São Paulo - Um esporte de brutamontes praticado com nobreza por legítimos cavalheiros vem conquistando o coração dos brasileiros. O namoro é antigo, desde que o rugby e o futebol desembarcaram no Brasil trazidos pelo inglês Charles Miller, no século 19. De lá para cá, os irmãos bretões tomaram rumos opostos. Enquanto um virou mania nacional, o outro passou décadas no esquecimento.
Mas os rumos desse esporte mudaram de vez com a criação da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), em 2010, e a grande visibilidade do esporte na Rio-2016. A nova entidade, que sucedeu a todas criadas anteriormente — União de Rugby do Brasil (URB) e Associação Brasileira de Rugby (ABR) — , foi fundada para se adequar às normas vigentes no país.
Tão logo atraiu parceiros e em pouco tempo conquistou reconhecimento internacional. Tanto que foi eleita por dois anos consecutivos como uma das melhores em gestão esportiva na única premiação na América Latina do gênero. Com boa reputação, hoje a CBRu orgulha-se de ter 16 patrocinadores, 11 parceiros e um orçamento anual na casa dos R$ 20 milhões. Nada mau para uma entidade que há sete anos tinha R$ 900 mil no caixa de verba anual.
“Começamos praticamente do zero com um modelo de gestão profissional e transparente, que não existia no Brasil. Conseguimos nos últimos anos muitos patrocinadores e resultados esportivos, que em 2013 e 2014 eram impossíveis de se imaginar. O nosso maior desejo é popularizar o esporte para que em 2023 disputemos a Copa do Mundo”, aposta o CEO da CBRu, o argentino Agustín Danza.
Mas, para atingir meta tão ambiciosa, é fundamental que o esporte seja popularizado no Brasil e, consequentemente, a Seleção consiga resultados muito mais expressivos. Um passo gigantesco foi a volta do esporte ao calendário olímpico, em 2016 — na modalidade de Sevens, praticada por times com sete jogadores de cada lado —, o que não acontecia há 92 anos. “É um trabalho de muitas áreas, mas a principal ferramenta de disseminação é uma Seleção que jogue bem e ganhe. Quando você ganha, as crianças amam, você cria ídolos, surgem polos que atraem praticantes. Sem praticantes, não adianta”, afirma Danza.
Hoje, há no Brasil 60 mil praticantes, 300 clubes filiados e 3,2 milhões de fãs, segundo um estudo do instituto de pesquisas e marketing esportivo Ibope Repucom. Números expressivos que fizeram com que a International Rugby Board (IRB), a entidade máxima do esporte, aclamasse o Brasil (o 31º do ranking mundial da IRB, que conta com 103 países) como um das prioridades estratégicas de investimento. Com tanto potencial esportivo, não faltam patrocinadores. Durante a 7ª edição do Troféu Brasil de Rugby, em São Paulo, a AccorHotels, uma gigante rede hoteleira mundial, anunciou contrato de patrocínio de dois anos com a CBRu, com a possibilidade de renovação por mais dois.
“Não é só uma parceria financeira, é mais profundo do que isso. A nossa ideia é acompanhar a confederação no ciclo olímpico. O rugby tem valores muitos fortes de respeito ao adversário, ao árbitro. Estamos muito orgulhosos em dar início a essa parceria”, afirma Patrick Mendes, CEO da AccorHotels na América do Sul.
Dois outros pesos-pesados do mercado esportivo apostam no rugby. Um deles são os Correios, que fecharam em fevereiro contrato de dois anos com a CBRu, no valor de R$ 980 mil anual. “O rugby tem demonstrado crescimento muito grande nos últimos anos. Só em 2016 teve aumento de 15% em relação ao número de praticantes. O país precisa de esportes alternativos”, diz José Furian Filho, vice-presidente de Logística dos Correios.
O outro gigante é o Bradesco, patrocinador master da CBRu desde 2010 e que renovou até Tóquio-2020. “Foi uma grande aposta em uma época que o esporte não era muito conhecido no Brasil. Mas isso foi mudando. Outro dia assisti pela TV a um jogo de rugby no Morumbi. Tinha dez mil pessoas, mesmo chovendo”, conta Fábio Dragone, superintendente-executivo do Bradesco.
Confiantes, os atletas apostam no futuro. “O Brasil tem enorme potencial enorme. Se fizer tudo certo, em dez anos estará entre os dez melhores do mundo”, aposta Yan Mota Rosetti, jogador do Club Universitário de Buenos Aires (ARG), que recebeu no Troféu Brasil o prêmio de melhor atleta masculino de rúgbi XV — modalidade clássica do esporte, com 15 jogadores de cada lado. Para Leila Santos, revelação feminina, é nítido o caminho da evolução. “Tinha dez anos quando comecei a jogar e mudou muito. Eram outras regras, outros níveis, a gente não tinha tanto contato com a Seleção. O rugby veio para ficar”, acredita.
A repórter viajou a convite da Confederação