Por caio.belandi
Rio - Tiffany Abreu está mesmo disposta a quebrar barreiras. Aos 33 anos, a ponteira/oposta vive a expectativa de ser a primeira transexual a atuar na Superliga feminina de vôlei, após ter sido anunciada nesta semana como novo reforço do Vôlei Bauru (SP). Feliz com a receptividade que encontrou no time paulista, ela explica que sua força física está longe de ser a mesma de antes do tratamento hormonal. E, para quem acredita que tem vantagem física em competições femininas, avisa que está dentro de todas as regras estipuladas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Tiffany chegou ao Bauru em julho%2C após cirurgia na mão esquerdaReprodução Twitter

"Fui recebida simplesmente como uma jogadora qualquer, como novo reforço, nova companheira. Não tenho nada que reclamar. Estou sendo muito bem recebida. Até pela torcida também, pela cidade de Bauru, fui muito bem acolhida. Estou muito feliz", conta Tiffany, que já vinha mantendo a forma na equipe paulista após uma cirurgia na mão esquerda e nesta semana finalmente foi oficializada como jogadora do time que tem a campeã olímpica Paula Pequeno no elenco.

Mudança de estilo de jogo

Ela já havia feito história ao ser tornar a primeira transexual brasileira a atuar no vôlei feminino, pelo Golem Volley, da Segunda Divisão do Campeonato Italiano. A autorização veio com o cumprimento de algumas regras, como o tratamento hormonal que controla o nível de testosterona na corrente sanguínea. "É uma lei sobre fatos, não uma lei inventada por alguém. Você tem que estar em todos os pontos certos. Não é só ser uma trans e jogar. Não estou fazendo nada de errado, estou falando o que a lei fala. Se a lei fala: 'Você não trabalha', eu não trabalho. A partir do momento em que estava com meus hormônios, com a minha cirurgia e com os meus documentos todos femininos, eu fiquei apta a jogar o feminino. E aqui estou", diz.

Goiana, Tiffany já havia disputado campeonatos masculinos no Brasil e no exterior antes de fazer a transição de gênero, concluída quando defendia um clube da Segunda Divisão belga. No início deste ano, recebeu permissão da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para competir em ligas femininas, tendo disputado a temporada pelo Golem Volley. Ela conta como o tratamento hormonal mudou seu estilo de jogo. "Antigamente eu era de força no masculino. Quando eu comecei a minha transição, tive que virar de habilidade. Porém, no feminino, já é muito diferente. Eu virei uma jogadora de força no feminino, mas com muita habilidade. No masculino, eu era de muita força, hoje não consigo nem brincar com eles", explica.
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A jogadora diz que ainda há discriminação com os transexuais, mas acredita que esse cenário possa mudar: "O preconceito está em qualquer lugar. A gente tem que seguir em frente, com preconceito ou sem. Nós podemos e primeiramente temos que acreditar em nós. Depois a sociedade vai nos aceitando aos poucos. Existe ainda muito preconceito, mas pouco a pouco as barreiras vão sendo quebradas. Eu acredito muito no nosso país."
Novamente com os brasileiros
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Tiffany, inclusive, está animada para jogar diante da torcida brasileira. "Todo jogo é um Carnaval que eles fazem. A torcida faz a festa deles. É maravilhoso, seja contra ou a favor. Estou com o coração na boca porque é uma emoção muito grande", ressalta, recordando a passagem pelo vôlei italiano: "Nas primeiras semanas lá, eu estava com um pouco de medo porque era muito novo para mim. Mas depois tudo se torna normal e você acaba se acostumando. No fim, tive um balanço muito bom. Fiz uma liga muito boa. Hoje estou melhor fisicamente do que quando estava na Itália porque aqui no Brasil a gente malha mais, o trabalho é muito mais forte", compara.
Após a temporada na Itália, Tiffany acabou passando por um processo de reabilitação devido a uma lesão. "Depois que eu saí da Itália, tive dois meses de férias na Bélgica e, voltando ao Brasil, tive uma lesão na mão esquerda e acabei passando por uma cirurgia. Consegui fazer a minha reabilitação aqui no Brasil. E agora já estou aptar a jogar novamente", avisa ela, pronta para quebrar mais uma barreira, agora diante da torcida brasileira.