Marília de Barros Silva e o filho, Arthur Vinícius, vítima do incêndio no Ninho do Urubu, no dia 8 de fevereiro - Acervo Pessoal
Marília de Barros Silva e o filho, Arthur Vinícius, vítima do incêndio no Ninho do Urubu, no dia 8 de fevereiroAcervo Pessoal
Por Ana Carla Gomes e Francisco Edson Alves

Rio e Volta Redonda - Há um mês, a vida de Andréia Candido de Oliveira e Marília de Barros Silva mudou completamente com a dor de uma tragédia que não dá para dimensionar. Mães do goleiro Christian Esmério, de 15 anos, e do zagueiro Arthur Vinícius, de 14, elas tiveram que se despedir precocemente de seus meninos, que sonhavam com dias de glória com a camisa do Flamengo. Eles estavam entre os dez mortos no incêndio no alojamento das categorias de base do CT do Ninho do Urubu, no dia 8 de fevereiro. Em relatos emocionados, Andréia e Marília contam como eram no dia a dia os seus garotos, promessas dos gramados brasileiros, e abrem o coração de mãe com uma saudade que só aumenta a cada dia.

Com a família de Madureira, Christian teve passagem pelas categorias de base da seleção brasileira, esteve na Granja Comary e tinha entre suas recordações uma foto com o técnico Tite, da equipe principal. O goleiro completaria 16 anos no dia 5, quando poderia assinar um contrato profissional com o Flamengo. Seu sonho era dar uma casa para os familiares.

O advogado da família, Márcio Costa, disse que não houve nenhum outro contato com o clube em relação à negociação sobre indenização.

Convocado pela Seleção sub-15 em 2018, Arthur era de Volta Redonda. Aos cinco anos, perdeu o pai assassinado. O garoto completaria 15 anos no dia seguinte ao incêndio. No braço esquerdo, Marília carrega agora uma tatuagem em homenagem ao filho.

Marília de Barros Silva com Arthur Vinícius mais novo. Ele completaria 15 anos um dia após o incêndio - Reginaldo Pimenta

Ao ser perguntada como estão as negociações com o Flamengo e se o clube tem lhe dado atenção, Marília responde: "Quando a psicóloga entrou em contato comigo, foi exatamente uma semana depois. Ela perguntou como eu estava me sentindo e eu respondi que estava me sentindo abandonada pelo Flamengo. Até então, quando eu cheguei lá, tive contato com assistente social, hotel. Mas alguém da diretoria vir falar alguma coisa, nada".

E ela faz um desabafo: "Eu me sinto um pouco abandonada, porque, quando eu paro e penso que deixei meu filho lá, tinha a preocupação com a violência no Rio de Janeiro. Onde eu achei que meu filho estava na maior segurança, foi onde eu perdi o meu filho. Não tem mais jeito, o Arthur não vai mais voltar".

Jovem tinha passagem por seleção de base - Reginaldo Pimenta

"A gente sabe que não passa essa saudade, só aumenta"

Marília de Barros Silva, mãe de Arthur Vinícius:

"Tudo mudou. A rotina que eu tinha de trabalhar, de conversar com o Arthur à noite, ir para lá nos fins de semana... Minha vida é de saudade, de dor. A gente sabe que não passa essa saudade, só aumenta. É um vazio.