São Paulo - Durante o programa 'Bem, Amigos!', do SporTV, Galvão Bueno soltou o verbo sobre os episódios lamentáveis envolvendo a torcida do Vasco em São Januário, após o clássico contra o Flamengo, que terminou em confusão, arremesso de bombas no gramado e torcedor morto com um tiro no peito.
"São vândalos, bandidos, marginais, travestidos de torcedores usando a camisa de um clube. Não são torcedores em hipótese alguma. Não é uma questão do jogo de ontem, de São Januário, não é uma questão de bandidos vestidos com a camisa do Vasco. A coisa vai muito mais além, se espalha pelo Brasil. É um momento de muita seriedade", detonou Galvão Bueno.
Galvão também citou os conflitos entre torcedores do Internacional e a Brigada Militar de Porto Alegre após o empate colorado contra o Criciúma, também no último sábado, no Beira-Rio, e as ameaças de morte ao presidente do Paysandu há duas semanas.
Confira na íntegra o desabafo de Galvão Bueno
"São vândalos, bandidos, marginais, travestidos de torcedores usando a camisa de um clube. Não são torcedores em hipótese alguma. Não é uma questão do jogo de ontem, de São Januário, não é uma questão de bandidos vestidos com a camisa do Vasco. A coisa vai muito mais além, se espalha pelo Brasil. É um momento de muita seriedade e de grande preocupação.
Estamos diante de um momento especialmente delicado e perigosíssimo no futebol brasileiro. Antes fosse uma derrota em campo da seleção, do meu time, do seu time, não é. Nesse ano, todos nós nos envergonhamos do que vimos em São Januário. Vasco e Flamengo, o clássico dos milhões, virou o clássico dos rojões.
A paixão pelo time virou desespero para salvar a vida. Do lado de fora, uma morte. Também no sábado, no Beira-Rio, houve um conflito entre a brigada militar e torcedores do Internacional, porque o time empatou em casa com o Criciúma. Domingo retrasado, em Belém, dois marginais vieram numa moto, de rosto coberto, pararam o carro do presidente do Paysandu, intimidaram o presidente com um revólver e disseram que se o Paysandu cair para a (Série) C, ‘nós matamos você e esse maluco aqui’. Gente, o maluco é uma criança adorável, amada, um autista. Ele (o presidente) renunciou. O que mais ele tinha para fazer depois de uma cena dessa?
Há pouco tempo foi em Goiás, há poucos meses foi na frente do estádio Nilton Santos, também no Rio. Selvageria, ódio, vandalismo, violência, palavras que não rimam com futebol. Eu não posso aceitar que tenha trabalhado 43 anos me comunicando e dividindo emoções com esse tipo de gente, marginais, vândalos e, acima de tudo, covardes, porque só são fortes quando estão em maioria. Eu e qualquer outro comunicador não podemos chamá-los de torcedores, porque eles não torcem, eles distorcem tudo de bom que o esporte trás para a sociedade. Repito sempre que esporte é comunhão, é alegria, é tristeza, é vitória, é derrota, é uma lição de vida a cada partida. Eu me nego a chamar de torcedores quem no estádio se arma para ferir, machucar, para matar.
Em vários clubes, dirigentes de oposição, de situação usam torcida para interesse próprio, e isso não é novo, não, no futebol brasileiro. Manipulam e incentivam o caos para colher os frutos lá na frente, mas que frutos são esses? É um fruto podre, contaminado. O que eles querem, estádios vazios? O som do vento durante um gol? Todos precisam ajudar e colaborar, todos. De que adianta proibir uma torcida organizada? As bandeiras, as camisas da torcida ficam na sede, não entram, mas o integrante que só quer baderna vai passando pela roleta, vai carregando o seu ódio irracional para dentro do estádio, vai carregando a bomba caseira.
Que a tecnologia seja usada para o cumprimento da lei, que os torcedores verdadeiros sufoquem os covardes, que a polícia haja com mais rigor, rigor de inteligência, não de violência, e que a justiça seja implacável, que o exemplo venha de cima, começando dos que me representam lá em cima. Tá difícil, também. Passando por jogadores, torcedores, dirigentes, jornalistas. O futebol que nós, vocês aí amamos tanto, ele é nosso. Não é deles, não. Precisamos de providências urgentes e lembrar que a lei do futebol vai até um certo limite. Depois, é civil, criminal, é um outro tipo de justiça que tem que ser empregada".