Ayrton Senna entrou na Fórmula 1 em 1984, pela Toleman, e foi tricampeão em 1988,1990 e 1991 pela McLarenJean-Loup Gautreau / AFP

Há 30 anos, Ayrton Senna saía desta vida para entrar para a eternidade, seja por talento, arrojo, velocidade, personalidade, conquistas, gestos ou até mesmo a repercussão por sua morte naquele fatídico 1º de maio de 1994, na pista de Ímola. A verdade é que o tricampeão nunca deixou de estar presente na Fórmula 1 ou no automobilismo desde então, com um legado quer permanece mesmo diante de novas gerações que nunca o viram correr.
É inegável que a questão da maior segurança de carros e pistas é um dos maiores legados deixados por Senna. A morte de um ídolo ao vivo pela TV, somada à do austríaco Roland Ratzenberger no dia anterior e a outros graves acidentes naquela temporada, obrigou a Fórmula 1 a rediscutir seriamente várias questões.
"A perda de Ayrton Senna já salvou muitas vidas, não apenas na Fórmula 1", afirmou no começo dos anos 2000 o ex-chefe médico da categoria e amigo do piloto Sid Watkins, que morreu em 2012.
Antes do acidente fatal na curva Tamburello, na sexta volta do GP de San Marino, o tricampeão já tratava do assunto e mostrava preocupação com o perigo na categoria. Uma das ações, por sugestão do tricampeão Niki Lauda, seria a recriação da associação dos pilotos, que os dois iriam discutir após o GP. Esse encontro não foi possível, mas o grupo voltou a existir naquele ano para tratar de segurança.
Ayrton Senna não marcou pontos nas duas primeiras corridas pela Williams em 1994 e, na terceira, sofreu o acidente fatal - Jean-Loup Gautreau / AFP
Ayrton Senna não marcou pontos nas duas primeiras corridas pela Williams em 1994 e, na terceira, sofreu o acidente fatalJean-Loup Gautreau / AFP
E depois de Ímola, a Fórmula 1 e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que criou a Comissão de Segurança,  implementaram muitas mudanças e protocolos, com o objetivo de deixar carros mais seguros e alterar traçados de pistas ou melhorar as proteções para evitar batidas fortes.
Como resultado, a Fórmula 1 ficou sem mortes, apesar de batidas fortes, até 2015. Naquele ano o francês Charles Bianchi morreria dias depois de bater em um guindaste que estava erroneamente numa área de escape, no GP do Japão. Muitas das medidas tomadas nos carros da categoria, inclusive, foram levadas para os modelos de rua.
"Devido ao acidente, a FIA... todo mundo mudou muito o nível de segurança. Esse legado acho que é o principal", avalia, em entrevista a O Dia, o ex-piloto e hoje comentarista Luciano Burti. Ele sofreu um grave acidente em 2001 e diz que só está vivo por causa de Senna e as mudanças nos carros.

Referência para campeões e mais jovens na Fórmula 1

Mas o legado do tricampeão vai além dessa questão. Ele ainda é reverenciado em vários lugares do mundo, muito em função de seu estilo único de pilotagem. A busca pela vitória e a forma como fazia, superando limites de pista e de carro, viraram exemplo para muitos pilotos, brasileiros ou não.
"A maior mensagem deixada por ele, para o Brasil como um todo, foi a importância da dedicação, do trabalho incessante, da motivação e da vontade de vencer. Ele foi, sem dúvida, um dos pilotos mais dedicados que já vi. O respeito que os brasileiros tinham no exterior foi outra grande marca deixada por Senna", elogia o ex-Fórmula 1 Felipe Massa.
"Ele tinha um estilo muito diferente. O nome dele vai estar sempre entre os melhores. Porque ele marcou demais e, obviamente, por também ter morrido no auge. Não vai ter como esquecer ou diminuir o tamanho dele, não", diz o ex-piloto e agora comentarista, Felipe Giaffone.
E não à toa, ao longo desses 30 anos de Fórmula 1, a grande maioria dos 11 campeões mundiais nesse período, já falou sobre Senna, seja ao bater alguma marca dele ou para mostrar admiração. O heptacampeão Michael Schumacher, por exemplo, chorou ao igualar as 41 vitórias do brasileiro, em 2000.
"Não tenho palavras. Estou muito feliz, mas esgotado. Esta vitória significa muito para mim", afirmou o alemão à época.
No atual grid, muitos pilotos não eram nem nascidos em 1994, mas de tanto ouvirem, procuraram vídeos, documentários para conhecê-lo e passaram a admirá-lo. É o caso de Pierre Gasly, que mesmo sendo francês, tem Senna como ídolo ao lado de Alain Prost.
"Preciso dizer que amo ambos por razões diferentes. Ayrton, além do piloto incrível que era, também foi um modelo em termos de personalidade que eu me identifico. Ele era mais que um piloto, era um ícone para todo um país. É uma história importante e inspiradora, então é importante seguir o legado dele”, afirmou Gasly, que nasceu em 1996.
Pirre Gasly com o capacete em homenagem a Ayrton Senna que utilizou em Ímola, em 2020 - Divulgação/RF1
Pirre Gasly com o capacete em homenagem a Ayrton Senna que utilizou em Ímola, em 2020Divulgação/RF1
Já o atual tricampeão, Max Verstappen, mostrou muita satisfação quando chegou às mesmas 41 vitórias: "Odeio comparar diferentes gerações mas a única coisa que posso dizer é que igualar Ayrton é algo incrível. Estou orgulhoso de mim por isso".
Outra marca de Senna superada foi a de 65 poles, por Schumacher e Lewis Hamilton. O inglês nunca escondeu ser fã e, quando igualou o ídolo, mostrou toda a admiração. "Ele me inspirou a ser quem eu sou hoje. Ayrton foi o meu piloto favorito. Igualar o recorde dele é uma grande honra", disse em 2017.

O Instituto Ayrton Senna

Fora das pistas, entretanto, está o legado mais importante para o Brasil. O Instituto Ayrton Senna foi fundado em 1994, pouco depois de sua morte e é administrado pela família. Era um desejo antigo do piloto de buscar uma forma de combater a pobreza e, especialmente, ajudar as crianças e dar uma educação em melhor condição.
Desde a criação, o instituto já ajudou mais de 36 milhões de crianças e jovens com seus apoios a projetos em cerca de três mil cidades do Brasil. Os trabalhos são voltados especialmente para pesquisa e produção de conhecimento, políticas educacionais e formação de educadores.
Inclusive, parte da receita que custeia esse trabalho vem do dinheiro arrecadado pela marca Senna com produtos e tudo que envolva o tricampeão em vários países, não apenas o Brasil.
 
 
 
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