Universibloco no carnaval de 2020Reprodução

Rio - Idealizado em 2018, o Universibloco deu luz ao sonho de dois estudantes: unir o amor pelo carnaval e as baterias universitárias. Lucas Bouzon, de 27 anos, estudante de Desenho Industrial na UFF e Felipe Monteiro, de 31 anos, estudante de Direito na UniRio, se uniram para colocar o bloco na rua. Após a tentativa em 2018, o primeiro desfile oficial da bateria foi em 2019. O carnaval de 2020 marcou o último evento antes de um hiato de dois anos causado pela pandemia. Agora, o bloco volta a fazer apresentações e se prepara para retornar, em fevereiro, ao tradicional bairro Maracanã na Zona Norte da cidade do Rio.
"Fazer carnaval no Rio de Janeiro é maluquice, mas é o que a gente gosta, eu e Felipe vivemos isso desde crianças", diz Lucas, enquanto explica que vê o bloco como uma forma de aproximar os jovens que não têm tanto contato com escolas de samba do carnaval tradicional. "Sem perder o jeito universitário de aproveitar", complementa. 
O bloco uniu 2.000 pessoas em 2019, 8.000 em 2020, mas a pandemia trouxe uma grande dúvida para os organizadores: "Carnaval a gente sabia que seria a ultima coisa a voltar, mas o maior problema era a identificação do público". A alta rotatividade dos membros de atléticas universitárias criou o medo de não conhecerem mais o bloco, já que a maior divulgação sempre foi por conhecidos e pessoas que já frequentavam o bloco.
Foi o caso de Washington Junior, de 21 anos, estudante de Publicidade e Propaganda na UFRJ e membro da Bateria Zuêra, a oficial da sua atlética: "A primeira vez que fui no Universibloco já estava como ritmista, fiquei sabendo que existia o bloco porque amigos e membros mais antigos já tocavam lá". Integrante desde 2020, ele conta sua motivação para ainda querer fazer parte do bloco: "É interessante porque são pessoas que você não está acostumado a tocar no dia a dia. Na Bateria do seu curso normalmente todo mundo vive um contexto bem parecido por ser da mesma atlética, mas lá no Universibloco é um mix bem mais abrangente", e finaliza: "Apresenta um novo universo do samba pra quem não fazia parte, além de enriquecer o repertório cultural e rítmico de quem antes só tocava para jogos."
"O principal é a junção de pessoas, usamos instrumentos de várias atléticas quando precisa, pegamos os elementos de escolas de samba, cantando os repertórios dos sambas mais famosos, e acabam sendo coisas diferentes que se misturam muito bem", afirma Leonardo Martins, de 24 anos, estudante de Jornalismo na UFRJ. O carioca é membro do Universibloco desde 2019, e já tinha tocado em alguns outros blocos, além da Bateria Universitária.
"O maior obstáculo que vejo, é a dificuldade que a maior parte dos blocos pequenos sem investimentos ou patrocínios, já passam no Rio de Janeiro. Eu sei que é difícil estruturar a quantidade de desfiles que acontecem, mas algumas exigências da prefeitura podem acabar sendo difíceis de seguir, o que pode se tornar um problema no futuro", completa.
Lucas conta que a bateria está aberta a quem quiser somar: "A seleção dos ritmistas é quem quiser chegar pra tocar. Fazemos um ensaio aberto para os interessados, mas como não temos como fazer oficina, precisamos de pessoas que tenham noção dos instrumentos. Apesar de boa parte dos integrantes atuais ser parte de alguma escola de samba, uma diferença recente, é ver pessoas que buscam aprender para tocar no bloco, é uma coisa que me incentiva".
O Universibloco também já participou de eventos fechados. Bouzon conta que alguns dos seus obstáculos vêm de não serem vistos com tanta seriedade: "Muitas vezes acabando tocando de graça ou com poucos incentivos. Sinto que algumas organizações não nos tratam como outras atrações e acabam nos deixando de lado".
"O meio universitário precisa de um carnaval seu, para quem quiser chegar. É importante mostrar que as coisas voltadas para diversão nesse meio não são só bagunça, existe uma organização, com objetivos, com pessoas que se esforçam e ensaiam. Quando as frentes universitárias estiverem fortalecidas, como o esporte e o carnaval, a gente vai conseguir um respeito maior por mostrar que desenvolvemos atividades relevantes, esse é o grande legado e exemplo que fica com o bloco", finaliza Leonardo.
*Reportagem feita pela estagiária Rebecca Henze sob supervisão de Flávio Almeida