Campanha de Tarcísio foi acusada de pressionar cinegrafista que filmou o tiroteioMarcelo Camargo/Agência Brasil
A troca de tiros resultou na morte de um homem identificado como Felipe Lima, de 27 anos. Ele tinha passagens criminais por roubo e tráfico de drogas, de acordo com a Polícia Civil. Um vídeo obtido pelo Estadão mostra Lima pilotando uma moto; segundo a polícia, ele estava com Rafael Araújo na garupa — até agora só os dois foram identificados pelas autoridades.
O Estadão também teve acesso a outras imagens de Lima no chão em uma poça de sangue. Nenhuma arma foi encontrada com ele, apenas um pente de balas. Segundo as autoridades, Araújo está foragido. A investigação tenta identificar os demais suspeitos que aparecem nas gravações.
Dia 17: Investigação preliminar
Horas após o tiroteio, a Secreta de Segurança Pública (SSP) convocou entrevista coletiva para informar as primeiras conclusões da investigação preliminar. Segundo a pasta, a troca de tiros ocorreu a cerca de 100 metros do prédio onde o ex-ministro estava, e não houve disparos diretamente contra o edifício. A polícia afirmou que investigava todas as hipóteses — inclusive a de ataque à equipe de Tarcísio. Contudo, passou a trabalhar com a tese de que os tiros foram motivados pela presença da polícia no local, já que oficiais faziam a segurança do candidato.
Dia 17: Campanha de Bolsonaro fala em 'ataque criminoso'
Ainda no dia 17, a campanha de Jair Bolsonaro contradisse o que o próprio presidente havia afirmado horas antes e explorou o episódio na propaganda eleitoral do candidato à reeleição. Na inserção noturna reservada ao chefe do Executivo na televisão, foi incluído um texto que afirmava que Tarcísio havia sido vítima de um "ataque criminoso", vinculando o ocorrido a outros episódios, como o ataque a faca sofrido por Bolsonaro em 2018. Por sua parte, o adversário de Tarcísio no segundo turno, Fernando Haddad (PT), se manifestou condenando qualquer ato de violência, em especial na política.
Dia 25: Pedido de exclusão dos vídeos
Alguns dias após o ocorrido, o jornal Folha de S.Paulo revelou áudio em que um suposto assessor de Tarcísio pede a um cinegrafista da Jovem Pan que exclua as imagens captadas do tiroteio. O suposto membro da equipe do ex-ministro argumenta que o pedido é para não expor as pessoas que estavam no local. Porém, as imagens já haviam sido enviadas à emissora, que diz tê-las exibido integralmente.
A partir de então, o episódio passou a ser explorado com destaque pelo adversário de Tarcísio na disputa pelo governo, o também ex-ministro Fernando Haddad (PT). Em entrevista ao Estadão e à Rádio Eldorado, o petista afirmou que o pedido para exclusão dos vídeos é típico de quem "não confia na apuração de crimes" e na segurança pública.
Dando prosseguimento à investigação, a Polícia Civil divulgou nota afirmando ter requisitado todas as imagens gravadas não apenas pela Jovem Pan, mas por todas as emissoras que cobriam o evento, assim como de câmeras de segurança do comércio local e dos uniformes dos policiais. A corporação explica que esse é o procedimento padrão adotado sempre que há morte decorrente de confronto com a polícia.
Dia 26: Cinegrafista relata pressão por demissão; campanha de Tarcísio nega
O cinegrafista, que no primeiro momento não teve seu nome revelado, passou a se identificar como o repórter-cinematográfico Marcos Andrade, de 49 anos, e concedeu entrevista à Folha no dia seguinte à divulgação do áudio. Segundo ele, a campanha de Tarcísio "ordenou" que ele excluísse as imagens e, após a publicação da primeira reportagem sobre o pedido, fez pressão para que ele fosse demitido da Jovem Pan. A equipe do candidato nega essas alegações.
Dia 27: Tarcísio diz que pedido partiu de ex-Abin
O candidato do PT levantou o tema do tiroteio ao debate promovido pela TV Globo na quinta-feira, 27. Em resposta ao petista, Tarcísio confirmou que o pedido ocorreu, de fato, e identificou o autor como um ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sem dar mais detalhes.
Segundo o candidato do Republicanos, os cinegrafistas de várias emissoras foram retirados do local do tiroteio na van de sua equipe, que é blindada, e levados ao escritório de sua campanha na Vila Mariana. Ele justificou que o procedimento foi para colocá-los em segurança e oferecer uma "água" para aliviar o estresse. "A gente não deixou ninguém ficar para trás (...) Quando chegou ao escritório, a gente trouxe ele para dentro para se recuperar, para tomar uma água, para sair daquela situação de estresse, assim como a gente fez com a equipe da (TV) Bandeirantes e com outros jornalistas", afirmou Tarcísio.
Ele prosseguiu: "Ele pediu o seguinte: 'olha, apaga isso, apaga aquilo', sabe por quê? Preocupação com as pessoas, porque lá tinha equipe de produção, lá tinha equipe de comunicação, lá tinha outros profissionais, porque a campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue, e a preocupação foi com a segurança"
Haddad, então, argumentou que seu rival não deveria apagar imagens que poderiam ser úteis para a investigação, mas levá-las às autoridades competentes. "Sabe o que isso gera? Suspeição. A sociedade paulista está se perguntando por que isso aconteceu", disse o petista.
Quem é o servidor da Abin citado por Tarcísio?
O servidor da Abin mencionado por Tarcísio é Fabrício Cardoso de Paiva, de 48 anos. Ele é formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Após passagem de 13 anos pelo Exército como oficial de artilharia, ele entrou para a agência de inteligência em 2009. Em 2019, foi cedido ao Ministério da Infraestrutura, à época chefiado por Tarcísio, e compõe até hoje a equipe do ex-ministro. Embora cedido à pasta, ele não foi desligado da agência.
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