Tradicionalmente, número de eleitores que deixam de ir às urnas na segunda etapa do pleito é maior do que no primeiro turno Reprodução/Agência Brasil

Em uma das disputas mais acirradas desde a redemocratização do Brasil cada voto é decisivo. No próximo domingo (30), os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL) terão que enfrentar um inimigo invisível para a conquista de votos: a alta abstenção. Nos últimos anos, os dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que o número de eleitores que não compareceram às urnas no segundo turno costuma ser maior do que no primeiro.
Este ano, no dia 2 de outubro, 20,95% do eleitorado brasileiro não compareceu às respectivas seções eleitorais para escolher seus representantes. Nas três últimas eleições presidenciais, o número de faltosos no segundo turno foi de 21,30% em 2018, 21,10% em 2014 e 21,50% em 2010.
O professor de Ciência Política da UFRJ Jorge Chaloub diz que desde 2006 existe um “crescimento gradual” de abstenções, mas que os números ainda são menores do que anos anteriores, como na década de 90, por exemplo. Chaloub afirma, ainda, que “a abstenção tem uma certa margem histórica, mas que a perspectiva de um aumento gigantesco não se coloca”.
O cientista político acredita que um bom motivo para os brasileiros irem às urnas amanhã é que este ano, além de escolher o presidente, o que também está em jogo é a 'ordem política’ do país: “Essa eleição pode ser a mais acirrada desde 89. Acho que é um certo plebiscito sobre a própria ordem democrática pós 1988, pois além de decidir quem irá ocupar a presidência nos próximos quatro anos, está em jogo a nossa ordem democrática que foi construída nos últimos 35 anos. Então é uma disputa em torno da democracia, entre um candidato que lidera uma frente ampla e conta com algumas das principais lideranças do período, e de Bolsonaro, que fez sua carreira defendendo argumentos autoritários contra esta ordem democrática”.
A decisão do Superior Tribunal Federal de oferecer transporte gratuito no dia da eleição pode contribuir para a redução do índice de abstenção. É o que acredita o cientista político. Isso porque muitas pessoas deixam de comparecer às seções eleitorais por não terem dinheiro para a passagem: “Você pode não ir votar porque não tem recurso ou porque não compensa. O custo do transporte é muito alto para boa parte da população e a multa [por deixar de votar] não é um valor tão alto quanto o transporte. Então essa questão pode sim estimular as pessoas que estão sem dinheiro a irem votar”, afirma Chaloub.
O voto é umas das principais garantias que o cidadão tem para participar do processo eleitoral do país e foi conquistado depois de muita luta. O advogado eleitoral e corregedor da OAB-RJ Paulo Victor Lima diz que ele “é a principal ferramenta de mudança”. Para Lima, deixar de votar é “entregar a outrem o direito de escolher as políticas públicas que conduzirão o país pelos próximos anos e abster-se do voto não mudará a realidade de ter sempre mais do mesmo ocupando cadeiras de poder”, afirma.
Como forma de apelo, o corregedor geral da OAB-RJ clama ao leitor a ‘exercer sua cidadania’: “Use a principal arma contra as arbitrariedades e abusos de poder”, pede o advogado.