Por pedro.logato

Rio - O vice-campeonato mundial júnior, em 2006, na Guatemala, mostrava que Aline Silva tinha um futuro promissor. Mas nem mesmo aquela conquista era suficiente para que a jovem lutadora, então com 20 anos, acreditasse que poderia brilhar ainda mais no esporte. A sua sorte é que alguém apostava em seu potencial e brigava por ela mesmo à distância. Esse anjo da guarda era o técnico cubano Angel Aldama que, à frente da Seleção de luta olímpica, passou a perguntar por Aline insistentemente, e foi fundamental por sua convocação até a conquista da histórica medalha de prata no Mundial do Uzbequistão, no ano passado.

“Quando fui vice-campeã mundial júnior, ele era técnico da seleção júnior de Cuba e estava na competição. Não tive contato com ele na época, mas quando ele veio ao Brasil, em 2009, começou a questionar a confederação sobre aquela menina que viu lutar em 2006 e que medalhou. Contaram que eu estava em Curitiba treinando jiu-jítsu e que tive uma lesão na coluna. Eu perdia para a Rosângela Conceição (na categoria até 72kg) e por isso não estava convocada”, lembra Aline.

Aline Silva%2C medalhista e atleta de Luta Olimpica com o treinador cubano%2C Angel Torres AldamaMaira Coelho

As justificativas, no entanto, não convenciam Angel. “Ele insistia: ‘Tem que investir nela porque se foi medalhista júnior ela vai ser no sênior também. Ele brigou muito por mim”, conta a atleta.

Convicto do que estava fazendo, Angel não desistiu mesmo. “A outra era excelente atleta, a Rosângela, é verdade. Mais experiente também. No entanto, eu queria a Aline aqui. Uma pessoa que havia tido um resultado importante daqueles não podia ser desperdiçada”, entende o treinador.

A pedido dele, Aline conseguiu baixar o peso e foi convocada para a categoria até 67kg, até voltar finalmente para os 72kg em 2010. Mesmo assim, a parte emocional ainda deixava a desejar e pesava nas lutas. “A lesão que tive na coluna me debilitou muito. Quando voltei em 2010, perdia por falta de confiança. Mas ele sempre dizia que eu tinha condições”, conta a lutadora.

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O papel de Angel era também psicológico, de fazer Aline acreditar no seu potencial e, assim, mudar a forma como as adversárias a enxergavam. “Ela passou por um momento difícil, quando não conseguia o que queria. Mas eu sempre dizia para não desanimar. Trabalhamos muito em cima dos erros táticos que ela tinha. E aí fomos aperfeiçoando. Foi melhorando não só na maneira de lutar, mas na estrutura da posição. E fizemos ela acreditar que poderia conseguir. Chegou então o resultado em que sempre acreditamos, a medalha no Mundial (de 2014)”, conta Angel.

Mesmo quando não está no Rio com a Seleção, Aline mantém contato com o cubano, que manda mensagem para saber como estão os treinos em São Paulo, onde ela mora. “Ele é bem paizão ”, elogia Aline.

Mas ela também revela o lado durão de Angel. “É incrível. O tapete está cheio de atleta e não é para ele enxergar a gente. Na hora de fazer a técnica, ele quer eu faça sempre até o fim, como se fosse na luta. Mas tem dia em que estou mais cansada, aí faço até a metade e paro. De repente, escuto um grito:

“Aline, até o final!”. Eu penso: ‘Deus, de onde esse homem está me vendo? (risos)’. Na hora a gente acorda”, diverte-se Aline.

Aline Silva carrega treinador no coloMaira Coelho

Fundamental na evolução da lutadora, Angel sabe que ela gosta do seu estilo de comandar: “Tenho característica de ser rígido, duro. Sou exigente. Então, ela foi acreditando e gostando dos meus gritos. Ela mesma fala que precisa disso. Com todo amor e carinho, sempre estou torcendo por ela.”

O esforço nos treinos já deu resultados: em 2014, Aline brilhou com a conquista da prata no Mundial e emocionou o mestre. “Ele chorou horrores. Enquanto eu recebi a medalha, ele estava desaguando em lágrimas. Nem eu consegui chorar no dia porque não tinha caído a ficha. Ele dizia: ‘Eu sempre falei, eu sabia, você tem que confiar em mim’. E como você não vai confiar depois disso? Ele sempre disse, desde 2006, que eu tinha condições de medalhar no sênior. Foi o único”, agradece Aline.

Juntos, eles sonham agora com a consagração nos Jogos do Rio, em 2016. “Olimpíada é o grande sonho de todo professor e de todo atleta. Não é uma tarefa fácil. A luta é um esporte bem difícil. Sempre foi difícil pra ela, mas agora será ainda mais. Mas não é impossível. Todos estão de olho nela. Mas vamos continuar trabalhando”, avisa Angel.

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