Por rafael.arantes
Rio - Era para ser uma aparição discreta, com direito a comentário curto e trivial, na cerimônia da Fifa que premiou Cristiano Ronaldo como o melhor jogador do mundo, e homenageou o Brasil por seus cinco títulos mundiais. Mas o bicampeão Amarildo surpreendeu ao criticar a violência atual nos estádios brasileiros e pedir civilidade ao torcedor a menos de cinco meses do início da Copa.

O polêmico discurso de quase três minutos quebrou o protocolo, causou constrangimento e foi motivo até de chacota. Indignado com as críticas, Amarildo fez jus ao apelido de ‘Possesso’ que ganhou um dia do dramaturgo Nelson Rodrigues.

“Eu não estava ali para agradar a ninguém, estava ali para dizer o que se passa no nosso futebol. Tem muita gente que vai a esses eventos e tem até medo de falar. Eu falei o que achava que era o melhor para o povo brasileiro. Temos que acalmar o nosso torcedor. Precisamos torcer com amor e entusiasmo, mas sem violência”, desabafou o ex-jogador, decisivo na conquista do título da Copa de 1962, no Chile.

Amarildo participou da festa da Bola de Ouro da FifaEfe

Amarildo garantiu não ter recebido orientação do cerimonial sobre o tempo de sua participação. “Não falaram nada, mas sabia o momento de dar o corte. Poderia ter falado muito mais, mas outras pessoas tinham que dar a sua opinião. Então, dei um ‘stop’ quase na metade do que queria falar”, explicou.

Apesar das críticas, ele contou que foi parabenizado por várias personalidades após o discurso: “Não vou dizer quem, mas me disseram que falei o que era preciso. Quando voltei ao Brasil, também recebi parabéns de vários torcedores. Fiquei contente, é sinal que disse o certo. É isso o que interessa.”
Publicidade
A maior preocupação de Amarildo é que não se repita na Copa a barbárie que ocorreu no jogo entre Atlético-PR e Vasco, na última rodada do Campeonato Brasileiro, quando dezenas de torcedores brigaram e por pouco não houve uma tragédia.
“Foi uma vergonha para o Brasil. Aquilo não é esporte, é guerra e o mundo viu. Quero abrir os olhos dos comandantes do nosso futebol para o comportamento do torcedor. Corremos perigo enorme de termos problemas de violência. Se isso acontecer, a Copa pode ser até impugnada”, advertiu.
Publicidade
MANCHA NA HISTÓRIA DA AMARELINHA
Apaixonado por futebol, Amarildo tinha apenas 11 anos quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo para o Uruguai, em pleno Maracanã, em 1950. A partir daquele dia, a vontade de vencer no futebol e ganhar um Mundial ficou ainda mais forte. Doze anos depois, o sonho virou realidade. Ao substituir Pelé, machucado, na Copa de 1962, Amarildo reeditou a dupla do Botafogo com Garrincha e ajudou a comandar o time na conquista do bicampeonato.
Publicidade
Depois da Copa, o ‘Possesso’ ganhou o mundo. Jogou por Milan, Fiorentina, Roma e depois voltou ao Brasil para encerrou a carreira no Vasco. Mas, passados tantos anos, a derrota de 50 ainda está entalada na garganta:
“Foi uma coisa terrível, um tiro no coração do povo brasileiro, mas a torcida deu um exemplo de bom comportamento. Se fosse hoje, eu não sei o que poderia acontecer. Perdendo ou ganhando precisamos nos comportar como um povo civilizado.”