Apoiadores de Bolsonaro provocam interdição parcial na BR-493, em ItaboraíMarcos Porto/Agência O Dia

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou uma coletiva de imprensa no início da tarde desta terça-feira, 1º, em Brasília, para prestar esclarecimentos sobre a ação da corporação a respeito dos bloqueios feitos por caminhoneiros bolsonaristas em rodovias de todo o Brasil. A interdição é realizada desde a noite de domingo, 30, em forma de protesto à vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que derrotou Jair Bolsonaro (PL) com 50,9% dos votos, contra 49,1% para o atual presidente. 
A manifestação teve início por volta das 23h30 de domingo, com bloqueio de 23 pontos. Às 1h de segunda-feira, 31, já haviam 111 pontos obstruídos, informou a PRF. O ápice de interdições foi de 420 pontos. Durante a coletiva, a corporação afirmou que 306 locais já haviam sido liberados e 182 autuações de trânsito foram aplicadas. Números sobre prisões não foram divulgados. 
Questionados sobre a Operação Eleições, que fez com que diversos eleitores tivessem dificuldade para chegar a seus locais de votação, a PRF informou que a ação foi realizada para que "os cidadãos pudessem exercer o direito ao voto". De acordo com o inspetor, houve redução de 72% de feridos e 43% de mortos.
O Superior Tribunal Federal determinou que as polícias Rodoviária Federal e Militar desobstruíssem as vias. A corporação negou que tenha demorado para realizar uma ação contra os manifestantes. "Em momento algum a PRF se omitiu. Houve determinação do diretor para atuar desde o primeiro instante. Foi para isso que a gente se preparou e pra isso que a gente está atuando", afirmou. Segundo o inspetor Moura, "a ordem de serviço da Operação Eleições já cobria até 6h de segunda feira", 31, e que com o protesto, "30% de agentes a mais foram convocados, o que totaliza 400% a mais do que é usado normalmente."
A PRF informou que "a manifestação é complexa" e disse que por não conseguirem "mapear lideranças", ainda não conseguem "saber a motivação" do protesto. A corporação disse também que quando houver identificação dos líderes, estes serão "encaminhados à polícia". "Se a PRF identificar no local, será feita a prisão em flagrante", informou.
A corporação informou ainda que "não acredita no uso da força" e quer desobstruir as vias "com bastante parcimônia para não ferir os manifestantes".
A respeito do vídeo que circula nas redes sociais, onde um agente diz aos manifestantes que "a única ordem que nós temos é para estar aqui com vocês", o inspetor Mattos, negou que este tenha sido o direcionamento. "Não foi a ordem passada pelo gabinete de crise. Qualquer desvio de conduta de agente em campo vai ser apurada pela corregedoria", afirmou. De acordo com a PRF, apenas 3 casos de desvio de conduta foram identificados, no entanto, não houve punição aos envolvidos. "Os policiais foram identificados, não foram afastados e estão sendo orientados em como proceder. Não há afastamento preventivo pois precisamos da força", disse.
A PRF não comentou sobre o silêncio de Jair Bolsonaro, que já dura mais de 40 horas, e nem se um pronunciamento do mesmo ajudaria a ação. 
FenaPRF critica falta de posicionamento de Bolsonaro
A Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) e os Sindicatos dos Policiais Rodoviários Federais criticaram o silêncio do presidente Jair Bolsonaro. "A postura do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras", disse a nota, divulgada nesta terça-feira, 1º.
A atuação do diretor-geral Silvinei Vasques também foi criticada pela Federação dos PRFs. "Importa frisar que compete exclusivamente à gestão do Departamento de Polícia Rodoviária Federal providenciar e disponibilizar os meios e a organização do efetivo necessários para dar cumprimento à desobstrução das rodovias federais", aponta o texto. "Nesse sentido, o sistema sindical dos PRFs segue cobrando uma postura firme da direção do DPRF, para prover os meios necessários para que a corporação cumpra suas funções constitucionais, garantindo assim o direito de ir e vir da população e resguardando a segurança e integridade dos policiais", declara o documento.
Internautas criticaram a coletiva de imprensa
Nas redes sociais, os usuários criticaram o posicionamento da PRF. O ex-ministro da Saúde e senador de Pernambuco, Humberto Costa, escreveu: "Há registro de escolas fechadas por conta do bloqueio criminoso em estradas. Crianças sem aula por causa de bandidos que agem com apoio de Bolsonaro. O MJ e o DG da PRF sumidos. Na coletiva da PRF, jornalistas, como na ditadura, tiveram de mandar pergunta antecipada por escrito".
"PRF não consegue explicar em coletiva porque não age da mesma maneira que agiu nas eleições", reclamou a internauta Ana Rita.
"Em coletiva agora, PRF diz que tem que agir com bastante parcimônia para não ferir os "manifestantes". Quando Genivaldo foi assassinado num porta-malas, a mesma corporação emitiu nota justificando a atuação dizendo que ele "resistiu ativamente a uma abordagem", disse Bruno Fonseca, se referindo ao caso ocorrido em maio deste ano, quando Genivaldo de Jesus Santos foi torturado e assassinado pela Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba, Sergipe, utilizando uma câmara de gás improvisada. O caso foi bastante lembrado por usuários do Twitter, criticando a forma pacífica com a qual os agentes lidam com os protestantes.
"Coletiva da PRF é coisa de gente cínica. A PRF é culpada pois se junta ao bolsonarismo nessa esculhambação. Estradas estão bloqueadas por culpa da PRF. Uma patifaria", comentou o internauta Tarso Araújo.
Governadores se manifestaram sobre bloqueios
Rodrigo Garcia (PSDB), governador de São Paulo, afirmou que iriam "fichar e, eventualmente, prender manifestantes que resistirem a desobstruir as vias". "Faço um apelo para que as manifestações se encerrem. As eleições acabaram, vivemos em um País democrático, São Paulo respeitará o resultado das urnas e nenhuma manifestação fará com a que a democracia retroceda", afirmou.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), solicitou, em publicação no Instagram, "que as forças de segurança tomem as medidas para desobstruir qualquer via ou estrada que esteja interditada por manifestações". "A eleição já acabou e agora nós temos de assegurar o direito de todos de ir e vir e também que as mercadorias cheguem onde precisa para não haver desabastecimento. Vamos cumprir a lei", declarou Zema.