossa sociedade que exclui as minorias até nesses momentos de arte, cultura, lazer e descanso, sabe? Playlists temáticas geralmente são assim, com músicas que são um manifesto, um grito guardado ali e que a gente acha que todo mundo deveria ouvir”, destaca Victoria, que também ressalta o benefício das plataformas de streaming terem um vasto repertório, além de darem visibilidade a artistas menos conhecidos.

“A gente paga o serviço e tem acesso a todas as músicas que estão ali, tanto de artista grande que toca em rádio, como do seu amigo artista local que você pode dar uma força, ou mesmo os independentes - nacionais ou internacionais - que não são tão conhecidos. Um mundo de músicas está ali a um clique. Antes era preciso comprar CD de todos os artistas que a gente gostava - ou baixar - e às vezes a pessoa nem tinha dinheiro para comprar todos que queria e poder diversificar o que ia ouvir. Para ser diversificado era só rádio, que nem sempre toca só o que a gente gosta”, afirma a jornalista.

Atualmente, o serviço de streaming de música mais utilizado no mundo é o Spotify. A plataforma tem mais de 82 milhões de canções e 4.7 milhões de podcasts. “Tivemos uma mudança no processo de adquirir a experiência. Se antigamente o consumidor tinha que se deslocar para comprar um CD ou pagar um download para ouvir uma música, por exemplo, hoje o acesso ao áudio de forma geral é uma prateleira infinita dentro das plataformas”, explica o editor de música do Spotify Brasil, Rodrigo Azevedo.

Para o editor, a possibilidade de qualquer usuário se tornar ‘criador de conteúdo’ ao elaborar uma playlist é um dos pontos que vem atraindo tanto os jovens para a plataforma. “Além da oferta de conteúdo, o streaming também propiciou e potencializou o perfil criador dos consumidores. Hoje já não há mais barreiras entre consumo e criatividade. Qualquer usuário se torna um curador quando cria uma playlist. Existem diversos usuários que têm playlists muito populares. São 4 bilhões de playlists no Spotify. Quando um usuário adiciona uma música em uma playlist, ele pode estar apresentando este artista para um público completamente novo, por exemplo. Por isso, o Spotify não apenas é acesso à música, mas uma ferramenta de descoberta de novidades deste universo”, garante.

Rodrigo ressalta que o Spotify atualizou e melhorou um hábito que já era comum entre os ouvintes. “Fãs de música sempre gostaram de compilar faixas por temas com suas favoritas ou como forma de presentear. Desde mixtapes e CD ripados, as playlists se tornaram uma forma mais fácil e legal de expressão. Conforme as pessoas estão mudando seu relacionamento com as mídias sociais para lidar com a vida cotidiana, isso contribui para o sucesso da criação de playlists por usuários. A geração Z, por exemplo, está na vanguarda da cultura, constantemente encontrando novas maneiras de se expressar e construir comunidades. As playlists não são uma seleção fixa de músicas, elas podem sempre ser atualizadas e traduzem comportamentos, humores, visões de mundo e refletem até mesmo a personalidade e a jornada individual de cada um", afirma ele. 
"O hábito de 'playlisting' é uma ferramenta que os GenZers (forma como são chamados os integrantes da Geração Z) utilizam para criar algo novo, próprio, e também se expressar, expressar seus sentimentos e o que estão passando no momento, haja vista a variedade de nomes de playlists que encontramos no Spotify. Essa geração, em especial, desenvolveu o hábito de criar e compartilhar playlists como uma maneira de contar suas histórias pessoais”, acredita o editor.

Confira algumas das playlists mais inusitadas criadas no Spotify

Tudo Posso no Kpop que me fortalece - Criada por Yasutoki Minomo. É composta por músicas do gênero Kpop, a cada vez mais popular música sul-coreana.

Sertanejo pra sofrer e sentir como é ser corno - Criada por Bianca Cesaro. O nome já diz tudo, né? Sofrência para os apaixonados com coração partido.

Playlist para rebolar a 'raba' como se não houvesse amanhã - Criada por Victória Scarlassara. Lista de músicas para dançar loucamente, como se não houvesse amanhã.
Playlist para estudar - Criada por Evy. Composta por músicas para quem quer focar nos estudos.
Playlist "Sem Culpa"! (Versão LGBTQIA+) - Criada pelo Telas Por Elas. Reunião de artistas politizados com músicas para todos os momentos do dia.
MPB - Música Preta Brasileira - Criada pelo Telas Por Elas. Para celebrar a pluralidade da música brasileira protagonizada pelos artistas pretas.