Por pedro.logato

Rio - O passado, quando negro, precisa ser conhecido para que não se repita. Mas, se ele também é rubro, o jogo vira. Enquanto luta para preservar a memória do Flamengo, o economista Daniel Rosenblatt, 50 anos, sonha em ver multiplicadas as glórias representadas por cada troféu que reluz na exposição interativa ‘Fla Experience’, na Gávea. Hoje, o Ataque convida o leitor a embarcar numa viagem no tempo. A estação terminal da série de reportagens será no domingo, dia do aniversário de 120 anos do clube mais querido do Brasil. Senta e aperta os cintos, que lá vem história.

Experience é um exposição interativa que conta a incrível história de glórias do Clube de Regatas do FlamengoAndré Mourão

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Enquanto sobe os degraus que o levam da rua à entrada da exposição interativa, inaugurada há um ano, o visitante avista a estátua de Zico, de braços abertos, comemorando um de seus 508 gols que marcou com a 10 do manto sagrado às costas. No dia 6 deste mês, no entanto, embaixo da escada, a história se apresentava em carne e osso. Silva Batuta, ídolo rubro-negro dos anos 1960, encostado na parede, cumprimenta, com sorriso fácil, a equipe de reportagem.

Zico e Silva, em proporções diferentes, carregam parte da memória do Flamengo. E, para que nada caia no esquecimento, Daniel doa ao clube dois de seus bens mais preciosos: o tempo e o amor que cultiva pelas cores vermelha e preta: “Tenho a minha empresa e dedico voluntariamente as minhas tardes e noites ao Flamengo.”

Daniel Rosenblatt é responsável pelo patrimônio Historico do FlamengoAndré Mourão

Da Fla Experience, ele cuida como se fosse sua filha. Ao tirar a cúpula que protege a taça de campeão mundial de 1981, dispensa ajuda, com medo de acidentes. A peça acabara de chegar da restauração. As mais antigas, do remo, de 1900, e do futebol, de 1914, entre outras, passam pelo mesmo processo.

Neste primeiro momento, monitores interativos e uma linha do tempo tentam resumir 120 anos. O ambiente seguinte recria o vestiário onde Zico & Cia se prepararam para vencer o Liverpool, no Japão.

A camisa da esquerda%2C doada por um sócio%2C foi usada por Doval%2C argentino que foi ídolo do Fla nos anos 1970. À direita%2C outra camisa da época%2C a mais antiga exposta na saAndré Mourão

Mas é na terceira sala que a mágica acontece. Lances históricos passam num telão. A narração de Galvão Bueno do gol de Adílio, de cabeça, sobre o Santos, na final do Campeonato Brasileiro de 1983, chega aos ouvidos do time do Ataque antes que as 148 taças e as camisas, entre elas uma usada por Doval, expostas numa espécie de arquibancada sejam percebidas. Brilham também ali glórias de esportes que não existem mais no clube, como boxe e patinação. A visita termina num corredor enfeitado por fotos antigas. “Os troféus são o suprassumo e a síntese da história de glórias do Flamengo.”

Alguns prêmios expostos são de origem desconhecida. Para preencher essas e outras lacunas, três estagiárias tiram o pó que encobre parte da memória rubro-negra, numa pequena sala, entre recortes de jornais, caixas, quadros e atas antigas. O museu do clube é apenas um projeto. Mas a viagem está em curso. E essa aquarela jamais descolorirá.

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