Alfabetização
AlfabetizaçãoEli Ramos
Por Priscila Correia
Rio - Não há como negar: a pandemia trouxe grandes prejuízos para alunos de todas as etapas escolares. Mas há uma fase específica em que o ensino presencial é determinante para o “restante” da vida escolar da criança e adolescente: o 1º ano do Fundamental.
“A alfabetização é uma etapa muito importante do desenvolvimento infantil. Durante o processo de aprendizagem, por meio da interação com o adulto e com as outras crianças, o aluno começa a refletir sobre a linguagem oral e estabelecer relações com a linguagem escrita. Em um momento inicial, é fundamental que o aluno seja imerso no mundo das palavras. Conhecer diferentes gêneros textuais e explorar livros diversos permite que a formação do leitor seja significativa. Mas, para além da experiência com a linguagem escrita, é necessário que a criança seja ensinada formalmente a ler e escrever. A frequência e a intensidade são determinantes e o aprendiz precisa todos os dias “ler” um pouco. Assim, fica claro que a mediação do educador, a rotina e as vivências concretas são peças fundamentais na alfabetização”, explica Juliana Amorina, diretora presidente do Instituto ABCD, instituição sem fins lucrativos que trabalha para melhorar e desenvolver a vida de pessoas com dislexia e outros transtornos de aprendizagem, com o objetivo de que todos tenham sucesso na escola, no trabalho e na vida.
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Além da falta de interação presencial entre alunos e professor e da inexperiência e tempo de muitos responsáveis ao tentar ajudar os filhos a estudar, outra barreira que tem sido enfrentada é acesso aos meios de comunicação. Afinal, nem toda família tem uma boa conexão em casa e dispõe de computadores, tablets e notebooks para as crianças estudarem - muitas vezes, inclusive, nem aos livros e outros recursos necessários para essa imersão em casa os alunos tinham acesso.
Juliana esclarece, ainda, que como a alfabetização é dependente da interação do educador com o aluno, crianças de 6 a 7 anos ainda não têm autonomia para aprender apenas no formato on-line. “A mediação do adulto e as experiências concretas são fundamentais. Precisamos lembrar que esses alunos ainda estão desenvolvendo funções cognitivas que são essenciais para a aprendizagem, como a atenção e o controle inibitório. Elas precisam da supervisão e da mediação de um adulto. Então, não podem prescindir da participação dos familiares em seus estudos remotos. Dito isto, o processo de ensino deve considerar que os pais não são especialistas e precisam de orientações para auxiliar seus filhos. Além disso, um olhar atento para a rotina da família é importante, uma vez que os pais podem estar sobrecarregados com outras tarefas, como trabalho e afazeres domésticos”, pontua.

Para o futuro, depois do fim da pandemia, será importante que as crianças sejam avaliadas e incluídas em um programa de reforço. Afinal, como a aprendizagem é cumulativa, se não concluírem com êxito essa etapa, esses estudantes enfrentarão dificuldades para avançar na escolarização. “Será necessário investir em um reforço escolar de qualidade, que conte com avaliações frequentes para verificar as habilidades e os conhecimentos de cada estudante. Isso é importante porque os alunos vivenciaram experiências distintas durante a pandemia e, portanto, não tiveram as mesmas oportunidades para aprender”, conclui Juliana.

Em tempo: Organizações que atuam com educação têm se preocupado em criar redes para divulgar conteúdos educacionais de qualidade. É o caso do EduEdu, um aplicativo gratuito desenvolvido por especialistas em educação inclusiva e aprendizagem do Instituto ABCD, que apoia os estudantes na alfabetização em língua portuguesa (por meio de uma avaliação rápida e divertida, o app identifica as áreas em que a criança precisa de apoio e gera atividades personalizadas para ela); e da plataforma Aprendendo Sempre (https://aprendendosempre.org/), um excelente repositório para educadores e familiares que buscam canais com conteúdo de qualidade.
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DESAFIO
A alfabetização é um dos períodos mais desafiadores da vida escolar. E, durante a pandemia, os pais tiveram que participar mais ativamente dessa etapa importante. Lucila Sarteschi, Coordenadora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Colégio Renascença, explica que uma das maiores dificuldades está relacionada à escrita - tanto o desenvolvimento motor, quanto à passagem da letra bastão para a letra cursiva. No entanto, a educadora ressalta que a parceria entre a escola e a família pode gerar frutos positivos sempre. E, para isso, a pedagoga separou algumas dicas de atividades e brincadeiras que podem ajudar na alfabetização das crianças:

Peça ajuda na Lista de Compras - No que diz respeito à alfabetização dentro de um formato remoto, os pais podem convidar os filhos a escreverem listas de compras, lugares a serem explorados, roupas, entre outros. Listas estimulam as crianças a organizarem seu pensamento e fazem parte do “escrever com sentido”;
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Bilhetes pela Casa - A escrita de bilhetes e convites também é uma excelente ferramenta, pois os textos são curtos, de fácil compreensão e cumprem um papel social. Por meio deles, pais e filhos podem estreitar laços de confiança e segurança, tão importantes neste momento. Além disso, essa brincadeira também pode ajudar com que as crianças elaborem os sentimentos e os comuniquem;
Cultivar a Leitura - De acordo com a profissional, a parceria dos pais é importante também com a leitura de diferentes gêneros textuais, como: crônicas, poesias, gibis, contos. Desta forma, estimulam e demonstram a importância desta habilidade - não apenas por uma questão educacional, mas também porque pode ser um hábito divertido e prazeroso.