Grupos recorrem a pânico para mobilizar no WhatsApp e TelegramFabio Costa/Agencia O Dia
Os conteúdos ganharam tom de ultimato e de chamamento para uma "guerra". Como mostrou o Estadão, o alerta de que este 7 de Setembro será a "segunda independência" do Brasil também aparece em outdoors em Brasília.
Mensagens identificadas pela reportagem se referem ao Dia da Independência como "bomba atômica". "Preparem-se para a guerra!", disse um usuário num grupo bolsonarista com 32 mil pessoas no Telegram. "Nesta guerra do bem contra o mal o bem vence", publicou uma usuária em outro grupo, com mais de 60 mil membros na mesma rede.
Segundo o Monitor de WhatsApp e de Telegram da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que inspecionou as atividades de grupos de apoiadores do presidente nas duas plataformas entre 1 º de junho e agosto, alguns desses conteúdos ainda dizem que a data será "a última oportunidade de colocar o País no eixo".
Apelo
A mensagem mais compartilhada no WhatsApp em grupos bolsonaristas, segundo o relatório, diz que pesquisas internas mostram que Bolsonaro venceria a eleição e, por isso, o PT reagiria. Para impedir que isso ocorra, convocam para os atos. "O futuro dos nossos filhos e famílias está nas nossas mãos", diz o texto.
O material foi enviado 297 vezes por 257 diferentes usuários e apareceu em 173 grupos. Isso quer dizer que, apenas nesses grupos, a mensagem pode ter alcançado até 44 mil pessoas, que podem ter ainda compartilhado o texto para amigos, familiares e vizinhos.
A segunda mensagem com maior circulação é uma carta apócrifa atribuída a um jornalista bolsonarista que diz que "desistirá" se o presidente não "colocar o Brasil no eixo" no dia 7. "Te dei autorização para você meter o pé na porta do STF, do Congresso e mais onde for preciso. Estou ratificando esta autorização dia 7 de Setembro", afirma o texto.
Circulação
O monitor da UFMG acompanha mais de mil grupos públicos de WhatsApp e mais de 200 grupos e canais no Telegram, que funcionam como listas de transmissão. No WhatsApp, 569 grupos enviaram pouco mais de 9 mil mensagens por 2.562 usuários. No Telegram, foram 115 grupos, somando 3.700 mensagens enviadas por 973 usuários distintos.
No Telegram, duas das mensagens mais compartilhadas coincidem com as do WhatsApp: a sobre o plano do PT de impugnar a chapa de Bolsonaro ou de matar o presidente e a que cita a carta apócrifa
Para o professor de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Viktor Chagas, essas manifestações geralmente são apresentadas com tom de "última cartada", o que gera um entusiasmo nos grupos de WhatsApp. "É uma estratégia comum desde 2018. Fizemos um levantamento naquela época dos momentos em que as mensagens de caráter anticomunista circulavam mais, e vimos que havia correlação intensa entre momentos em que eram divulgadas pesquisas de opinião pública em que Bolsonaro aparecia relativamente estagnado", relatou.
A mensagem mais compartilhada no Telegram convida o usuário a ler um manifesto, publicado em outro link. Nesse novo endereço, o "povo patriota" determina que Bolsonaro prenda ou destitua "ministros, agentes e parlamentares em flagrante conluio criminoso contra o estado democrático de direito, a economia popular e a soberania nacional por criar um estado paralelo ditatorial".
Colaboração
A reportagem questionou a Presidência da República se o governo está ciente do teor da mobilização de apoiadores de Bolsonaro, mas não houve resposta. O Telegram não se posicionou sobre o assunto.
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