IzaRodolfo Magalhães

Por Filipe Pavão*
Rio – Iza está de volta e orgulhosa de suas raízes! A cantora lançou, nesta quinta-feira, seu mais recente single: “Gueto”. A canção relembra a infância em Olaria, no subúrbio do Rio, e exalta a trajetória da artista, que se tornou um dos principais nomes da música pop brasileira e da publicidade. “’Gueto’ não é sobre ostentação, é sobre celebração e ocupação de uma menina preta retinta, da Zona Norte, estampando vários comercias”, diz.
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“‘Gueto’ vem para eu não esquecer das minhas origens. Quando digo ‘mãe estou na Globo’, não é sobre a Globo, é sobre eu estar lá, é sobre uma mulher negra estar lá. É saber para onde você está indo e deixar sempre a porta aberta para que as pessoas possam ocupar e sentar à mesa com você”, detalha Iza sobre a letra composta por ela, Pablo Bispo, Ruxell e Sergio Santos.
A ideia de representar suas origens não está presente somente na letra da música, pelo contrário, está também no videoclipe dirigido por Felipe Sassi. O registro exalta símbolos do subúrbio carioca, como o sacolé, o banho de mangueira e o orelhão azul na rua, além de mostrar a mãe de Iza, dona Isabel, subindo as escadarias da Igreja da Penha.
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“Queria desenhar esse gueto colorido que existe na minha cabeça. Sou de Olaria e lembro, sim, de um gueto colorido, bem cuidado, onde a gente não tinha medo de andar na rua. Um gueto que era de lei fechar a rua no domingo – nem precisava avisar a prefeitura, era só passar uma cordinha e não entrava nem caminhão. Queria que as pessoas enxergassem as suas origens e lembrassem de coisas especiais que viveram nos seus bairros também”, revela.
Inclusive, a principal lembrança da infância de Iza está estampada no clipe: o hábito de pintar a bandeira do Brasil no chão das ruas durante a Copa do Mundo. “Não entendia porque podia pintar o chão naquela época. De repente, estava todo mundo na rua pintando as bandeiras mais bonitas... Nossa bandeira é linda e é nossa. Eu quis trazer esse sentimento de orgulho. A gente está vivendo um momento difícil, mas a gente não pode esquecer que o Brasil é feito pelos brasileiros e que nosso país é fod*”, destaca a cantora.
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Próximo álbum
“Gueto” é o primeiro adianto do segundo álbum de estúdio de Iza, que deve ser lançado no próximo semestre. A cantora revela que o sucessor de “Dona de Mim” (2018) é um álbum que vai passear por vários estilos musicais, como o dance hall, o raggae, o R&B e o trap, além de ser mais pessoal e maduro.
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“Eu fiquei muito tempo comigo mesma em 2020, olhando só para minha cara, então, enfrentei muita coisa que estava empurrando para debaixo do tapete e, com certeza, vai ser um álbum mais pessoal, um álbum mais maduro. Quando a gente começa a falar mais de si, sem medo, significa sinal de amadurecimento. São 30 anos, né? Estou amadurecendo”, reflete.
Ancestralidade
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Iza destaca que é a primeira vez que ela fala tanto de si em uma música, mas não é a primeira vez que ela mostra a cultura negra na sua discografia. Considerada uma das líderes da nova geração pela revista Times, ela fala sobre a importância de abordar sua ancestralidade em seus trabalhos.
“Eu aprendi que não tem como eu falar para onde estou indo se não sei de onde eu vim. A gente se perde pelo caminho se não sabe de onde veio. Por isso, é muito importante fincar o pé no chão, nas nossas raízes e deixar claro para as pessoas que debaixo das nossas tranças tem muita história para contar. É muito mais que um estilo. Entendo que nosso cabelo faça sucesso hoje, mas ele faz parte do que a gente é, faz parte da nossa sobrevivência”, pondera.
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Beyoncé como inspiração
Iza ainda fala do papel social da arte. Para ela, os artistas com mais visibilidade deveriam pensar no que podem fazer em prol de suas comunidades para se tornarem vetores de mudança. “Assim como a Beyoncé, que fez 'Black is King', me inspirou e me encorajou a falar de onde eu vim. Isso é mágico, a libertação de se ter orgulho de falar quem é, de querer contar para o mundo quem você é. Espero que meu trabalho também tenha esse impacto na vida das pessoas”, conta.
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“A gente precisa se ver nos lugares. A gente precisa se ver fora daquilo que a sociedade enxerga para a gente como estereótipo. Muitos que vieram antes trabalharam muito para abrir as portas, agora, a gente tem de trabalhar para arregaçar essa porta e deixar aberta”, completa.
*Estagiário sob supervisão de Juliana Pimenta