Jorge Salvador de Oliveira, 53 anos, trabalha há mais de 14 anos na rede de supermercados Mundial. Antes, ele enfrentou dificuldades para conseguir uma vaga de emprego - Arquivo pessoal
Jorge Salvador de Oliveira, 53 anos, trabalha há mais de 14 anos na rede de supermercados Mundial. Antes, ele enfrentou dificuldades para conseguir uma vaga de empregoArquivo pessoal
Por Marina Cardoso

Rio - No ano passado, o Brasil bateu recorde de contratações de pessoas com algum tipo de deficiência. De acordo com levantamento feito pelo extinto Ministério do Trabalho, em 2018, o número de pessoas com deficiência admitidas chegou a mais de 46,9 mil profissionais, um crescimento de 20,6% em relação a 2017. Ainda segundo a pesquisa, o número do ano passado foi o maior desde 2003, quando começou a ser registrado. São dados para celebrar ainda mais com a aproximação do Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, no próximo sábado. Porém, especialistas afirmam que muitos obstáculos precisam ser enfrentados para os PcDs conquistarem oportunidades ou mesmo permanecer na vaga alcançada.

"Nos últimos anos, houve avanço no cenário de contratação de PcDs, precisamente a partir de 2004. Porém, ainda há muito o que ser feito. Mas há sim o que se comemorar", explica Carolina Ignarra, sócia e fundadora da Talento Incluir, consultoria de inclusão de pessoas com deficiência. 

O operador de perecíveis Jorge Salvador de Oliveira, de 53 anos, é um bom exemplo de profissional que driblou as obstáculos e conquistou uma vaga no mercado de trabalho. Há 14 anos, ele trabalha em uma unidade da rede de supermercado Mundial.

"Antes de conseguir esse emprego, enfrentei diversas dificuldades por causa da minha deficiência. Tenho problemas de locomoção e, por isso, percebia a desconfiança das pessoas para exercer determinadas funções. Ficava sempre no aguardo de me responderem, mas nunca vinha um retorno", afirma Oliveira.

Porém, a história dele mudou quando se candidatou para uma vaga na rede de supermercado. "Nunca desisti de enviar currículo. E foi aqui (no mercado) que me deram uma oportunidade de trabalho, para recomeçar depois do acidente de trânsito que me deixou com dificuldade de andar", explica.

Quem também conseguiu uma vaga de trabalho foi Creuton Faustino, 45, que é deficiente auditivo. Há quatro anos, ele atua como auxiliar de almoxarifado da DFL, empresa fabricante de produtos odontológicos.

"Antes de ingressar aqui, passei por um processo seletivo com o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Tenho adquirido bastante conhecimento com os meus colegas de trabalho", conta Faustino.

De acordo com Carolina Ignarra, as empresas precisam modificar a cultura empresarial e se preparar para receber funcionários PcDs.

"Há muito o que ser feito, por exemplo, criar um grupo de afinidade envolvendo a empresa e os funcionários, para os PcDs receberem apoio necessário. Há locais em que eles são contratados, mas falta um prédio acessível. Esse é um ponto que pode ser apresentado nesses grupos de envolvimento", explica. 

Ainda segundo ela, os gestores precisam promover um acompanhamento próximo desses funcionários. "É necessário fazer um envolvimento periódico, de dois em dois meses, ver o que foi delegado para ela. Dessa forma, o funcionário se desenvolverá rapidamente e no perfil que a empresa quer", finaliza Carolina.

LEVANTAMENTO

Dados da Santo Caos em parceria com a Catho, site de classificados de empregos, mostraram que menos de 10% dos profissionais com deficiência ocupam cargos de liderança.

"Capacidade de liderança estão ligadas a competências comportamentais e técnicas. Entretanto, sabemos que ter deficiência não impede uma pessoa de ter a capacidade de liderar. Dar oportunidade, representatividade e visibilidade são fundamentais para tirarmos os profissionais dos cargos de entrada. Afinal, a busca das organizações atualmente é por líderes com maior empatia, capacidade de mudança e adaptação" afirma Guilherme Françolin, sócio diretor da Santo Caos.

 

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