Meio-campista FormigaFoto: Sam Robles/CBF
Formiga fez questão de pontuar, também, a necessidade de permanecer sempre determinada a conseguir superar os obstáculos e a dificuldade de conseguir manter esse sentimento através de um trabalho mental intenso. Não a toa, o conteúdo já começa com a seguinte menção:
- Uma das partes mais difíceis da preparação para disputar uma Olimpíada é a nossa cabeça. Já vi tantas coisas. Não faltou chance de desistir. E acredite, para chegar até aqui, todo mundo teve que superar a vontade de desistir algumas vezes.
Uma das partes mais difíceis da preparação para disputar uma Olimpíada é a nossa cabeça. Já vi tantas coisas. Não faltou chance de desistir. E acredite, para chegar até aqui, todo mundo teve que superar a vontade de desistir algumas vezes.
Talvez quem olhe de fora não tenha noção da dificuldade que é estar e se manter entre as melhores. Não é nem um pouco fácil, mas temos que persistir.
Tem que ter cabeça boa, cara. E sempre dar o máximo. Dentro de campo, quando a bola rola, você acaba esquecendo de tudo e só quer dar o seu melhor, se divertir. Mas fora dele, lidar com a própria cabeça é um desafio. Tem que ter coragem.
Só que hoje, 43 anos nas costas, mais experiente, madura, tudo fica mais leve. Em compensação, no campo não é assim, né? Você tem que estar ali, todo santo dia, fazendo a mesma coisa.... Tem que botar muita vontade, muita gana, tem que querer mais que todo mundo.
Algo dentro de mim me faz crer que vai ser dessa vez, sabe? O que não quer dizer que das outras vezes não tinha, mas acho que algumas condições que antes a gente teve, algumas situações no meio do caminho, acabaram atrapalhando.
Esse sexto sentido tá me dizendo que algo vai ser muito bom realmente, que dessa vez vem essa medalha. Mas o que me deixa mais tranquila mesmo é ter a certeza de que estamos fazendo um ótimo trabalho. Eu sinto uma energia muito positiva. É diferente.
Estar vivendo isso na minha última Olimpíada... Isso me dá um gás a mais. Não que eu precise de motivação para jogar futebol. Motivada eu sempre estou, né? Mas, por essa ser minha última Olimpíada, tenho sede em dobro, uma vontade de correr duas vezes mais, de me doar 200% pelo time, para ganhar essa medalha de ouro.
Esse elenco acho que é o mais jovem, as meninas são bem novas. Isso é fundamental. Não para o meu ego, por ser a mais experiente e tal, e dizer que é a xerife que dirige o carro. Nada a ver. Mas por poder acrescentar algo na vida dessas meninas, elas me olharem e falarem assim:
“Pô, 43 anos e tá aqui até hoje lutando. Então eu quero o mesmo, eu vou lutar também por isso, para continuar dessa forma”.
Eu me sinto assim, um espelho para elas. Para que sigam sonhando, que lutem por seus sonhos. Eu sei do que tô falando, acredite. Passei por isso quando cheguei aqui. As mais experientes me ensinando, dizendo aonde eu tinha que ir.
Daí veio essa minha responsabilidade, de passar o bastão da melhor maneira possível, e também recebê-las de braços abertos e dizer: “a casa é sua”. Foi assim que fizeram comigo.
E elas chegaram junto. A união desse grupo é impressionante. Você olha e fala “cara, a gente está querendo muito aquilo”. Todo mundo tem exata noção do que representa uma medalha, da importância do que estamos vivendo. Todas têm essa consciência.
Ah, e vou te falar: faz muita diferença saber que a torcida está com a gente. Antigamente, não sabíamos se nosso jogo ia passar, se poderiam acompanhar, se sabiam os nossos nomes. Hoje, a gente recebe uma linda corrente de apoio e carinho todos os dias. Gente que, a milhares de quilômetros de distância, tira um tempo do dia para mandar uma mensagem, um vídeo, para desejar sorte.
“Vamos lá!”
“Estamos com vocês!”
“O Brasil se orgulha de vocês!”
Isso mexe com a gente, sabe? Parece pouco. Mas o que, como jogadora de futebol, como brasileira, pode te emocionar mais do que esse amor? É uma gratidão enorme.
E assim, eu já tenho alguma vivência no futebol feminino, né? Mas não vou mentir: a ansiedade ainda me pega. A gente sempre tenta controlar, mas bate aquele nervosinho, aquele frio na barriga. É normal.
Sei a sensação de estar em um pódio olímpico e quero muito viver isso de novo. Temos totais condições de alcançar esse objetivo. Mas sabemos que o resultado também envolve muitas coisas que nem sempre se pode controlar.
Queremos sempre vencer, mas queremos, acima de tudo, lutar por nossos ideais, pelo que a gente representa, por quem se identifica conosco. Não por mim, mas pela modalidade, pela galera que vai chegar depois de mim. Para que elas tenham um lugar ao sol.
Quando a cortina baixar e a Formiga não estiver mais no meio de campo da Seleção, será incrível se lembrarem de mim como medalhista de ouro. Mas, pra ser sincera, o que me define não está na cor de uma medalha. Tá no suor, tá na minha história, tá em tudo que consegui fazer pelo futebol. É assim que gostaria de ser lembrada: “Formiga, uma guerreira do Brasil”.
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