Por rafael.arantes

Rio - Não é à toa que, num escritório na Barra da Tijuca, o vermelho e o preto predominem por toda a decoração. Torcedor do Flamengo, o cantor Bruno Cardoso, vocalista do grupo Sorriso Maroto, parece ter a ligação com o clube da Gávea já em seu inconsciente, como mostra a série "O meu coração rubro-negro". Com a presença das cores do time da Gávea pelos quatro cantos de seu local de trabalho, ele garante que o fato não foi proposital, mas demonstra que todo o amor pelo Rubro-Negro está presente a todo instante.

Bruno sente falta de Ronaldinho Gaúcho no FlamengoDivulgação

A paixão pelo Flamengo não faz de Bruno um 'simples torcedor'. Apaixonado por futebol, o cantor não esconde sua admiração por um grande amigo e que, segundo ele, ainda poderia estar com a camisa 10 do Rubro-Negro. Fã de Ronaldinho Gaúcho, o músico é direto ao comentar sua insatisfação com a saída do jogador, ano passado, e ainda garante que ele poderia ser o diferencial que falta para atual equipe. Segundo Bruno, o talento inquestionável descarta qualquer dúvida do valor do atleta, que deixou o Fla após problemas com a antiga diretoria.

"Sinto muita falta do Ronaldinho no Flamengo. Ele não deveria ter saído, foi quase um golpe de estado. Na época, a diretoria meio que jogou a imagem dele contra o clube, como se ele estivesse sendo o problema, mas quando você contrata um cara desses você está aceitando o pacote completo. Quando veio, ele sempre deixou claro que viria também para estar com os amigos, para curtir o retorno e, em campo, ele resolvia sim, fazia a diferença. O time atual não é ruim, está em fase de transição e uma das coisas que faltam é um cara desses. O Gaúcho fez, faz e sempre fará falta ao Flamengo. Com certeza tem muito torcedor arrependido da saída dele, muita gente se lamentando. A torcida tinha força para mudar isso. Os torcedores podiam segurá-lo na equipe e não seguraram, assim como foi com o Fenômeno. O Ronaldinho é um cara completo, um cara que decide, aquele que chega na hora e chama o jogo. Não tem como falar algo de um cara desses", desabafou.

Coração rubro-negro desde a infância

Se geralmente uma criança segue os passos dos familiares para escolher o time do coração, Bruno foi diferente. Em casa, o cantor é o único a torcer para o clube da Gávea. Graças ao talentoso time da década de 80, o músico escolheu o Rubro-Negro. Mesmo fugindo às regras de casa, a paixão pelo Flamengo fez de Bruno um torcedor assíduo e sempre ligado no time.

Sem influência%3A Cantor foge às regras e é o único rubro-negro da famíliaRafael Arantes / Agência O Dia

"Tudo começou de repente. Minha família é toda diferente de mim. Meus pais são tricolores e meu irmão é botafoguense, não tive uma influência dentro de casa. Era uma época que o Flamengo ganhava tudo, década de 80, time dos sonhos. Sempre via o time tendo sucesso, ganhando tudo, era inevitável não ser rubro-negro. Eu morava na Tijuca, perto do Maracanã, perto do lugar que a torcida se concentrava. O bandeirão era colocado no prédio da minha avó. Então era tudo muito intenso. Eu não era de organizada, mas ia com o povão para o estádio. Curti muito a geral, a arquibancada. Ainda tinha a minha galera da pesada, que íamos para o jogo e no dia seguinte tirávamos onda na escola. Para falar de futebol brasileiro, é preciso falar de Flamengo. É um amor que não dá para entender", revelou.

Se o sucesso do time dos sonhos de 80 fez Bruno se tornar um dos milhões de apaixonados pelo Flamengo, não foi nesta época que o cantor se deparou com um de seus maiores ídolos. Mesmo admitindo a grandiosidade de Zico, o músico não esconde o encanto pelo talento de Romário. Craque rubro-negro na década de 90, o Baixinho fez o vocalista do Sorriso Maroto, quando 'mais criterioso', virar um fã declarado do futebol que apresentava.

"É claro que não tem como eu deixar o Zico de lado, ele é o maior ídolo do clube. Mas foi na década de 90 que eu comecei a ver o futebol de uma maneira mais criteriosa, deixando de lado aquele pensamento mais fanático. Nessa época, eu tenho de falar que a minha maior referência foi o Romário. Era um cara que fazia a total diferença, que tinha a cara do Flamengo. Queria ele de volta (risos). É um cara que tinha, além de tudo, a linguagem do povo. Era todo um diferencial. Acho, inclusive, que falta um pouco disso atualmente. Do jogador chegando e falando que vai fazer e acontecer, que vai decidir, que é o cara. O maior que eu vi em campo com a nossa camisa foi o Baixinho. Sou fã", comentou.

Curiosidades da arquibancada

Rubro-negro de carteirinha, Bruno sempre fez questão de acompanhar a equipe do coração. Presente nos estádios sempre que possível, o cantor admite que o momento mais inusitado como torcedor ocorreu antes mesmo do surgimento da carreira musical. Em 1997, foi o Flamengo que fez o músico reatar uma amizade que pouco tempo depois foi crucial para a formação do Sorriso Maroto. Outro momento marcante foi o lendário gol de Petkovic sobre o Vasco, na final do Campeonato Carioca de 2001, que ficou registrado como um dos momentos mais marcantes na vida de torcedor.

"Pontos positivos são muitos, não é? O jogo entre Flamengo e Grêmio, na Copa do Brasil, de 97, foi muito especial pelo fato de ter sido crucial para eu voltar a falar com o Fred (percussionista que hoje faz parte do Sorriso Maroto ao lado de Bruno). Estávamos brigados e só voltamos a nos falar para conseguirmos ter companhia para ir no estádio. Tive de descer do salto (risos). Mas não tem como eu não falar do gol do Pet. Contra o Vasco, título, do jeito que aconteceu. Olha, igual a este gol, não sei não, hem?", disse Bruno, que também citou o que mais o traumatiza quando o assunto é Flamengo em campo:

"Negativamente eu acho que é uma coisa, especificamente. Nas competições mata-mata, parece que acontece algo com o Flamengo quando vai decidir contra alguma equipe de menor expressão e até mesmo com vantagem. América-MEX, Santo André... Não sei mesmo, mas alguma coisa acontece. Olha, podíamos apagar esse tipo de coisa da história do clube."

Sempre rubro-negro%3A Escritório de Bruno contém decoração nas cores do FlamengoRafael Arantes / Agência O Dia

Cantor de olho no time atual

Se na infância Bruno sempre foi assíduo aos estádios, nos dias de hoje a situação é mais complicada. Com agenda cheia junto ao Sorriso Maroto, o cantor encontra mais dificuldades para marcar presença nas arquibancadas e ainda não conseguiu comparecer a nenhum jogo após a reforma do Maracanã, mas voltou a se arrepiar com uma atuação rubro-negra no jogo contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil. Ele revela a emoção no gol de Elias, que classificou o Flamengo para as quartas de final.

"Ainda não fui ao Novo Maracanã, mas estou louco para ir, para ver como é agora. Vi o jogo contra o Cruzeiro em casa, sozinho na sala, e na hora do gol do Elias acabei chorando muito. Não somente pela vaga, mas pelo jeito como as coisas aconteceram. O time jogou muito naquele dia, não só na questão tática, mas jogando com o coração, foi o Flamengo de verdade. Quando vi o gol e o Elias correndo para a torcida com os olhos marejados eu vi que não tinha jeito, chorei também. O que ele vem fazendo é surreal, ele está dando um show. Marca, vai para o ataque, decide. Tenho de ligar pra ele para falar isso até (risos)", disse Bruno.

Sempre ligado ao momento do clube, Bruno não evitou expressar sua opinião sobre o momento atual. Ciente da fase de transição vivida pelo Flamengo, o cantor se mostrou bastante atento aos acontecimentos na Gávea e, mesmo concordando com certa postura da nova diretoria, o músico não evitou fazer críticas à nova gestão, mostrando que o lado torcedor não vive somente junto ao fanatismo.

"Existem algumas coisas na diretoria que eu elogio e outras que eu critico. Sei que é uma fase de adaptação, de transição, mas é preciso manter uma linha. Hoje o clube está trabalhando para colocar as coisas no lugar, dar toda uma cara ao time e tem de ser assim. Mas ainda acho que o Dorival foi embora injustamente. Logo quando ele saiu o que eu ouvi falar foi muito sobre questão de redução de custos, manter uma base, mas então é preciso manter essa linha de trabalho para todo mundo. Hoje temos jogadores que ganham muito e não estão dando uma certa resposta em campo. Não quero menosprezar o futebol de ninguém, mas se a questão é essa, então vamos fazer tudo direitinho. Outra coisa é o poder que o Flamengo tem. Era para existir um trabalho muito forte sobre isso, um marketing pessoal muito grande, tem muita coisa que pode ser feita para nos engrandecer ainda mais. O clube tem de tomar vergonha, não precisamos nos leiloar. É claro que eu apoio a questão dos patrocinadores, mas é Flamengo, não é? Nós não precisamos deles, eles que precisam de nós", encerrou.


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