Por pedro.logato

Rio - O jornal O DIA continua sua série de entrevistas com os candidatos à presidência do Flamengo. Neste segundo dia, o leitor poderá ler as respostas de Wallim Vasconcellos na íntegra. Wallim representa a dissidência da atual gestão. Com um discurso de continuidade do que, segundo ele, foi realizado pelo seu grupo até a ruptura, promete duas contratações de peso se for eleito presidente do Flamengo, dia 7, mas mantendo a responsabilidade financeira . O candidato garante que o futebol será a prioridade da gestão e tentará ter Zico ajudando na missão. Outra prioridade, segundo ele, é a conclusão das obras do Centro de Treinamento em até dois anos. Também apresenta projetos para um estádio na Gávea e outro na região central do Rio.

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Ex-aliado de Bandeira%2C Wallim Vasconcelos quer a presidência do FlamengoDivulgação

O DIA: Como pretende administrar o clube, financeiramente falando? A atual política será mantida e os acordos cumpridos?

Wallim Vasconcellos: Vamos manter a credibilidade, a fama conquistada de um clube que paga suas dívidas em dia e ter responsabilidade financeira e fiscal. O nosso Flamengo fez bem o dever de casa nestes últimos dois anos e meio em que estivemos na administração e está pronto para voos mais altos. Nos próximos anos, vamos poder contratar jogadores de excelente qualidade para termos um elenco de ponta. O Flamengo tem que ter gente com comprovada qualificação profissional nas áreas de planejamento e finanças, sabendo administrar com competência, como fazemos em nossas empresas. Com a Chapa Verde, isto será muito simples: tanto o Rodolfo Landim quanto o Rodrigo Tostes, os dois guardiões de todo o processo implantado no Flamengo, estão em nossa chapa. Serão eles que retomarão os trabalhos. Além disto, reforçaremos ainda mais a política de transparência e de prestação de contas para os sócios e a sociedade em geral. Que fique claro: vamos respeitar o orçamento, cumprindo integralmente as obrigações e compromissos, como estava sendo feito até sairmos, em julho deste ano.

O DIA: De que forma vai conciliar a responsabilidade nas finanças com os investimentos no futebol?

Copa do Brasil de 2013 foi principal título da era Bandeira, Wallim ainda fazia parte da gestãoCarlos Moraes / Agência O Dia

Wallim Vasconcellos: Retomaremos a linha de trabalho que fizemos nestes dois anos e meio. No nosso mandato, com o conhecimento que já temos das condições do clube e pela arrumação que demos neste período, já poderemos ousar mais, investir mais, realizar ainda mais. Arrumamos a casa. Agora, é chegada a hora de pensar mais longe. O Flamengo quer, pode e vai avançar mais ainda. Muito já fizemos. Muito mais ainda terá que ser feito pelo nosso grupo. Nossas prioridades no futebol serão terminar o CT profissional, investir fortemente na base, se possível tendo nosso ídolo maior Zico conosco neste trabalho, contratar imediatamente pelo menos dois jogadores que possam chegar como ídolos, acertar a filosofia do time para que voltemos a ser um Flamengo temido pelos adversários e inconformado com as poucas derrotas.

O DIA: Quais os planos para concluir as obras do Centro de Treinamento?

Wallim Vasconcellos: O Centro de Treinamento é, muito provavelmente, o investimento mais importante para o futebol do Flamengo. Será ele que permitirá ao nosso clube dar um salto de qualidade na formação e na atratividade de atletas. Sendo assim, é uma prioridade absoluta na nossa administração. Apesar do período financeiro turbulento que nosso país está passando, temos a firme convicção de que, dada a credibilidade e o conhecimento dos componentes e apoiadores de nosso grupo, teremos como levantar os recursos necessários para finalizar toda a obra do CT num período máximo de dois anos. Pelos cálculos que temos, serão necessários mais R$ 30 milhões. O Flamengo, com um grupo forte e com credibilidade, pode conseguir levantar este montante no mercado.

O DIA: Como vê o programa sócio-torcedor e como fazê-lo render ainda mais recursos para o clube?

Wallim Vasconcellos: Os programas de sócio-torcedor mais bem sucedidos do mundo se baseiam no tripé: performance esportiva, ídolos e estádio. Neste triênio de 2016/2018, nossa prioridade será o futebol. Logo, os dois primeiros pontos devem contribuir de forma importante para a evolução de nosso programa. Baixar preços simplesmente tende a gerar canibalização de produtos e queda de receita para o Flamengo. Além disto, vamos criar produtos mais adequados à realidade pela qual passamos no país, especialmente para aqueles que moram fora do Rio de Janeiro. Criaremos um produto corporativo, seja para torcidas organizadas, seja para grupos de torcedores de fora do Rio. Este produto corporativo será oferecido também em empresas do Brasil em formato semelhante ao de empréstimos consignados, com preços mais acessíveis. Ficará faltando o estádio, nosso sonho maior, que será, com toda a certeza, endereçado neste nosso mandato, seja pela construção de um novo ou outra solução que atenda a este ponto de forma rentável e viável para o clube. Apenas um ponto que gosto de frisar: o programa sócio-torcedor do Flamengo, criado pelo Bap (Luiz Eduardo Baptista), nosso companheiro da Chapa Verde, apesar de ainda ter alguns bons espaços para melhoras, é hoje um dos dois de maior receita do Brasil, deixando para o Flamengo uma quantia que representa o segundo maior patrocínio do clube, perdendo apenas para o contrato com a Adidas.

Importância do sócio-torcedor foi um tema bastante destacado por WallimAndré Mourão

O DIA: É possível levar os torcedores de baixa renda de volta aos estádios? Como?

Wallim Vasconcellos: Sem dúvida. Há uma série de ações possíveis para reduzir o preço dos ingressos. O problema é que muitas dependem do governo, da federação, do Consórcio (Maracanã), do Gepe. O controle da meia-entrada, a redução dos custos dos estádios, a diminuição das taxas da Ferj - as maiores do Brasil -, um novo arranjo arquitetônico do Maracanã, com a abertura de uma área mais popular e outras ações fariam com que o clube pudesse receber mais e baratear os valores cobrados pelos ingressos. Temos um amplo estudo sobre isto e negociaremos com os demais envolvidos assim que assumirmos a administração.

O DIA: Que projetos tem para a sede social?

Wallim Vasconcellos: Infelizmente, vemos que o trabalho feito no Fla-Gávea durante este período foi um dos pontos fracos da atual administração. Teremos muito a fazer na nossa sede social. Vamos aproveitar melhor os amplos espaços que existem e revitalizar as áreas já construídas. Temos que efetivamente discutir com os associados um plano master para a Gávea. Quando o plano estiver concluído, a Gávea, dada a sua área e a sua localização, se transformará num dos mais modernos e desejados clubes sócio-esportivos do país. Além disto, temos um planejamento já desenvolvido para incrementar as atividades sócio-esportivas dentro do clube, com a realização de eventos de interesse dos sócios. Algumas áreas hoje não aproveitadas, tais como espaços no prédio da administração, devem ser abertas para os sócios realizarem atividades sociais, especialmente para a terceira idade. Além disto, nossas quadras esportivas podem ser objetos de torneios voltados para nossas crianças e adolescentes, estimulando a boa prática do esporte. Ampliar e melhorar a área infantil, algo previsto no nosso planejamento para os espaços do clube, também ajudarão na presença de mais sócios no clube. Vamos modernizar os equipamentos físicos de forma a dar mais conforto e opções de lazer ao sócio. Vamos dar andamento às reformas de quadras e das instalações esportivas, utilizando verbas de patrocínios e incentivadas. Vamos acelerar a entrega da nossa piscina, uma obra que acabou demorando muito para ser realizada. Em resumo: muito trabalho a ser feito.

O DIA: Como lidar com a crise de relacionamento com a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro? Pretende manter a ruptura? É possível diálogo?

Wallim Vasconcellos: Uma coisa é certa: a instituição Flamengo tem que ser respeitada. Algumas situações que vivemos nos últimos tempos não serão mais aceitas. Na realidade, o Flamengo não pode viver mais este processo dúbio, já que não se desfilia, nem participa do processo. Se quer continuar filiado, tem que ir ao arbitral, fazer constar em ata seus pleitos, reivindicar, exigir toda a informação a que tem direito. E reivindicar o que acha importante. Mesmo que seja murro em ponta de faca, tem que estar lá. Vamos buscar o que é melhor para o Flamengo e exigir contrapartidas da Ferj. Não sendo possível isto, vamos para o confronto maior, de forma inteligente e sem as bravatas, que não levaram a nada e somente mancharam o nome do clube.

O DIA: Qual a sua visão em relação à posição de não disputar o Campeonato Carioca com o time principal?

Wallim Vasconcellos: Na situação que a atual diretoria colocou o Flamengo, com a discussão de uma Liga completamente desorganizada e sem uma visão clara sobre o que serão os primeiros meses do ano, vejo que devemos disputar o Carioca com o que o Flamengo tem de melhor. Nosso Flamengo é o maior vencedor do Campeonato Carioca. Temos que pensar sempre nisto e entrar em qualquer competição para ganhar.

O DIA: Qual a previsão de receita para o ano? É possível montar um time capaz de ganhar títulos de expressão e também trazer um nome de impacto? Como?

Wallim promete ao menos dois nomes de impacto para o FlamengoMárcio Mercante / Agência O Dia

Wallim Vasconcellos: Como falei acima, o futebol do Flamengo precisa de pelo menos dois nomes de impacto, que cheguem para ser ídolos. Com a Chapa Verde no comando, voltaremos a brigar por títulos de expressão, como a Copa do Brasil e o Brasileiro. A receita será bem maior do que a dos anos de 2013 e 2014, quando encontramos um cenário devastador no futebol. Mesmo assim, para minha alegria, já que eu era o vice-presidente de futebol na época, fomos campeões da Copa do Brasil, em 2013, e do Campeonato Carioca e da Taça Guanabara de 2014.

O DIA: A torcida pode sonhar com um estádio próprio? E quais os planos em relação ao Maracanã?

Wallim Vasconcellos: Pode sim, sem dúvida. Temos três opções em planejamento. A primeira, na Gávea, vai depender da mobilização com o governo e a sociedade. Nossa ideia é dar entrada no projeto de ampliação do atual estádio para algo ao redor de 25 mil pessoas. Com o metrô na porta, o foco no esporte e o tamanho reduzido do estádio, esta opção nos parece bem viável. A segunda é o Maracanã, mas o Maracanã não é do Flamengo, é do Consórcio. Primeiro, o Consórcio teria de devolver o Maracanã, depois, teríamos que fazer uma proposta para o Estado. E a terceira opção é conseguir um terreno. Não em lugar mais distante, como diz o (Eduardo) Bandeira. Tem que ser em lugar central, para atender a toda a torcida do Flamengo. Esta seria a melhor opção. Se conseguirmos um terreno, podemos levantar um estádio para 45 mil pessoas. Vamos trabalhar nestas três opções. O Flamengo hoje tem credibilidade. E o sonho do estádio não está distante. Já temos tido contatos com investidores e pessoas do ramo para isto.

O DIA: Como será a postura da diretoria em relação ao comportamento dos jogadores do elenco? Haverá patrulha para evitar problemas como o recente afastamento de cinco jogadores?

Wallim Vasconcellos: O problema com os cinco jogadores não nasceu naquela festa. Isto já vem acontecendo há algum tempo, sem a devida atenção da diretoria. Eles tentaram atacar a consequência e fizeram isso de maneira completamente atabalhoada. Na realidade, deviam ter trabalhado na causa. Precisamos ter no Flamengo jogadores comprometidos, que queiram atuar pelo clube. A falta de líderes positivos no elenco faz com que a maioria dos jogadores fique perdida ao menor revés. Traremos esses líderes para o elenco. Nossa diretoria vai agir com pulso em relação aos jogadores, ao contrário do que vem acontecendo na atual gestão. Não faremos patrulha, mas exigiremos comprometimento e postura.

O DIA: Qual será a importância dos esportes olímpicos na sua gestão? Que tipo de investimento será feito? Em quais esportes? E a arena multiuso na Gávea sairá do papel?

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Wallim Vasconcellos: Poucas vezes os esportes olímpicos do Flamengo tiveram tanto apoio das demais áreas quanto no período em que estivemos à frente do clube. Vejamos alguns exemplos disto: Rodrigo Tostes, o vice-presidente de finanças da nossa Chapa, trabalhou incessantemente para conseguir as CND’s (Certidões Negativas de Débito) que permitiram o acesso à lei de incentivo e que trouxeram várias empresas para o apoio aos esportes olímpicos do clube; Bap, o vice-presidente de marketing da Chapa Verde, conseguiu um recorde de patrocínios para o nosso basquete, em especial com a vinda da Tim e da Sky. O Orgulho da Nação conseguiu dinheiro suficiente para poder trabalhar tranquilo e nos dar tantas alegrias; Gustavo Oliveira, nosso vice-presidente de comunicação, conseguiu colocar nosso basquete, em especial, e os esportes olímpicos em geral com uma presença na mídia extremamente forte. Isso tudo foi conseguido com muito esforço e dedicação. Na realidade, sabemos a história e a tradição dos esportes olímpicos no Flamengo. Não se pode esquecer que o remo é o esporte fundador do clube. Continuaremos com esse apoio, seja através de projetos de captação via incentivos fiscais, seja pela busca de equipamentos oriundos do legado dos Jogos Olímpicos, seja pelo trabalho no sentido de melhorar os campeonatos e torneios de cada esporte, visando a atrair mais público. Nosso grupo é formado por gente que fez muito e sabe o que fazer. Vamos trabalhar para isto. Quanto à Arena Multiuso, esta é uma discussão muito interessante. É claro que somos totalmente favoráveis a que o Flamengo tenha o seu ginásio, moderno, confortável e de última geração. E ele terá. O ponto é que este processo se arrasta há mais de quatro anos, sempre com um problema novo aparecendo. A situação que tenta se vender é a de que isso é algo de simples resolução e que já está quase resolvido. Isso, infelizmente, não está correto. A arena, como está pensada hoje, ainda não foi aprovada pelo governo e o investimento previsto para o McDonald’s também está em negociações. Em vista disso, a nossa chapa está buscando possibilidades novas para que efetivamente concretizemos o sonho de termos rapidamente uma arena para o clube. Quer seja na Gávea, quer seja em outro local, aproveitando o legado das arenas construídas para a Olimpíada. Trabalhar apenas com uma alternativa pode acarretar na não conclusão, fazendo com que o clube perca a chance de ter este importante ativo. Isso não é inteligente e não é o melhor para o nosso clube.
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