Rio - Não é à toa que, num escritório na Barra da Tijuca, o vermelho e o preto predominem por toda a decoração. Torcedor do Flamengo, o cantor Bruno Cardoso, vocalista do grupo Sorriso Maroto, parece ter a ligação com o clube da Gávea já em seu inconsciente, como mostra a série "O meu coração rubro-negro". Com a presença das cores do time da Gávea pelos quatro cantos de seu local de trabalho, ele garante que o fato não foi proposital, mas demonstra que todo o amor pelo Rubro-Negro está presente a todo instante.
A paixão pelo Flamengo não faz de Bruno um 'simples torcedor'. Apaixonado por futebol, o cantor não esconde sua admiração por um grande amigo e que, segundo ele, ainda poderia estar com a camisa 10 do Rubro-Negro. Fã de Ronaldinho Gaúcho, o músico é direto ao comentar sua insatisfação com a saída do jogador, ano passado, e ainda garante que ele poderia ser o diferencial que falta para atual equipe. Segundo Bruno, o talento inquestionável descarta qualquer dúvida do valor do atleta, que deixou o Fla após problemas com a antiga diretoria.
"Sinto muita falta do Ronaldinho no Flamengo. Ele não deveria ter saído, foi quase um golpe de estado. Na época, a diretoria meio que jogou a imagem dele contra o clube, como se ele estivesse sendo o problema, mas quando você contrata um cara desses você está aceitando o pacote completo. Quando veio, ele sempre deixou claro que viria também para estar com os amigos, para curtir o retorno e, em campo, ele resolvia sim, fazia a diferença. O time atual não é ruim, está em fase de transição e uma das coisas que faltam é um cara desses. O Gaúcho fez, faz e sempre fará falta ao Flamengo. Com certeza tem muito torcedor arrependido da saída dele, muita gente se lamentando. A torcida tinha força para mudar isso. Os torcedores podiam segurá-lo na equipe e não seguraram, assim como foi com o Fenômeno. O Ronaldinho é um cara completo, um cara que decide, aquele que chega na hora e chama o jogo. Não tem como falar algo de um cara desses", desabafou.
Coração rubro-negro desde a infância
Se geralmente uma criança segue os passos dos familiares para escolher o time do coração, Bruno foi diferente. Em casa, o cantor é o único a torcer para o clube da Gávea. Graças ao talentoso time da década de 80, o músico escolheu o Rubro-Negro. Mesmo fugindo às regras de casa, a paixão pelo Flamengo fez de Bruno um torcedor assíduo e sempre ligado no time.
"Tudo começou de repente. Minha família é toda diferente de mim. Meus pais são tricolores e meu irmão é botafoguense, não tive uma influência dentro de casa. Era uma época que o Flamengo ganhava tudo, década de 80, time dos sonhos. Sempre via o time tendo sucesso, ganhando tudo, era inevitável não ser rubro-negro. Eu morava na Tijuca, perto do Maracanã, perto do lugar que a torcida se concentrava. O bandeirão era colocado no prédio da minha avó. Então era tudo muito intenso. Eu não era de organizada, mas ia com o povão para o estádio. Curti muito a geral, a arquibancada. Ainda tinha a minha galera da pesada, que íamos para o jogo e no dia seguinte tirávamos onda na escola. Para falar de futebol brasileiro, é preciso falar de Flamengo. É um amor que não dá para entender", revelou.
Se o sucesso do time dos sonhos de 80 fez Bruno se tornar um dos milhões de apaixonados pelo Flamengo, não foi nesta época que o cantor se deparou com um de seus maiores ídolos. Mesmo admitindo a grandiosidade de Zico, o músico não esconde o encanto pelo talento de Romário. Craque rubro-negro na década de 90, o Baixinho fez o vocalista do Sorriso Maroto, quando 'mais criterioso', virar um fã declarado do futebol que apresentava.
"É claro que não tem como eu deixar o Zico de lado, ele é o maior ídolo do clube. Mas foi na década de 90 que eu comecei a ver o futebol de uma maneira mais criteriosa, deixando de lado aquele pensamento mais fanático. Nessa época, eu tenho de falar que a minha maior referência foi o Romário. Era um cara que fazia a total diferença, que tinha a cara do Flamengo. Queria ele de volta (risos). É um cara que tinha, além de tudo, a linguagem do povo. Era todo um diferencial. Acho, inclusive, que falta um pouco disso atualmente. Do jogador chegando e falando que vai fazer e acontecer, que vai decidir, que é o cara. O maior que eu vi em campo com a nossa camisa foi o Baixinho. Sou fã", comentou.
Curiosidades da arquibancada
Rubro-negro de carteirinha, Bruno sempre fez questão de acompanhar a equipe do coração. Presente nos estádios sempre que possível, o cantor admite que o momento mais inusitado como torcedor ocorreu antes mesmo do surgimento da carreira musical. Em 1997, foi o Flamengo que fez o músico reatar uma amizade que pouco tempo depois foi crucial para a formação do Sorriso Maroto. Outro momento marcante foi o lendário gol de Petkovic sobre o Vasco, na final do Campeonato Carioca de 2001, que ficou registrado como um dos momentos mais marcantes na vida de torcedor.
"Pontos positivos são muitos, não é? O jogo entre Flamengo e Grêmio, na Copa do Brasil, de 97, foi muito especial pelo fato de ter sido crucial para eu voltar a falar com o Fred (percussionista que hoje faz parte do Sorriso Maroto ao lado de Bruno). Estávamos brigados e só voltamos a nos falar para conseguirmos ter companhia para ir no estádio. Tive de descer do salto (risos). Mas não tem como eu não falar do gol do Pet. Contra o Vasco, título, do jeito que aconteceu. Olha, igual a este gol, não sei não, hem?", disse Bruno, que também citou o que mais o traumatiza quando o assunto é Flamengo em campo:
"Negativamente eu acho que é uma coisa, especificamente. Nas competições mata-mata, parece que acontece algo com o Flamengo quando vai decidir contra alguma equipe de menor expressão e até mesmo com vantagem. América-MEX, Santo André... Não sei mesmo, mas alguma coisa acontece. Olha, podíamos apagar esse tipo de coisa da história do clube."
Cantor de olho no time atual
Se na infância Bruno sempre foi assíduo aos estádios, nos dias de hoje a situação é mais complicada. Com agenda cheia junto ao Sorriso Maroto, o cantor encontra mais dificuldades para marcar presença nas arquibancadas e ainda não conseguiu comparecer a nenhum jogo após a reforma do Maracanã, mas voltou a se arrepiar com uma atuação rubro-negra no jogo contra o Cruzeiro, pela Copa do Brasil. Ele revela a emoção no gol de Elias, que classificou o Flamengo para as quartas de final.
"Ainda não fui ao Novo Maracanã, mas estou louco para ir, para ver como é agora. Vi o jogo contra o Cruzeiro em casa, sozinho na sala, e na hora do gol do Elias acabei chorando muito. Não somente pela vaga, mas pelo jeito como as coisas aconteceram. O time jogou muito naquele dia, não só na questão tática, mas jogando com o coração, foi o Flamengo de verdade. Quando vi o gol e o Elias correndo para a torcida com os olhos marejados eu vi que não tinha jeito, chorei também. O que ele vem fazendo é surreal, ele está dando um show. Marca, vai para o ataque, decide. Tenho de ligar pra ele para falar isso até (risos)", disse Bruno.
Sempre ligado ao momento do clube, Bruno não evitou expressar sua opinião sobre o momento atual. Ciente da fase de transição vivida pelo Flamengo, o cantor se mostrou bastante atento aos acontecimentos na Gávea e, mesmo concordando com certa postura da nova diretoria, o músico não evitou fazer críticas à nova gestão, mostrando que o lado torcedor não vive somente junto ao fanatismo.
"Existem algumas coisas na diretoria que eu elogio e outras que eu critico. Sei que é uma fase de adaptação, de transição, mas é preciso manter uma linha. Hoje o clube está trabalhando para colocar as coisas no lugar, dar toda uma cara ao time e tem de ser assim. Mas ainda acho que o Dorival foi embora injustamente. Logo quando ele saiu o que eu ouvi falar foi muito sobre questão de redução de custos, manter uma base, mas então é preciso manter essa linha de trabalho para todo mundo. Hoje temos jogadores que ganham muito e não estão dando uma certa resposta em campo. Não quero menosprezar o futebol de ninguém, mas se a questão é essa, então vamos fazer tudo direitinho. Outra coisa é o poder que o Flamengo tem. Era para existir um trabalho muito forte sobre isso, um marketing pessoal muito grande, tem muita coisa que pode ser feita para nos engrandecer ainda mais. O clube tem de tomar vergonha, não precisamos nos leiloar. É claro que eu apoio a questão dos patrocinadores, mas é Flamengo, não é? Nós não precisamos deles, eles que precisam de nós", encerrou.