Série sul-coreana já foi vista em mais 111 milhões de lares e já é considerada a mais bem-sucedida da história da plataformaReprodução/Netflix
Nos nove episódios da série, dá para perceber uma dura crítica ao sistema capitalista. Os personagens estão sem qualquer credibilidade ou dignidade e são levados a entrar no jogo para pagar com o próprio corpo, através de situações de torturas, suicídio e violência ligada à integridade física. Tudo isso em busca do sonho em receber o cofre repleto de dinheiro para melhorar de vida. Um retrato clássico da felicidade pelo consumo.
É de se estranhar que uma trama tão pesada tenha repercutido muito entre o público infanto-juvenil. E aí, surgiu a preocupação: será que essas crianças e adolescentes podem vir a desenvolver personalidades perversas com requintes de crueldade, se assistirem Round 6?
A psicanalista Andréa Ladislau explica que “uma série não é capaz de criar essa hostilidade dentro de ninguém. A questão é que nós adultos temos dificuldade para lidar com o impacto do que estamos vendo e precisamos ativar ferramentas mais elaboradas para conseguir ficar bem após cada episódio, pois tudo isso mexe muito com nosso emocional”.
É claro, meninas, que uma criança ou um adolescente vão demandar uma carga ainda maior de energia para entender tudo o que estão consumindo. Andrea Ladislau acredita que “não é porque eles assistiram a série que vão sair por aí atirando nas pessoas. Apenas podem ter um pouco mais de dificuldade para lidar com o impacto da dor”.
Neste caso, meninas, o correto é dialogar e fazer com que elas entendam sobre solidariedade, senso de justiça e a valorização do “eu”, sem ferir, expor, entristecer ou magoar o próximo. A psicanalista disse que “o grande ‘pulo do gato’ de Round 6 é poder provocar inúmeras reflexões, como a classificação de valores humanos, o poder e a importância que atribuímos ao dinheiro”.
E aproveito para acrescentar que, pra mim, a maior das lições é compreender se os fins justificam os meios. Aliás, ainda falando sobre o impacto dessa série na mente de crianças e adolescentes, a especialista em Análise de Perfil e Neurociência Comportamental e Mentora de pais e educadores Stella Azulay acredita que é preciso ter cuidado com o desenvolvimento desses jovens. "Estamos num momento em que os jovens estão mais frágeis, mais suscetíveis ao sofrimento. Crianças e adolescentes são indivíduos que estão em pleno desenvolvimento neuropsicomotor, cuja estrutura cerebral pode ser afetada, provocando disfunção no sistema neurológico e endocrinológico, podendo gerar danos irreversíveis. Ou seja, assistir a este tipo de série exige uma estrutura emocional e uma maturidade que grande parte dessa geração não tem”.
No entanto, Stella sabe que proibir não é o caminho. “Falta preparo por parte dos pais no sentido não só de orientar, mas, principalmente, de monitorar e acompanhar o que seus filhos assistem e fazem. É fundamental ter diálogo, impor limites e ter consciência da responsabilidade que é criar jovens nos dias de hoje. Jovens estes que são desafiadores, mas, no fundo, não têm preparo psicológico para lidar com muitas situações”.
É isso, meninas. Nem tudo o que faz sucesso ou que tenha caído nas graças das redes sociais pode ser positivo para nós e nossas crianças. Por isso, cuidado na hora de deixar os pequenos na frente das telinhas.
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