EstrelaBet tinha acordo para patrocínio nas mangas, mas fechou pontualmente no espaço master em jogos desta Série BVitor_Silva/Botafogo

A EstrelaBet, uma das principais casas de apostas do país, anunciou um acordo de patrocínio máster com o Botafogo. A marca, que antes era estampada nas mangas, agora será exibida no espaço nobre do uniforme alvinegro. A apresentação oficial ocorreu de forma digital, nas redes sociais, e a estreia do novo contrato foi na partida contra o Operário, nesta segunda-feira (15), em vitória que marcou o retorno do clube carioca à elite do Brasileirão.
O acordo inicial assinado pelo clube carioca com a companhia já era maior do que o estabelecido na temporada passada, quando a equipe disputava a principal divisão do país. Mesmo disputando a Série A nas últimas edições do Campeonato Brasileiro, fazia dois anos que o Botafogo não tinha um patrocinador máster por uma temporada completa.
“Nós tomamos a decisão estratégica de valorizar a marca Botafogo e o espaço mais nobre do uniforme. O novo acordo mostra que foi uma escolha acertada, e o interesse da EstrelaBet em ampliar essa parceria comprova que os resultados com exposição e engajamento foram satisfatórios Foi criado um forte laço entre a marca e a torcida botafoguense, estamos confiantes de que essa união será duradoura e renderá bons frutos para todos os envolvidos” afirmou Jorge Braga, CEO do alvinegro.
Além do Botafogo, Vasco e Fluminense também exibem no espaço principal de seus uniformes empresas do ramo de apostas. Atualmente, apenas 6 equipes das duas principais divisões do Brasil não possuem contrato com companhias do segmento. Na Série A, 19 das 20 agremiações são patrocinadas, apenas o Cuiabá fica fora da lista. Já na Série B, 15 dos 20 clubes recebem investimentos de empresas do setor.
A exposição no espaço nobre dos uniformes aumentou de forma expressiva no último ano. Em meados de 2020, nenhuma equipe estampava casas de apostas como patrocinadora máster. Hoje, 25% dos clubes da Série A já apresentam esse tipo de acordo. Além do Atlético Goianiense (Amuleto Net), sites de betting ocupam o espaço principal nas camisas de Bahia (Casa de Apostas), Atlético-MG e Fluminense (Betano) e Sport (Galera.bet).
"Enxergamos um cenário propício para esse mercado não apenas relacionado às formas de patrocínios, mas em ações junto aos clubes. Sempre que é possível, fazemos essas iniciativas com Bahia e Vitória, além de realizar ativações com nosso parceiro de mídia televisiva”, aponta Hans Schleier, diretor de negócios da Casa de Apostas, patrocinadora máster do Vitória e do Bahia, atual campeão da Copa do Nordeste.
Outro clube da região, o Fortaleza foi um dos precursores entre os times de futebol em acordos com plataformas de apostas, e o mandatário do Leão do Pici, Marcelo Paz, acredita que, apesar desses patrocínios serem fundamentais para os cofres das agremiações, esse tipo de negócio deve abordar outros aspectos. “Não vejo esse modelo de patrocínio apenas como um vetor de investimento, mas também de interação e engajamento junto aos torcedores por meio das plataformas digitais”, analisa o presidente.
A opinião de Paz é parecida com a de Jorge Avancini, vice-presidente de Marketing do Internacional, que estampa a logomarca da Betsul na parte de trás do calção.
"A chegada desses novos players é muito importante. Veio ocupar a saída de outros patrocinadores e chegou para ficar. O Inter fez um acordo com a Betsul, acredito que são parcerias com via de mão dupla, já que, além das ações realizadas junto aos torcedores, os clubes também ganham percentuais dessas apostas. É um mercado novo, que proporciona oportunidades positivas e aquece a economia. Obviamente, tudo precisa ser inteiramente legalizado e transparente, por isso a regulação a curto prazo será um passo fundamental para o setor", afirma Avancini
Falta de regulamentação no cenário das apostas
Apesar da ampla presença com exposições e ativações, as apostas esportivas ainda não foram regulamentadas no Brasil. Atualmente, cerca de 450 sites do exterior atuam no país sem nenhum tipo de tributação. O debate sobre a criação de uma regulamentação adequada ganhou força no contexto político brasileiro em 2018, quando o congresso nacional sancionou a lei 13.756/18, responsável pela criação da modalidade de aposta “quota fixa”, na qual se enquadram as apostas online no Brasil atualmente. No entanto, a norma ainda não atende às particularidades da categoria, e a regularização apropriada da atividade deve se efetivar até o fim do ano que vem, atendendo aos aspectos esportivos, econômicos e tributários do segmento.
Para o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo, a expansão de patrocínios do mercado de jogos online já era esperada, e a regulamentação trará ainda mais investimentos das empresas do setor..
"Essa forte expansão nos patrocínios ocorre em meio a um mercado sem regulamentação, para não dizer irregular. Isso porque, embora uma lei datada do final de 2018 tenha aberto a porteira para a regulação das apostas esportivas, a sua plena efetividade depende de um processo de concessão que anda a passos lentos no Governo Federal, e que muito provavelmente não sairá neste ano. Com isso, perdem todos: o governo com a geração de impostos, a economia com a geração de negócios e empregos e também os clubes, já que um mercado licenciado no Brasil iria atrair os grandes operadores globais, o que fatalmente teria a capacidade de aumentar os valores envolvidos nestas transações entre clubes e empresas", esclarece Carlezzo.
O Juventude foi o 19º clube do Brasileirão a anunciar um acordo com uma empresa do mundo das apostas. A Marsbet, uma das principais empresas de jogos online com operações em todo o mundo, passou a estampar a parte frontal do calção de jogo do time jaconero. Fábio Pizzamiglio, vice-presidente de marketing do clube, afirma que a regulação da prática no país terá consequências positivas.
"No nosso patrocínio, não temos nenhuma vinculação com o volume de apostas. Porém, recebemos várias propostas neste sentido no primeiro semestre do ano. É um mercado muito forte. Sobre a regulamentação, acreditamos ser algo positivo, visto que poderíamos ter um aporte ainda maior de receitas destinadas aos clubes, além da nacionalização dos dividendos provenientes das apostas", pontua Pizzamiglio
Os executivos do mercado de betting defendem que a regulamentação deve ser semelhante à de mercados como Dinamarca e Reino Unido, em que exista equilíbrio entre a base de cálculo utilizada para a cobrança dos impostos e a criminalização na operação das casas de apostas que não obtiverem a licença.
"É uma realidade sem volta. Quase 100% dos clubes da Série A possuem esses acordos, pois acreditam que, além da necessidade financeira, podem capitalizar futuramente por meio de ações que vão além da exposição da marca da forma tradicional. É bom ressaltar que essas parcerias não acontecem apenas com clubes. Vimos federações, entidades, e inúmeros veículos de mídia explorando essas marcas, pois entendem que elas são o futuro em relação à interatividade com o público", analisa Renê Salviano, executivo com mais de 20 anos no mercado e fundador da agência HeatMap, especialista em captação de patrocínios e desenvolvimento de ativações no mercado esportivo.
Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico, acredita que os acordos serão cada vez mais comuns, já que o esporte é tratado como uma forma de entretenimento pelas novas gerações.
"Vivemos em uma realidade em que o entretenimento está inserido em tudo, inclusive no esporte. Existe uma geração que consome futebol através dos games e jogos e que lida intensamente com consumo de dados. E os patrocínios de sites de apostas, que já eram uma realidade fora do país, preencheram um espaço junto aos clubes e se acentuaram durante a pandemia”, finaliza Maia, escritor do livro 'Inovação é o Novo Marketing', que foi lançado recentemente e aborda o tema.
O executivo, quando era vice-presidente de Marketing do Vasco, foi responsável por fechar um dos primeiros acordos com empresas do segmento de apostas. Ainda no clube carioca, Maia colocou uma cláusula no contrato com o banco BMG, principal patrocinador do clube até então, que permitia, em caso de proposta superior, o deslocamento do BMG para outra parte do uniforme, assegurando a exposição da logo. Como o contrato da PixBet com o Vasco foi maior do que o valor pago pelo banco, a empresa passou a ocupar o espaço nobre da camisa Cruzmaltina.