Por pedro.logato

Rio - Eduardo Bandeira de Mello engordou 8kg desde que assumiu a presidência do Flamengo, em 2012. Aos 62 anos, aposentado do BNDES, diz que sacrificou a vida pessoal, mas que se apoiou na família: os três filhos são sócios e conselheiros do clube. Candidato à reeleição, com vantagem sobre os adversários, segundo as pesquisas, Bandeira promete um 2016 mais promissor e um time capaz de buscar títulos. E avisa: vai investir pesado na base, graças ao Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), que ajuda os clubes a quitar as dívidas. “Também planejo mais melhorias no Ninho do Urubu, além de amenizar as dívidas, que caíram R$ 250 milhões na minha gestão”, diz.

O DIA: Como você encontrou o Flamengo e qual a situação atual?

Bandeira de Mello: Numa situação caótica, com crise de credibilidade, receitas penhoradas e dívidas de R$ 750 milhões. Isso nos obrigou a muitos sacrifícios: tivemos de dispensar atletas no futebol e esportes olímpicos, reduzir despesas, fazer ajuste dramático com a Procuradoria da Fazenda Nacional para ter acesso à Lei de Incentivo ao Esporte... Hoje nosso esporte olímpico é autossustentável. Com a regulamentação do Profut, teremos alívio de caixa e vamos investir no CT do Ninho, nas divisões de base e projetar um 2016 melhor. 

O DIA: O que o torcedor pode esperar em relação ao futebol, mas especificamente sobre as contratações?

Bandeira de Mello: Uma situação mais confortável. O Flamengo é o único clube grande do Brasil que conteve as despesas e foi o que mais conseguiu aumentar as receitas de patrocínios. Vamos fechar o ano com dívidas próximo a R$ 500 milhões e receitas beirando os R$ 360 milhões.

Bandeira de Mello espera um ano de 2016 promissor para o FlamengoMárcio Mercante

O DIA: Como você quer ser lembrado: o presidente que tirou o clube do buraco ou aquele que ganhou títulos expressivos?

Bandeira de Mello: O ano provavelmente vai encerrar sem que o time tenha conquistado título na dimensão que a torcida merece, mas é claro que o objetivo de todo o presidente é ser campeão de tudo. Minha preocupação não é como serei lembrado. Quero, como torcedor que nunca deixei de ser, que o Flamengo tenha sucesso em todas as frentes.

O DIA: Qual seu maior acerto?

Bandeira de Mello: Represento um grupo fantástico e divido qualquer mérito com ele. Difícil apontar, mas toda a questão da política de austeridade e responsabilidade teve um resultado muito positivo. Tínhamos que recuperar a dignidade do Flamengo.

O DIA: E os erros de sua administração?

Bandeira de Mello: Erramos muito. Mas destaco como maior erro a maneira empírica que tratamos nosso futebol nos primeiros meses, pela falta de dinheiro. Mas hoje o futebol do clube funciona em cima de três pilares: prioridade de investimento na base, inteligência em mercado (trabalhar com banco de dados/informações) e excelência em performance (trabalhar para extrair o máximo do jogador). Também fizemos contratações equivocadas, claro.

O DIA: Wallim Vasconcelos, seu rival da Chapa Verde, disse que você o traiu, ao tentar a reeleição. É verdade?

Bandeira de Mello: Mentira. O grupo se reuniu ano passado e em janeiro deste ano definindo minha candidatura à reeleição. Ele e o Bap (Luiz Eduardo Baptista, ex-vice de marketing) participaram e até pediram para eu consultar minha família.

O DIA: Por que o grupo partiu?

Bandeira de Mello: O Bap saiu de forma muito deselegante, fazendo ofensas pessoais. Aí levou algumas pessoas com ele para formar a Chapa Verde. E o Wallim agora se comporta com extrema falta de educação em sua campanha. Acho lamentável.

Eduardo Bandeira de Mello apoia campanha de Zico para a presidência da FifaBruno de Lima / Agência O Dia

O DIA: Está chateado com o Wallim?

Bandeira de Mello: Diante de tudo o que vejo agora, percebo que errei ao confiar nele. Wallim derrapou feio na saída do Renato Abreu e demitiu o Jayme de Almeida daquela forma equivocada. Além das contratações de Carlos Eduardo, Val, Bruninho...

O DIA: A vaidade subiu à sua cabeça?

Bandeira de Mello: Sou a mesma pessoa, um homem simples, criado na Zona Norte. Se aceito fazer fotos com torcedores é porque estou presidente e não porque sou bonitinho.

O DIA: Qual o balanço que faz de sua gestão?

Bandeira de Mello: Vamos deixar o balanço para quando eu for ex-presidente. Mas vou olhar para trás com a certeza de que errei tentando acertar. Essa avaliação sobre meu trabalho deve ser feita pela Nação Rubro-Negra. Estou trabalhando duro e me esforçando muito para ser um bom presidente.

O DIA: Qual a melhor parte de ser presidente do Flamengo?

Bandeira de Mello: Poder ajudar o clube que sempre venerei. Saber que você está com a mão no volante. A pior parte é quando você perde. Nunca vou me acostumar com isso. As derrotas já eram ruins quando eu só era torcedor. Como presidente, são muito piores.

O DIA: O Torneio Sul-Rio-Minas, com 12 clubes de cinco estados, vai dar certo?

Bandeira de Mello: Tudo indica que sim. Temos poucas datas, começando talvez no final de janeiro. Estamos atrás de patrocinadores, discutindo sobre direitos comerciais e televisivos. Não queremos afrontar a CBF, queremos apenas um produto novo, rentável e atrativo.

O DIA: O que achou da medida da Ferj que colocou Vasco e Botafogo mandantes quando enfrentarem Flamengo e Fluminense na primeira fase do Estadual?

Bandeira de Mello: Eles escolherão os preços e os lados. Quem é o mandante? Quem manda, afinal, na Federação, e faz o que o Vasco quer? Estamos rompidos com a Ferj. E não tenho a ilusão de que jogaremos o Estadual com arbitragem e tribunal imparciais. Vamos com time misto.

O DIA: Qual a sua opinião sobre a candidatura do Zico à presidência da Fifa?

Bandeira de Mello: Excelente oportunidade de se buscar moralizar o futebol mundial, que vive enorme crise de credibilidade. Zico é uma pessoa inatacável, um exemplo de cidadão e atleta, que, com certeza, vai trabalhar muito para recuperar a péssima imagem da entidade.


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