A neuropsicóloga Barbara Calmeto
A neuropsicóloga Barbara Calmeto Divulgação
Por Priscila Correia
Rio - Na última sexta, dia 2, foi celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, para conscientizar as pessoas a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data, que é “comemorada” anualmente, tem como objetivo reduzir a discriminação e o preconceito que pessoas com autismo vivem em todo o mundo. Embora o assunto hoje seja mais debatido que há algumas décadas, ainda são muitas as dúvidas que cercam o tema, especialmente quando se trata de crianças.
Muitos pais, ao terem o diagnóstico de TEA dos seus filhos, começam a se questionar sobre como será o futuro, o que vão enfrentar na infância e como devem dialogar e interagir com suas crianças. “Será que serão independentes? Serão felizes? Terão amigos? Como abordar alguns assuntos? Crianças com TEA vão passar pelas mesmas situações que as que não têm, mas em alguns momentos a abordagem sobre alguns temas precisará ser diferente para um melhor entendimento”, explica a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, e criadora de uma espécie de guia que pode ajudar os pais a entenderem melhor como agir com seus filhos.
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A seguir, Calmeto fala sobre desafios e mitos que cercam as crianças com TEA e como os pais e demais pessoas podem ajudar a vencer o preconceito e contribuir para o desenvolvimentos desses indivíduos.

Dia a dia:
É mito ou fato que crianças com autismo têm mais dificuldades para lidar com mudanças? Por quê?
De maneira geral, é um fato. Isso ocorre porque as crianças com autismo têm dificuldades de prever situações que vão acontecer e a rotina traz uma previsibilidade de conforto. A criança já sabe o que vai acontecer, como vai acontecer, com quem e onde e, com isso, já se organiza das ações que precisará ter naquela situação. A rotina é importante para todas as crianças, principalmente com autismo, mas nas intervenções é preciso estimular as variações e as flexibilidades porque, no dia a dia, acontecem muitos imprevistos que podem desencadear crises nas crianças com autismo.

Diversos estudos apontam que a convivência com animais é boa para crianças autistas. Quais os benefícios reais dessa convivência? Cachorros ou gatos são mais indicados? Justifique sua resposta.
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Sim! Há vários estudos que já demonstram que a aproximação e a convivência de crianças com autismo e os animais traz muitos benefícios. Nessa convivência, é importante que a criança seja estimulada no carinho, no cuidado e nas tarefas que o animal exige como alimentação, banho, água. O contato físico de um animal traz boas sensações e possibilidade de interação com as crianças, que têm dificuldades nessa área por causa do diagnóstico. A interação com animais pode estimular melhoras no convívio social e desenvolver brincadeiras bem divertidas. Normalmente, os cachorros são os animais preferidos, em especial as raças mais dóceis, pois aceitam um contato físico que as vezes não é tão controlado. Esse convívio da criança com autismo e os animais aprimora a interação social e amplia as possibilidades de generalizar esse comportamento para o relacionamento com os colegas e outras pessoas.

Quais mudanças são mais difíceis para uma criança autista lidar? Ou qualquer mudança gera um problema?
Nem toda criança com autismo tem problemas de lidar com mudanças, mas é um dos sintomas de pessoas que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista. Normalmente, o mundo é algo confuso de ser entendido para essas pessoas e a rotina traz uma previsibilidade que ocasiona conforto. Por isso, manter certos rituais é uma estratégia para garantir que a criança com autismo funcione regulada nas atividades que precisa executar. Vale ressaltar que, nas terapias, precisamos trabalhar certa flexibilidade cognitiva e treinar situações de imprevisto para que a criança ganhe repertório de lidar com situações novas e inesperadas.

É possível mudar essa situação com algum tipo de exercício ou terapia? Fale sobre isso.
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Com certeza esse é um dos focos das terapias cognitivo-comportamentais: estimular as funções executivas das pessoas com autismo. A flexibilidade cognitiva, a resolução de problemas, o planejamento e o controle inibitório são muito importantes para uma vida mais fluida da pessoa com TEA. Ela precisa treinar como resolver situações do cotidiano e imprevistos que acontecem no nosso dia a dia. A criança com TEA precisa aprender a conversar e criar linhas de pensamento que reestruturem novas rotinas mais flexíveis no cérebro dela.

Como ajudar a desenvolver áreas de interesse alheias ao hiperfoco?
Normalmente, as pessoas com autismo têm algum hiperfoco, ou seja, algum assunto de maior interesse dele que acaba sendo muito estimulado pela família, comprando mais itens desse objeto (carrinhos, dinossauros, robôs etc). O interessante é ampliar o foco de atenção para mais objetos e buscar uma variação das atividades de brincadeiras que essa criança faz. Em terapia, pegamos esse hiperfoco (grande interesse do paciente) para iniciar as atividades e fazer vínculo, fazer atividades funcionais e, aos poucos, vamos buscando a variação por meio de pareamento de outros objetos com esse objeto de preferência. O foco é ampliar variação de itens e frequência de brincadeiras funcionais.

Pais se preocupam com os filhos em qualquer idade e é natural que superprotejam os filhos "com problemas". Na relação desses pais com filhos autistas, isso pode ajudar ou prejudicar? Fale sobre isso.
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A relação com os pais de filhos autistas, normalmente, é de superproteção, e isso atrapalha muito o desenvolvimento. Durante as terapias, precisamos tirar a criança da zona de conforto dela, estimular novas habilidades, dar as ajudas necessárias e exigir sempre um pouquinho mais. Os pais que superprotegem não conseguem tolerar algumas situações que precisamos estimular, como ficar muito sensibilizados com a fuga de demanda através do choro da criança. É preciso diferenciar o que é birra para fugir de uma demanda e o que é crise. As birras precisam ser extintas e novos comportamentos mais adequados devem ser ensinados para que a criança comunique o que deseja.

Crianças, por vezes, podem ser cruéis praticando bullying etc. A criança com autismo tem essa percepção? Justifique sua resposta.
Os casos de bullying com pessoas com autismo são comuns, infelizmente. A sociedade é cruel com pessoas que não estão no “padrão adequado” criado por ela. Normalmente, as pessoas com autismo leve (síndrome de Asperger) percebem e sofrem com esse bullying e os casos de depressão e suicídio são grandes nessa população.

É importante que crianças com autismo estudem em escolas tradicionais e lidem com neurotípicos no dia a dia ou é melhor que elas recebam um ensino especial, focado em suas necessidades?
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Eu costumo dizer que depende. Depende da idade da pessoa com autismo, da condição cognitiva e funcional dela, da família, de ter escolas preparadas para a inclusão. A inclusão é linda nas leis, no papel, mas na prática não tem funcionado no Brasil (com raríssimas exceções). Nem toda criança com autismo tem condições de estar inserida no ensino regular e precisa, sim, ter atividades diferenciadas e direcionadas para ela. Porém, sou super a favor de incluirmos as pessoas com necessidades específicas nas turmas de ensino regular porque traz benefícios, quando realizado de maneira inclusiva e funcional. A criança com autismo precisa de adaptação curricular, reorganização da escola e da classe, integração com os colegas e treinos específicos para que ela adquira habilidades enquanto está na escola.

Ainda sobre bullying, como conversar e mostrar que essa criança não precisa se sentir inferiorizada?
Para explicar as situações de bullying e de como agir é preciso treinar através de histórias sociais, treino de habilidades sociais com técnicas de role playing, modelação, modelagem, expressão das emoções etc. Precisamos usar técnicas com evidências científicas para ajudar essa criança a reagir de maneira assertiva e buscar pessoas (tutores) que possam ajudar nesses mecanismos da vida social.

Terapia para crianças autistas é fundamental? Justifique sua resposta.
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Extremamente imprescindível! Através das terapias especializadas, as crianças com autismo conseguem ampliar suas habilidades, desenvolver competências e diminuir barreiras comportamentais que a atrapalham do dia a dia. A criança começa a ter uma melhor qualidade de vida com foco na autonomia e independência.

Muito se fala sobre a dieta cetogênica ser ideal para melhorar os sintomas do autismo e que alimentos ricos em carboidratos poderiam piorar esses sintomas. O que acha disso? Existe algum embasamento cientifico de fato nessa teoria? Há estudos que corroborem com isso?
Se para qualquer pessoa que tem intolerância ou alergia a um alimento, a dieta alimentar faz diferença, imagine para uma criança que tem hipersensibilidade e dificuldades de comunicar o que está sentindo. Então, se a criança com autismo tem algum nível de intolerância ou alergia (muito comuns dentro do TEA), essa dieta faz toda diferença. Porém, se não for o caso, a dieta cetogênica não pode ser a base das estimulações, não é isso que ajuda a criança a adquirir novas habilidades.
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Mudanças na família:
A chegada de irmãos: como conversar com a criança autista sobre isso? No dia a dia após a chegada, como inserir essa criança na rotina do novo membro da família? A criança autista pode se sentir rejeitada de alguma forma? Se sim, como mudar isso? Fale sobre isso.

A chegada de irmãos sempre interfere no emocional da criança (e de toda família) porque há uma mudança no foco de atenção e na rotina da casa. O importante é tentar incluir o irmão com autismo em todas as etapas, desde a gravidez, compra de roupas, montagem do quarto, escolha do nome, exames, parto e chegada do bebê. Interessante também usar estratégias visuais com imagens da mãe grávida, da ultra, de bebês após o nascimento, explicando os cuidados necessários e os comportamentos esperados e não adequados para que a criança consiga se organizar na previsibilidade. No dia a dia, a família deve buscar incluir o irmão com autismo na rotina, explicando os acontecimentos e trazendo previsão de momentos de choro do bebê, o que podem irritar por causa da baixa tolerância sensorial. Ter um irmão é uma transformação emocional que a criança passa, independentemente de diagnóstico. A família deve incentivar e aproximar os irmãos desde cedo.

Para crianças autistas que estão acostumadas com os pais juntos, como conversar sobre separação? A guarda compartilhada é uma boa solução para crianças autistas já que elas estão acostumadas com rotina? Qual seria a melhor solução, para a criança, diante de uma separação?

O processo de separação dos pais é dolorido para toda criança porque é a quebra da família e uma reestruturação de sentimentos e vida prática. Na separação de pais de crianças com autismo, é importante não discutir ou fazer disputas na frente da criança, manter um padrão de decisões para que ela se sinta segura e reorganizar a rotina com pistas visuais.

A criança deve ter seu espaço na casa de cada um, com seus objetos pessoais e de preferência. Além disso, toda logística de sair de uma casa e ir para a outra deve ter organizada através de pistas visuais com imagens e ordenação de fatos. A previsibilidade é uma habilidade difícil para crianças com autismo, o que traz uma ansiedade maior e pode desencadear crises. Portanto, a guarda compartilhada pode, sim, ser acordada entre os pais, desde que estes se proponham a manter uma rotina confortável para a criança. O que não deve é ter regras em uma casa e não ter na outra, ter limites para atividades e uso das telas em uma casa e não ter na outra. As regras e normas devem ser padronizadas e mantidas em todos os ambientes da criança para que ela generalize e realize essas flexibilizações com maior segurança emocional.

E sobre a morte de um parente próximo? Como conversar sobre isso? É preciso "florear" a situação ou ser direto é a melhor opção?

A morte é um assunto delicado para todas as crianças porque não é algo fácil nem palpável de ser entendido, é como se a pessoa “sumisse” da vida dela de repente. No caso de crianças com autismo, é importante explicar de maneira clara e objetiva, não precisando dar muito detalhes, e focando nas lembranças boas da pessoa. A família pode usar as pistas sociais e histórias sociais para explicar para a criança, de maneira lúdica, a questão da morte. Além disso, é importante dar oportunidade e validar a expressão das emoções da criança, sempre identificando e nomeando o que ela está sentindo.

Voltando ao assunto divorcio dos pais e/ou relacionamentos de irmãos e pessoas próximas com terceiros. Alguns autistas não aceitam novos membros na família ou no seu dia a dia. Como lidar com isso?

Mais uma vez, com histórias sociais e pistas visuais. A pessoa com autismo precisa de mais tempo para fazer vínculo com outras pessoas, em especial, as desconhecidas. Então, é cativar com o tempo, brincar com ela, fazer atividades com pistas visuais de quem é aquela pessoa, qual a função dele, o que a criança poderá fazer com essa pessoa no dia a dia. Respeitar o tempo da criança com autismo e ser verdadeiro com ela na relação afetiva. Empatia sempre!
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Futuro:
Como lidar com a criança autista quando ela vai crescendo? O dia a dia com os amigos, as festinhas, namoros etc.

O desenvolvimento infantil é uma fase de muitos desafios para todas as crianças, inclusive na fase da adolescência. E para adolescentes com TEA, mais ainda, porque as demandas sociais são maiores e o bullying começa a acontecer. Para minimizar os danos, é importante buscar uma rede de apoio empática e tolerante com amigos e familiares de amigos que consigam compreender e lidar com as necessidades específicas desse jovem. Além disso, o adolescente deve treinar, em suas terapias, estratégias de habilidades sociais e vida funcional para que tenha sucesso nas atividades diárias.


Na ficção, a criança e adolescente autista normalmente é retratado como muito inteligente. Isso é uma verdade? A performance da criança/adolescente autista na escola é diferenciada ou devido à sua concentração assimila melhor o que é ensinado? Costumam ser mais estudiosos ou têm maior dificuldade de aprendizagem? Fale sobre isso.

Esse retrato da pessoa com autismo sendo muito inteligente é um grande mito. Os estudos mostram que cerca de 70% das pessoas com TEA tem algum nível de deficiência intelectual, outros tem uma inteligência dentro da média (Autismo Leve – antiga síndrome de Asperger) e poucos os casos de pessoas com TEA com altas habilidades. Normalmente, o hiperfoco da pessoa com TEA acaba confundindo essa questão da inteligência porque ela estuda e sabe tanto sobre um determinado assunto, que demonstra conhecimento muito acima de outras crianças da mesma faixa etária. Tenho paciente que falam quatro idiomas, mas não conseguem ir até a padaria e comprar o pão sozinhos. Outro que sabe tudo sobre dinossauros, mas não consegue resolver um problema simples de matemática. Isso não é ter inteligência acima da média e, sim, ter o hiperfoco em algo.


Há alguma forma dos pais prepararem seus filhos autistas para lidarem melhor com mudanças quando se tornarem adultos?

Sim, por meio da estimulação prática de flexibilizações no cotidiano, ou seja, desde variar o elevador que entra até imprevistos do dia a dia. E usar pistas visuais para ajudar na previsibilidade do que vai acontecer. É importante também observar o que acalma (autoregula) a criança e usar em situações necessárias. Podemos usar slimes, spinners, bolinha de sabão, massagens de pressão, bexiga etc.


As crianças autistas tendem a ter as mesmas dificuldades quando se tornam adultos ou a percepção delas sobre o entorno muda? Fale sobre isso.

Normalmente, muda um pouco e melhora por questões de desenvolvimento cerebral e adaptações sociais do dia a dia. Com certeza, as crianças que estão em terapia tendem a melhorar de maneira mais efetiva e conseguir generalização dessa melhora para todos os ambientes da vida dela. O foco da intervenção pensando na idade adulta é nas habilidades funcionais, ou seja, treinar comportamentos que são importantes para que o indivíduo atue de maneira funcional.

Séries como 'The God Doctor' mostram que pessoas autistas podem se sobressair em qualquer profissão. Isso é real ou apenas na ficção? Fale sobre isso.

Pode acontecer, mas é mais raro. Na série 'The God Doctor', por exemplo, o personagem não tem só autismo com alto hiperfoco na fisiologia, ele tem síndrome de Savant associada, que traz a questão do alto funcionamento intelectual. Hoje em dia, há muitas pessoas com autismo (em especial síndrome de Asperger) que são muito bem sucedidas na vida profissional com cargos importantes. Mas é importante ressaltar que nem sempre são altas habilidades e, sim, porque essas pessoas têm conhecimento muito aprofundado no seu hiperfoco e fez disso uma profissão. As dificuldades de comunicação social continuam na vida adulta e precisam de estratégias para ter bom relacionamento com colegas de trabalho.


Diagnóstico de TEA:


Muitos confundem autismo com Asperger e TDAH. Quais as diferenças entre esses diagnósticos?

Desde 2013, com o novo critério diagnóstico proposto no DSM V, a síndrome de Asperger foi introduzida como parte do Transtorno do Espectro Autista caracterizada como um nível mais leve. A síndrome de Asperger é caracterizada por déficits nas áreas comunicação social e interesse restrito, porém, com menos prejuízos na área da linguagem e da inteligência. Normalmente, são pessoas com inteligência dentro da média que possuem dificuldades maiores na área da socialização. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sintomas como déficit de atenção (concentrar em algo), ter comportamentos hiperativos (muita agitação psicomotora) e impulsividade (agir antes de pensar). São características bem diferentes do autismo leve, mas pode vir como comorbidade do autismo. Ambos diagnósticos são feitos por neurologistas ou psiquiatras com base nos critérios diagnósticos.

Ao nascer, é possível saber se a criança é autista ou apenas com o tempo? Há algum teste para essa identificação? Ha características perceptíveis no primeiro ano de vida? Fale sobre isso.

O diagnóstico do autismo é clínico e não há exames que detectam. Porém, normalmente, os médicos prescrevem alguns exames para eliminar outros possíveis diagnósticos. O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento e isso significa que, sim, a criança nasceu autista. Ninguém se torna autista por alguma situação vivida na vida. O que acontece é que, em alguns casos, a família não percebia os sintomas e, por volta de 18 meses, com a poda neural, os sintomas ficam mais visíveis e o atraso na fala é o primeiro sintoma que realmente chama atenção. Infelizmente, ainda há a famosa e terrível frase que alguns pediatras usam “Cada criança tem seu tempo”, porque isso só atrasa o possível diagnóstico e a intervenção precoce, que são preditores para melhores resultados.


Ao contrário do Down, que até pelas características físicas pode ser identificado, no autismo não há como, certo? Ou existe alguma característica física que mostre?

Realmente não há características físicas que mostrem o autismo, como no caso da síndrome de Down (T21). Normalmente as pessoas identificam por questões comportamentais mesmo. Se necessário, a família pode fazer a carteira de identificação do autista para ajudar a manejar situações do cotidiano, como ter preferência nas filas para que a criança não entrem em crise naquele ambiente.
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Pandemia:
Este ano, ao que tudo indica, ainda estaremos com a pandemia e, consequentemente, com os protocolos de segurança contra a Covid-19. Mas as escolas estão ensaiando um recomeço – embora tenham entrado em recesso novamente pelos casos que cresceram e pelo novo lockdown em muitas cidades. Como preparar crianças autistas, que já tiveram que se adaptar a 2020 com tantas mudanças, a um novo ano que, parece, terá, em algum momento, a volta às aulas presenciais? Como acostumar crianças com TEA das mais diferentes idades ao retorno à escola física?

Esse “novo normal” é realmente muito novo para todos nós e a grande questão é não ter previsão de quando tudo isso vai de fato acabar e voltaremos ao nosso normal. O ano de 2020 foi muito difícil, de mudanças de rotinas e de muitas adaptações para todos nós. E as crianças com autismo, que já têm dificuldades em lidar com mudanças e de se estabelecerem novas adaptações, sofreram muito quando foram afastadas das escolas e das terapias se as escolas não estavam preparadas para encarar o ensino à distância nem para crianças típicas, imagina para as atípicas. Nossas crianças com autismo não conseguiram acompanhar as aulas online e não tiveram adaptação curricular para um melhor aprendizado. Penso que 2021 é o momento de reorganizar as prioridades educacionais das crianças com autismo e trabalhar nas lacunas do processo ensino-aprendizagem para que elas tenham um desenvolvimento mais funcional. Além disso, precisamos continuar treinando as crianças ao uso de máscaras, ao distanciamento social e às novas práticas de segurança e higiene que estamos vivenciando desde 2020. Uma dica é usar as estratégias visuais para esse ensino de novos comportamentos. Colocar fotos ou imagens do comportamento adequado que espera-se da criança, o que ela deve e o que ela não pode fazer, explicar com vídeos sobre o Coronavírus e os novos cuidados. A dica visual é a que mais temos resultados com crianças dentro do Transtorno do Espectro Autista e, nesse momento, precisamos usar de maneira abundante. As histórias sociais através de desenhos também ajudam muito porque ilustram situações do cotidiano, realizadas bem passo a passo e explicadas para a criança de maneira objetiva e simples.