Por victor.abreu

Rio - A Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro (FFSERJ) trabalha para recolocar o futsal do Rio no lugar que ele merece. A entidade está tocando projetos para reerguer a modalidade. Além das séries ouro e prata (destinada aos jogadores de primeiro ano), o órgão planeja realizar torneios regionais no interior e Região dos Lagos. Na oitava matéria da série O Salão do Rio, a reportagem do DIA conversou com o diretor-técnico da entidade, José Sebastião Ferreira, responsável pela execução das competições.

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Na série ouro são 16 equipes e na prata mais 14, entre as categorias sub-7, 9, 11, 13, 15 e 17. Campeonatos para Juvenil e Adulto somente no segundo semestre. Para estas duas categorias, a Federação trabalha para conseguir fechar a cobertura de uma emissora de televisão, dois canais já foram sondados: um fechado e outro na TV aberta. Sucesso em outras ligas, a série prata também foi adotada pela FFSERJ.

José Sebastião Ferreira%2C à esquerda%2C diretor-técnico da Federação Carioca de FutsalReprodução Facebook

"Normalmente os clubes quase não usam as crianças de primeiro ano. A grande verdade é que eles querem ganhar campeonato, não querem formar jogador. Então fazer esse tipo de campeonato faz com que eles usem esses jogadores mais novos que não conseguem ter oportunidade por ainda serem novos. Além disso, a série prata é mais barata, tem menos exigências e acaba aproximando os clubes menores. Caso ele consiga o acesso, ele terá de cumprir algumas exigências para jogar na ouro, mas pode optar por ficar na prata se não quiser essa vaga. Os jogos dá série prata são aqueles que vão a família toda, pai, mãe, irmão, vó, papagaio, é bem popular. Para muitos clubes é melhor ficar na prata com a casa cheia do que subir e passar dificuldades na ouro", disse o diretor-técnico da Federação, José Sebastião Ferreira.

Na Federação há taxa de inscrição em campeonatos, usada para compra de troféus e medalhas, e arbitragem. Uma das grande reclamações dos clubes é o valor desta taxa de arbitragem. O diretor-técnico da Federação explicou como é feito o cálculo e justificou a quantia.

"A verdade da taxa de arbitragem é que para quem paga é muito e para quem recebe é bem pouco. Nós levamos dois mesários e três árbitros para todos os jogos. Por dia, são três jogos, nós não repetimos a dupla de árbitros, e cada partida custa R$ 400 de taxa de arbitragem. Dividindo entre eles, não dá nem R$ 80 para cada. Em São Paulo, para dar um exemplo, os árbitros da CBFS só apitam o Juvenil e o Adulto. Aqui no Rio nós colocamos para apitar os jogos de base também. Só mostra para os pais e clubes o nosso compromisso em colocar um arbitragem qualificada nas nossas partidas", disse Ferreira. Sobre a sugestão da Federação arrumar um patrocinador para custear os gastos com arbitragem, o dirigente deu o seu diagnóstico.

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"Seria fácil, se não fosse difícil. Com os descontos que nós damos no pagamento das mensalidades, o clube pode pagar a taxa de arbitragem sem problemas. O clube só precisa pagar quando for jogar em casa. Então não é toda semana. Eu uma vez consegui um patrocinador que iria pagar a metade da taxa da arbitragem. Mas alguns clubes de camisa foram contra porque não queriam estampar o nome da empresa. Vontade de fazer campeonato mais barato ou até mesmo de graça eu tenho. Mas tem clubes que não querem, não posso obrigar ninguém", completou.

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Os times da série prata pagam a metade do valor das mensalidades em relação aos que estão na série ouro e ainda há desconto para pagamentos antes do dia 10. São R$ 600 (valor cheio) e R$ 300 (pagando adiantado). Na ouro é R$ 800 (cheio) e R$ 400 (adiantado) mensalmente. Dentro das competições promovidas pela Federação há duas disputas. Os oito melhores times classificados seguem para fase final, em busca do título principal. As demais equipes eliminadas seguem em um torneio separado, com o intuito de integrar ainda mais as crianças em um torneio secundário.

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Nos planos da Federação está a realização de um campeonato de escolinhas, já em fase de concepção, onde irá convidar olheiros dos clubes filiados para observar atletas. Cursos de arbitragem e de formação de treinadores também estão em pauta. Todo este movimento é o primeiro passo para reunir os "cacos" deixados por gestões passadas.

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"A Federação está quebrada (financeiramente). Não quero falar mal de quem já passou por aqui, mas para citar um exemplo, nós tínhamos uma sala comercial, que ocupava um andar inteiro, na Avenida Presidente Vargas e perdemos ela por falta de pagamento de condomínio e IPTU. Essa dívida continua rolando. Nós fazemos o que podemos para pagar e não deixar virar uma bola de neve. E em cima disso não conseguimos patrocínios para Federação porque nosso CNPJ está sujo. Estamos tentando pôr tudo em dia, mas não é de imediato", revelou o diretor-técnico.

A atual gestão está há apenas um ano no comando da Federação. Com sua chegada, diversos clubes retornaram aos torneios promovidos pela entidade. A reclamação dos clubes em dizer que "a Federação dificulta a nossa vida" também foi rebatida pela entidade.

"Marã voltou, Municipal voltou... Bangu. As pessoas, às vezes, gostam mais de viver na bagunça. Quando a gente mostra que tem de ter horário, comissão técnica com pessoas formadas, eles começam a ir embora. O Bangu estava devendo e demos isenção de tudo para tê-lo de novo aqui, Jacarepaguá é outro que está de volta. Mas tem clubes que na hora que a gente chega e passa tudo que tem de ter, eles preferem ficar nas ligas paralelas. São coisas básicas, placar, banheiros, marcação e tamanho de quadra, nenhum absurdo. A Federação procura e até ajuda naquilo que ela pode. Mas só que a maioria não consegue se adequar às normas da Federação", disse José Sebastião Ferreira. Sabendo da dificuldade dos clubes em criar fontes de renda, o dirigente cita alguns exemplos, pessoais e indiretos, de casos que graças ao planejamento as equipes conseguiram se estabelecer.

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"Para dar um exemplo, o Mello paga tudo só com o que ele vende no bar. Um clube pequeno daqui teve 300 pessoas em um jogo da série prata, ginásio lotado, bar lucrando. Quando eles querem, eles dão um jeito. Quando eu coloquei o Mackenzie (nota: Ferreira trabalhou no clube do Méier e foi conselheiro do mesmo) na Federação, eu conversei com o presidente e troquei todos os preços no bar, mas foram centavos, por exemplo: hambúrguer era R$ 2,30 e em dias de jogos era R$ 2,50, esses vinte centavos ficam para o futsal. Ele topou e só com a diferença desses centavos eu levantei dinheiro para transferências (os clubes pagam um taxa de transferência para FFSERJ para trocar um jogador de equipe) e taxas de arbitragem. Se o time mobiliza o seu quadro social e cria movimento, as ideias surgem", comentou.

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Ciente de que o movimento em prol do retorno da força do futsal começa pela CBFS, a Federação do Rio pediu mais apoio da entidade máxima do futebol de salão.

"Só uma integrante da nova diretoria da CBFS, que era da situação, e é ela que estão pegando no pé (jogadores). Não a conheço, mas às vezes que precisamos dela aqui na Federação, ela (Louise Bedê) nos ajudou. Algumas coisas têm que ser mudadas. Enquanto houver briga na CBFS, não teremos patrocínio. Alguém tem que sentar para ver o que se pode fazer, rever conta, pôr em dia e retornar ao que era antes. Vamos esperar o que o Madeira (presidente) vai colocar. Nós fomos uma das federações que apoiamos. Não é que ele seja o melhor, mas precisamos ver o que pode ser feito"

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Clubes expõem seus questionamentos e elogios à Federação

Entre tantas equipes filiadas, há aqueles clubes que estão satisfeitos com o trabalho realizado pela Federação Carioca de Futsal e tantos outros que cobram mais resultados. Entre as reclamações estão: falta de diálogo entre times e a entidade, mensalidades e taxa de arbitragem caras.

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Jorge Mendes%2C vice de esporte da Associação Atlética Vila Isabel. Clube retornará ao futsal no segundo semestre deste anoRafael Arantes / Divulgação

“As Federações (de diversos esportes) estão falidas. Acho que mostrar para nós que há condição de reduzir a arbitragem, procurar uma empresa de material esportivo, buscar parceria em empresas, é esse tipo de imagem positiva que ajuda os clubes nas suas negociações particulares. O lado financeiro nem é isso que eu busco. As pessoas não têm noção de quanto custa manter um clube. Minha maior preocupação é que a arbitragem é bem mais cara do que no basquete. O valor é inviável para um dia inteiro de competições como acontece aos fins de semana”, disse Jorge Mendes, vice de esporte da Associação Atlética Vila Isabel. O clube retornará aos torneios promovidos pela Federação no segundo semestre deste ano.

Por outro lado, o Sport Club Mackenzie é um dos que comemoram a diminuição das taxas da Federação e também faz elogios aos gestores da Rio Futsal, liga que abriga diversos clubes que não possuem condições de estar em torneios da FFSERJ. Para José Marcos Braziellas, Vice de Esportes, as ligas tinham de tentar uma unificação para fortalecer o futsal no estado.

"Não acho saudável (essa quantidade de ligas). Acho que essa iniciativa da Federação em criar uma série prata, por mais que conteste essa decisão, é um primeiro passo para unificar tudo em um local só. Acho que esses gestores das ligas tinham de reunir e propor isso. 'Você fica com a prata, você com a bronze, você com a ouro' e vamos fazer um acordo: ser uma coisa só. Precisa acabar com isso de jogar em duas, o atleta que jogar em uma não pode estar na outra. Assim daria mais oportunidades para as crianças", disse o dirigente.

Mesmo em boa fase administrativamente, o Grajaú Country Club sente falta de ver os campeonatos da Federação do Rio lotados de equipes.

"Muitos clubes não estão podendo disputar torneios da Federação pelo custo. A arbitragem é onerosa. O que eu peço é que se estude uma redução de taxas. O esporte está seguindo um modelo profissional, mas alguns outros clubes ainda estão no amadorismo para acompanhar este ritmo", Mário Leão, vice-presidente de esportes do Country. Quem está de fora da Federação, resta uma oportunidade para retornar.

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"Vontade de retornar à Federação a gente tem, mas é muito caro. Na Rio Futsal as taxas são bem menores. Quando a nossa diretoria assumiu o clube, nós conseguimos limpar quase todas nossas dívidas, o Social está praticamente zerado. Nós não temos nenhum débito com eles (Federação). Mas falta patrocínio. Sem ele eu não consigo jogar na Federação. Ela não dá chance de os clubes de bairros voltarem. Antigamente tinha 50 times disputando, hoje deve ter poucos. É triste essa situação", concluiu o gerente do Social Ramos Clube, Cesar Augusto Barros.

Reportagem de Victor Abreu

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