Por rafael.arantes
Rio - Poucos jogadores encarnaram, com tanto amor e devoção, o espírito rubro-negro. Já se passaram mais de 20 anos desde a sua despedida dos gramados, mas, até hoje, o ex-lateral Leandro é idolatrado pela torcida do Flamengo. Ás de ouro da famosa geração de 1980, o craque das pernas arqueadas foi protagonista das principais conquistas do clube, entre elas uma Copa Libertadores e um Mundial Interclubes, ambos em 1981. Talentoso ao extremo, Leandro jogava tanto que é considerado um dos três melhores laterais da história do futebol pentacampeão mundial.
Leandro tem grande ligação com o FlamengoCarlos Moraes / Agência O Dia

Morando há 16 anos em Cabo Frio, onde administra sua pousada e curte merecida aposentadoria, o craque relembrou a carreira e o orgulho de só ter jogado pelo Flamengo. “Quer coisa melhor do que ter vestido apenas essa camisa? Foi um privilégio. George Helal (ex-presidente) sempre dizia:

"Não tem Zico, Júnior, não tem ninguém. Flamenguista, rubro-negro, que encarnava quando vestia a camisa, era o Leandro’. Tenho loucura pelo Flamengo. Quando começo a falar, meus olhos enchem de lágrimas”, admite o ex-camisa 2.
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A paixão pelo clube, Leandro herdou do pai, Eliziário. Ela cresceu ao som do radinho de pilha, pelo qual a dupla ouvia a narração dos jogos, aos domingos. “Um dia, vi meu pai muito triste, porque o Flamengo perdia para o Fluminense por 2 a 1. Depois do segundo gol tricolor, eu disse que iria ao banheiro, mas fui à sala ajoelhar e rezar pelo empate. Quando voltei, saiu o gol. Foi uma alegria imensa. Depois perdemos o clássico, mas me senti realizado por papai do céu atender ao meu pedido. Depois a paixão só aumentou”, frisa.

Aumentou tanto que Leandro perdeu a conta das vezes em que entrou em êxtase no Maracanã: “O momento mágico foi no Fla-Flu de 1985, quando fiz o gol de empate (1 a 1) aos 45 minutos do segundo tempo. A gente massacrava e o gol não saia. Mas uma voz me dizia que algo aconteceria. No fim, peguei a sobra de bola e soltei a bomba. Não corri para comemorar o gol. Olhei para a cima e abri os braços, me perdi, sai do ar.”

Leandro fez história no FlamengoArquivo

Pelo gol, Leandro receberia comovente homenagem da família do locutor Jorge Cury. “Foi o último Fla-Flu que ele narrou. Pediram autorização para ele ser sepultado com minha camisa. Não sabia que ele gostava tanto de mim. Foi uma das maiores homenagens que recebi”.

Aposentadoria precoce
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Leandro surpreendeu muita gente ao comunicar a aposentadoria, em 1990, aos 31 anos de idade, após um jogo contra o Bangu. Uma decisão da qual se arrepende. “Hoje acho que poderia ter jogado mais, ter dado um tempo maior para o meu joelho se readaptar. Mas não tive paciência e não queria jogar só com o nome”, diz.
Para prolongar a carreira, Leandro passou a atuar como zagueiro, em 1983. Nem assim foi esquecido da Seleção. “Pelo Telê, voltaria jogar na lateral. Ele chegou a me dizer que queria apenas 40% do meu futebol como lateral”, diz.
Lateral se aposentou precocementeArquivo

Em 1985, Leandro foi diagnosticado com uma artrose no joelho equivalente a de uma pessoa de 65 anos. Mesmo assim, jogou bem por mais cinco anos e atingiu a histórica marca de 417 jogos pelo Flamengo.

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Copas de 82 e 86: marcas na carreira
A eliminação da Seleção no Mundial de 1982 (para a Itália) e a renúncia à Copa de 1986, em solidariedade ao corte de Renato Gaúcho, são os capítulos mais tristes da carreira de Leandro.
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“Vira e mexe me pego pensando no que podia ter feito a mais. De vez em quando revejo o jogo, mas paro quando o placar está 2 a 2. Não consigo ver o terceiro gol da Itália, nem o final. Fico irritado”, diz, com os olhos marejados.
Quatro anos depois viria nova frustração. Leandro não apareceu no dia do embarque para o México em solidariedade a Renato, cortado por indisciplina: “Tomei a decisão certa, mas demorei a decidir. Não percebi que a desobediência tática do Renato nos treinos poderia ter pesado, como o Zico me alertou, mas não me arrependo.”
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