O deputado estadual André Ceciliano (PT) fala após votação da nova Mesa Diretora que irá conduzir os trabalhos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) durante o biênio (2019-2020)Tomaz Silva/Agência Brasil

Em seu quarto mandato como presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano é considerado um dos mais moderados e conciliadores dos líderes petistas fluminenses. Ceciliano iniciou sua vida política em 1998, sendo eleito para o cargo de deputado estadual. Anos depois, foi prefeito de Paracambi duas vezes. O candidato ao senado é autor do projeto que instituiu o Supera RJ, auxílio estadual a pessoas em vulnerabilidade, e da Emenda Constitucional que criou o Fundo Soberano.
Confira a entrevista exclusiva dada pelo candidato ao Jornal O Dia.
Para o senhor, qual é a questão mais urgente do Rio de Janeiro?
A questão mais urgente é a fome. Nós temos mais de 3 milhões de pessoas passando fome, temos famílias inteiras morando embaixo de marquises. Então, eu diria que o desalento e a fome são os maiores problemas agora.
Caso eleito, como pretende combater a fome?
Primeiro, eu tenho fé e esperança que serei eleito junto com o presidente Lula. Então, nós vamos não só manter os R$ 600, como aumentar para R$150 por criança no Bolsa Família, que vamos retornar! O que precisamos fazer, não é só o auxilio, mas dá uma porta de saída que é a geração de emprego e renda em nosso estado.
Quais são as principais pautas pretende levar ao Senado, caso eleito?
A questão estruturante do estado do Rio de Janeiro é a violência que a gente vive, ela impede, inclusive, o desenvolvimento econômico. Tenho conversado com o presidente Lula para que a gente possa criar o Ministério da Segurança Pública, dessa forma, iremos ajudar os estados efetivamente.
Quais interesses do Rio precisam ser melhor representados na Câmara Alta?
Não tenho dúvida de que falta, por parte da bancada do Senado, a defesa intransigente do estado do Rio. Defender os investimentos que não foram feitos nos últimos anos como: terminar o Arco Metropolitano, o complexo petroquímico de Itaboraí e investir no setor de óleo e gás. O Rio de Janeiro é o maior produtor de petróleo e gás do Brasil, mas nós não transformamos isso em desenvolvimento social econômico. O gás que a Petrobras vende, hoje, para as empresas de São Paulo, é mais barato que a molécula que vende para as empresas do Rio. Além disso, precisamos retomar a indústria naval, exigir que parte da frota que a Petrobras aluga anualmente faça os reparos e as manutenções aqui no estado. A Petrobras aluga mais de 350 embarcações de apoio e navios. Se tivéssemos 30% fazendo isso no Rio nós seguramente reabriríamos mais de dez estaleiros fechados, isso sem falar na construção.
Qual é a sua opinião sobre as emendas RP-9, que ficaram conhecidas como "orçamento secreto"?
Sou contrário! Isso é uma vergonha! O Executivo não ter o controle do orçamento é uma vergonha!
O Rio de Janeiro tem passado por uma crise na economia e no comércio. Como o senhor pretende atuar, se eleito, para que o governo federal estimule o comércio no estado?
Quando você melhora a renda da população, tem um ganho no salário mínimo e a população tem renda. Desde a redemocratização, esse é o único governo em que o salário mínimo não teve aumento real e isso é ruim pra classe trabalhadora. Quando você põe a população pobre no orçamento, quando dá renda e crédito para um trabalhador, ele consome. Quando ele consome, ele movimenta o comércio e a indústria.
Como vai atuar na distribuição de royalties para o estado do Rio de Janeiro?
Eu não tenho dúvidas de que um senador poderá negociar com as bancadas dos outros estados e revisar a lei que retirou o direito dos estados produtores. Precisamos ter um marco legal para você fazer uma repactuação em relação aos recursos que são direito do estado do Rio. Eu quero discutir no congresso, para que a gente possa fazer da mesma forma que hoje é distribuído o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE); o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), onde os impostos federais vão para o fundo e imediatamente são distribuídos. Quero vincular essa receita para educação e saúde, e com isso, uma vez por mês, ou a cada 15 dias, quando o governo fizer o leilão do óleo, que a gente tenha direito a esses recursos. Na minha opinião, o modelo de partilha não tem que ficar no fundo parado, para ser superávit para o Ministério da Economia, esse fundo tem que ser executado imediatamente.
O senhor acredita que a eleição para governador do RJ vai espelhar a eleição nacional? Caso Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, como será o seu relacionamento?
Primeiro, eu não trabalho com essa hipótese. O meu candidato é o presidente Lula, nós vamos ter de volta o melhor presidente da história do Brasil. O que estamos acompanhando é um grande interesse pela eleição nacional, pouco pra do estado e quase nada para deputados federais e estaduais e nenhum interesse para o Senado. Nós temos mais de 90% da população que não se decidiu para o Senado. Estou muito confiante que serei o senador eleito.
Qual sua estratégia para se destacar entre os outros candidatos ao senado?
O grande desafio que tenho é ser conhecido na eleição. As pessoas precisam conhecer minha história de dois mandatos como prefeito da cidade de Paracambi, onde transformamos uma antiga fábrica de tecidos em um complexo educacional. Hoje, nessa fábrica, estudam mais de 10 mil alunos, temos 16 cursos superiores públicos, sete pós-graduações, uma Escola de Música Villa-Lobos, uma escola de balé, uma escola técnica federal e uma escola técnica estadual. Todas funcionam nesse antigo complexo. Nós fizemos uma revolução na educação da cidade, não só com cursos técnicos e superiores, mas também na rede pública municipal. No meu governo, o aluno com 5 anos de idade copiava no quadro, lia e escrevia.
Como o senhor avalia o comportamento do Molon e do PSB em manter a candidatura mesmo com o pedido claro do PT para que o senhor fosse o único candidato da coligação?
Alguns dizem que existiu um acordo entre Molon e Freixo, que saiu inclusive na imprensa no ano passado. Mas não quero fazer juízo de valor desse acordo. O fato é que a direção nacional do PT, junto com a direção nacional do PSB, tinha um acordo: uma vez a aliança proposta no Rio formada, o PSB iria indicar o candidato ao governo e o PT ao Senado, esse era o acordo. Agora isso é passado para mim. Vamos olhar para frente, vamos trabalhar!
Como está o clima entre vocês? Como seria a configuração do palanque? Molon, Freixo e André Ceciliano?
Quando o PT realizar as atividades aqui quem estará presente serei eu, quando o PSB realizar ele estará presente. Isso pra mim é claro. Eu vou fazer campanha na Baixada Fluminense, Norte, Noroeste, Região Serrana… cada um vai fazer na sua área.
Em defesa da sua candidatura, eu gostaria de pedir que o senhor dissesse por que os eleitores deveriam escolhê-lo como senador.
Primeiro, pela experiência que eu adquiri ao longo desses anos que estou na vida pública. Transformei a cidade de Paracambi no período em que fui prefeito. A gente melhorou muito a saúde pública, nós construímos duas áreas industriais na cidade, agora ela tem muito mais oportunidade para a juventude e para seus cidadãos com empregos e formações. Eu já provei como parlamentar que consigo mudar a vida das pessoas, eu já sou testado! Eu tenho mais de 400 leis aprovadas no parlamento, sou autor do programa de renda emergencial do estado que é o Supera RJ, que atendeu mais de 300 mil famílias; eu sou autor da lei de vale gás para receber do governo federal, sou autor da lei que reduziu o ICMS das contas de energia da população mais carente.
A gente também mudou a Assembléia do estado. À frente da Alerj, economizamos uma média de R$ 500 milhões por ano. É uma administração com transparência, ouvindo os segmentos dos representantes dos trabalhadores, discutimos desenvolvimento social e a economia do Rio de Janeiro, e a carreira dos servidores públicos. Sou autor de mais de 40 leis que beneficiam a economia do estado, tirando impostos para que a gente possa retomar o mais rápido possível o emprego e renda do cidadão fluminense.