Por bferreira

Rio - Ainda menino, Isaquias colocou a canoa no Rio das Contas e partiu para ganhar o mundo. Após enfrentar correntezas e marés de dificuldades, o filho de Ubaitaba, enfim, voltou para casa, e com três medalhas na bagagem: duas de prata e uma de bronze conquistadas nos Jogos Olímpicos do Rio. O jovem sonhador do interior da Bahia virou ídolo e agora inspira outras crianças a seguir seu caminho.

Isaquias Queiroz foi o destaque individual brasileiro na Rio 2016Clayton de Souza / Estadão / NOPP

“Espero que a cidade continue sendo valorizada. Um dia vou parar, então é preciso trabalhar no surgimento de novos atletas, para que continuem o legado no esporte. Espero que a garotada de Ubaitaba se influencie e pense que é possível, olhe para meu exemplo e sinta que é capaz”, torce.

Ubaitaba significa ‘Terra das Canoas’ em tupi-guarani. O Rio das Contas, que atravessa o município com pouco mais de 20 mil habitantes, foi o primeiro local de treinamento de Isaquias. Canhoto, ele impressionou com suas remadas, que o levaram ao Mundial de Canoagem: foi ouro em 2013, 2014 e 2015, além de obter outras duas medalhas douradas no Pan-Americano de Toronto-2015.

OBJETIVO: O OURO EM TÓQUIO

Quem olha para a vasta coleção, no entanto, não imagina o quanto ele remou contra a maré: aos 10 anos teve de extrair um rim após cair de uma árvore. Aos 21, sofreu um grave acidente de carro, mas saiu ileso. Águas passadas. Apontado como fenômeno do esporte brasileiro, o baiano se consagrou na Olimpíada, e se tornou o maior medalhista do país em uma única edição dos Jogos. Conquistas de quem sempre teve a vontade de fazer a diferença.

“Quando eu era criança, nunca quis ser só mais um na sociedade, queria ser diferenciado. Hoje eu consegui que tudo mundo me reconheça pelo meu trabalho: sou o Isaquias da canoagem. Minha participação na Olimpíada foi para além de Ubaitaba, foi para todo o Brasil”, diz.

Isaquias Queiroz conquistou três medalhas na Olimpíada do RioMárcio Mercante / Agência O Dia

Medalhista nas categorias C1 200m, C1 1000m e C2 1000m — esta última ao lado do também baiano Erlon de Souza —, Isaquias ganhou fama após o Jogos, mas ainda fica desconcertado ao ver os rios de lágrimas nos olhos das crianças.

“Um local com muitos adultos tem uma energia diferente de um local com crianças. Quando chego em algum colégio, a meninada chora, são rios de lágrimas. Eu penso que ainda não sou ninguém, fico sem saber como reagir, mas me sinto orgulhoso ao vê-los chorando quando eu me apresento”, conta o atleta, que lamenta não poder repetir as três medalhas em Tóquio, já que a prova do C1 200m saiu do programa olímpico.

“Em Atenas-2004, eram quatro provas, em 2012 o número caiu para três, e, no Japão, serão duas. Minha preocupação é: em 2024 será apenas uma? Tudo é adaptação, mas ficou injusto. Espero que vejam o erro e mudem isso”, pede Isaquias, que agora sonha levar para Ubaitaba os ouros que estarão escondidos no outro lado do mundo.

Reportagem de Yuri Eiras

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