Rio - A funcionária da CBF que fez denúncia de assédio contra o presidente afastado da entidade, Rogério Caboclo, retornou ao trabalho na entidade máxima do futebol e resolveu falar abertamente sobre o caso ao programa 'Fantástico', da Globo, neste domingo.
A secretária, que não mostrou o rosto, retornou ao trabalho no dia 1º de setembro, após uma licença médica de cinco meses. Os atos de Rogério Caboclo foram julgados como 'conduta inapropriada' pelo comitê de ética da CBF e o cartola foi suspenso por 15 meses.
"Minha vida está uma bagunça. Uma parte minha está muito feliz de estar de volta ao trabalho. A CBF tem sido a minha casa há mais de nove anos. Mas, por outro lado, ter vivido essa situação é uma dor que não tem tamanho. É uma situação que nenhuma mulher deveria passar em nenhum momento da vida. É uma dor que não acaba. É uma dor que hora nenhuma sai de mim. Hora nenhuma eu esqueço que ela existe. Está sempre presente, latente, em todos os momentos do meu dia. É sempre essa mistura de sensações em todos os momentos do meu dia", afirmou a mulher, em entrevista veiculada também pelo portal 'ge.globo'.
Rogério Caboclo sela acordo com MP para conseguir arquivamento do processo por assédio, diz site Denúncia de assédio moral feita por diretor da CBF prorroga afastamento de Rogério Caboclo da presidência Em um dos casos de assédio em que Rogério Caboclo teria questionado se a funcionária 'se masturbava', ela conseguiu gravar a frase do patrão, que foi veiculada pela Globo. A partir daí, ela decidiu exigir que o chefe deixasse o cargo na CBF.
"Eu pedi para ele sair da presidência da CBF. Ele se recusou a sair da e em troca me ofereceu uma indenização para comprar um apartamento. Ofereceu um curso na Europa com todas as despesas pagas e me ofereceu uma promoção dentro CBF para um cargo de gerencia, para ficar lá até me aposentar. Só que eu não tinha a menor condição de continuar trabalhando na CBF com aquele homem que me dava uma sensação de terror só de pensar em estar ao lado dele novamente afirmou".
A secretária revelou também por que recusou a oferta em dinheiro feita por Rogério Caboclo como tentativa de não fazer com que o assunto fosse exposto na mídia. Para receber a indenização, ela precisaria mentir para jornalistas e teria que afirmar que nunca foi assediada pelo cartola.
"Ao negociar esse acordo, o Rogério Caboclo fazia pedidos absurdos, que eu nunca aceitaria. Ele pedia pedia que eu desse declarações na imprensa dizendo que eu nunca fui assediada. Pedia especificamente para eu falar "nunca fui assediada" e que eu tinha me afastado da CBF exclusivamente por problemas familiares. E eu falei para meus advogados: depois de tudo o que eu passei, depois de tudo o que eu sofri, depois dessa violência toda, eu não vou dar nenhum tipo de declaração mentirosa para ninguém. Não vou, me recuso. Eu vou fazer isso e ele vai fazer isso com outras mulheres. Ele não vai comprar a minha mentira", iniciou.
"A minha dignidade não tem preço. Porque eu fiquei pensando nas mulheres que viriam depois de mim. Era inaceitável proteger um assediador", concluiu.