Por jessyca.damaso

Recife - O técnico Abel Braga fez na noite da última quarta-feira, em Recife, o seu primeiro jogo no comando do Fluminense após a morte do seu filho mais novo, João Pedro, que caiu da janela do banheiro do seu apartamento no Rio, no último sábado, em tragédia que acabou motivando o adiamento da partida que o time faria contra a Ponte Preta, no último domingo, em Campinas. De volta ao trabalho no confronto diante do Sport, o treinador recebeu uma bela homenagem dos torcedores da equipe pernambucana na Ilha do Retiro, onde foi aplaudido de pé e teve o seu nome gritado antes de a bola rolar para o duelo válido pela penúltima rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro.

Abel Braga comandou o Fluminense pela primeira vez após a morte de seu filho mais novoReprodução Internet

Depois disso, o comandante viu o Fluminense abrir 2 a 0 dentro de campo, mas depois não conseguir sustentar a vantagem e sofrer o empate por 2 a 2. Porém, o resultado final amargado pelo time carioca ficou em segundo plano diante das homenagens que ele recebeu e do carinho que Abel revelou que vem tendo desde o último final de semana.

Emocionado, ele agradeceu ao apoio e destacou até que chegou a sentir a presença do seu filho, que tinha apenas 19 anos, como se o mesmo estivesse no seu time após a expulsão de Orejuela ainda no primeiro tempo, quando o jogador foi vítima de uma decisão equivocada do árbitro Marcelo Aparecido de Souza, que mostrou cartão vermelho direto ao volante após uma falta normal em Patrick.

"É a primeira vez que eu falo com vocês depois do ocorrido e queria dizer que tudo isso que aconteceu nesses três dias, essa solidariedade, esse carinho, respeito, me fizeram mais forte, me fizeram crescer muito. Eu digo sempre aos meus jogadores, não pedi vitória para o meu filho, não pedi vitória para mim, nada. A estratégia do jogo foi a que a gente treinou, que combinou. Foi um jogo fantástico, mas a solidariedade foi algo que transcendeu limites e, de repente, até sonhos", comentou o treinador, em entrevista coletiva.

Depois, ao falar sobre como foi para o Fluminense atuar por mais de meio tempo de jogo com um homem a menos, o treinador voltou a lembrar do seu filho mais novo. "Foi um grande jogo. Falei aos meus jogadores que, quando ficamos com dez, pareceu que jogamos melhor, pois tivemos chances claras. Acho que o João Pedro estava em campo porque não parecia que tínhamos um a menos. Foi uma partida muito difícil, jogar na Ilha é difícil, o Sport está muito bem treinado, é uma equipe de muita movimentação e tivemos as melhores oportunidades", analisou Abel, que também evitou críticas duras ao juiz da partida por causa da expulsão a Orejuela. "Não comento arbitragem, mas achei a expulsão extremamente rigorosa, ainda mais porque conheço o jogador, ele não é disso (de praticar faltas violentas)", completou.

HOMENAGEM SURPREENDE

Ao falar sobre a homenagem que recebeu dos torcedores do Sport, o técnico do time tricolor admitiu que foi surpreendido com o ato de nobreza, até pelo fato de que na sua carreira já treinou o Santa Cruz. A rivalidade local, porém, foi deixada de lado e o que se viu foi um belo gesto de solidariedade ao momento de grande dor vivido pelo treinador após a perda do filho.

"Já fui inimigo do Sport, já trabalhei no Santa Cruz e sempre joguei contra eles, e quero agradecer a todos, ao país inteiro. Não podia imaginar nem em sonho esse carinho. Me sinto feliz porque não é por gostar do Abel, é pelo caminho que o Abel traçou, que meus filhos traçaram, de honradez, de caráter, de dignidade, de honestidade e de amizade para com todos, hoje é um dia que vai ficar marcado", ressaltou o comandante nesta quarta-feira à noite.

Abel ainda revelou que recebeu grande apoio de nomes de peso do futebol no último final de semana, como por exemplo os atuais técnicos da seleção brasileira e do Palmeiras. "O Tite chegou no velório e ficou até 5 horas da manhã. O Cuca veio de carro e ficou até 3h30 da manhã. O presidente (do Fluminense, Pedro Abad) foi na minha casa, conseguiu adiar uma rodada do Brasileiro e me perguntou se eu queria velar o corpo no Fluminense e eu aceitei. Tinha uma festa marcada no clube, peço desculpa aos familiares por cancelarem a festa", afirmou, para depois ressaltar que todo o apoio que vem recebendo o fazem ter força para seguir em frente na vida e na própria profissão, apesar da grande tragédia familiar.

"O presidente colocou colchonetes na sala da presidência para algumas pessoas, como por exemplo, meu filho (mais velho, Fábio Braga, ex-volante do Fluminense) dormir lá. Facções contrárias estiveram juntas. Então, com todo esse gesto de solidariedade, não posso me arrastar, colocar a cara no chão, tenho que me levantar", completou.

GRATIDÃO

E ao abordar a gratidão que tem pelo grande apoio que vem recebendo, Abel lembrou que já enfrentou outra grandes dificuldades na sua trajetória e conseguiu superá-las, assim como prometeu retribuir o carinho a todos que o cercam e foram solidários a ele.

"Perdi para a morte e não para a vida. Se não tem vida, não tem morte. Minha mulher tem que levantar, meu filho está lá em pé dando força a ela. Eu não sou perdedor, se eu não tivesse acreditado em mim nas derrotas, não teria sido campeão depois. Tudo foi muito sofrido, mas eu lutei muito e agora, mais do que nunca, vou lutar pela minha família e por toda essa gente desse país que foi solidária. Sou uma pessoa correta, minha família é correta e tem a coisa mais importante que o ser humano pode ter que é gratidão", enfatizou.

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