Camila (esquerda) acreditava que seria impossível conciliar a função de mãe com o trabalhoReprodução

Olá, meninas!

Eu vou usar um questionamento que o nosso Mulherão de hoje costuma fazer nas palestras que dá pelo Brasil. Você, leitora e mãe, percebeu novas habilidades desenvolvidas durante a criação dos seus filhos? Estou falando de tudo que é necessário no processo de crescimento deles: paciência, resiliência, criatividade, empatia... A advogada e pedagoga Camila Antunes acredita tanto nisso que criou uma consultoria para ajudar empresas a aproveitarem essas competências e ensina mulheres a valorizarem a função "mãe" nos currículos. Vamos entender melhor essa história?

A Camila trabalhava em uma escola quando decidiu que era a hora de entrar em um novo capítulo da vida. A maternidade. "O desejo de ser mãe sempre foi muito latente. Eu criei muitas expectativas sobre essa maternidade, sobre como eu queria ser como mãe e, pra mim, era óbvio que eu ia dar conta de tudo sozinha. E aí, quando eu me vi mãe, eu tomei uma surpresa... Tive uma desconstrução desse meu imaginário para cair na realidade. Então, eu não tive o parto, eu não tive amamentação, eu me senti insegura, frustrada, muito sozinha. E eu voltei pra minha casa com aquele bebê no colo entendendo que eu tinha que dizer que nada tinha mudado. Esse foi um erro que eu cometi".

A Camila contou que tentou seguir assim até engravidar do segundo filho. Mas a frustração falou mais alto. "Eu engravidei de novo e pedi demissão grávida, porque eu me senti muito desamparada emocionalmente, muito confusa. Eu não sabia mais nem quem eu era direito. Eu me via frustrada como mãe e também questionando a minha entrega profissional. E foi quando eu achei que, se saísse do meu emprego, eu poderia me dedicar a essa função parental".

Ou seja, meninas, a Camila pensou que não daria para conciliar a função de mãe com a carreira profissional. Quantas de nós já passou por isso em algum momento da vida? Só que a Camila também amava atuar como pedagoga e o trabalho era um valor importante para ela. Com a cabeça cheia de medos, incertezas e frustrações, o nosso Mulherão se viu em um momento de fraqueza, que acabou se tornando um ponto-chave para a mudança de pensamento.
"Eu me lembro de um episódio com a minha filha mais velha em que eu gritei e dei um tapa na mão dela. Eu fiquei totalmente frustrada comigo naquele papel. Então, foi aí que nasceu a ideia de que, para educar, a gente precisa se tornar uma pessoa melhor. Que os nossos filhos nos convidam a tomar uma posição de liderança, de alguém que está disposto a crescer na vida, a aprender novas habilidades. Então, a gente tem que aprender a se comunicar melhor, a como gerir melhor o nosso tempo, como mediar conflitos, como tomar decisões complexas, como fazer a gestão de pessoas, ter paciência. Então, são essas habilidades que merecem estar no nosso currículo".

Depois de perceber isso tudo, a Camila se uniu com a amiga Michelle Terni, especialista em equidade de gênero. Em 2018, as duas deram início à consultoria Filhos no Currículo. "A gente ajuda a desconstruir esses vieses de que filho é uma barreira na carreira dos profissionais. Filho é uma potência, é um convite de desenvolvimento pessoal para os colaboradores, pras lideranças, pras empresas".

Atualmente, a consultoria atende a 20 empresas espalhadas pelo país, participando do processo de seleção e de palestras com os colaboradores. A pandemia também fez aumentar a discussão sobre o tema, com pais trabalhando de casa e dividindo o espaço com as crianças. "A pandemia escancarou a demanda de falar de filhos. É um assunto de todos e as empresas precisam cuidar disso se elas querem profissionais mais inteiros, mais felizes e se estiverem preocupadas com a pauta de equidade de gênero. É um assunto que todo mundo ganha, a gente tá falando de empresas, a gente tá falando de filhos, de famílias, de organizações".

A Camila ainda deixou um recado muito especial. "A gente tem que ser protagonista e não aceitar piadas, brincadeiras, entrevistas maldosas, perguntas que desmereçam nosso trabalho. A gente merece ser feliz e ser inteira nesses nossos papéis".

Muito interessante, né, meninas? Tudo o que nós aprendemos quando estamos nesse processo tão importante, que é o crescimento dos nossos filhos, se transforma em algo positivo na nossa vida. Vamos juntas?