Técnico Zé Ricardo tem dura missão no Vasco em 2022RAFAEL RIBEIRO/VASCO

Rio - Zé Ricardo acertou o retorno ao Vasco no início de dezembro do ano passado. Contrato até o fim deste 2022. Mas a primeira passagem, de nove meses entre 2017 e 2018, foi um raro momento de felicidade nos últimos anos do torcedor cruz-maltino. O treinador recebeu o LANCE! para uma entrevista franca, na última sexta-feira, no CT Moacyr Barbosa. E nesta segunda parte, ele lembra o período em que foi "vidraça" antes de ter pedido demissão, três anos e meio atrás, e observa um clube, hoje, melhor estruturado.
"Já havia começado o Brasileiro, se não me engano era a sétima rodada (na verdade, nona). Mas o meu nível de estresse e estafa estava muito grande pelas dificuldades de comunicação no clube, que eram muito grandes. E o meu estafe, que hoje está ao meu lado, eu não tinha. De uma maneira de amadurecimento que eu tive naquele ano, eu tinha o hábito de trazer todos os problemas para mim e me consumiu muito. Depois de mais dois jogos do Brasileiro eu me sentia cansado, e vinha de uma sequência de juniores do Flamengo, no qual praticamente não tinha férias, tive um ano e oito meses de Flamengo e emendei no Vasco", recordou o treinador, antes de acrescentar:
"Eu me sentia muito cansado, precisava parar e tomei a decisão de pedir pra sair. Não me arrependo porque, no momento, tinha justificativa, mas, hoje, eu não faria. Porque um clube como o Vasco eu vejo que não se deve fazer (pedir demissão). E, hoje, distribuo mais as funções. O vídeo do pré-jogo está feito por profissionais que eu confio, o treino vai ser montado por quem eu confio, quem está decidindo as contratações é quem eu confio. E, naquela época, eu tinha e queria resolver tudo. É um aprendizado que a vida só nos dá nessas situações", acredita.
A política do Vasco reserva tantos momentos minimamente curiosos que é necessário voltar no tempo. Em 2017, a eleição e a polêmica em torno da "Urna 7" tornaram a virada de ano problemática. O clube chegou a ter um trio de presidentes: Eurico Miranda, Julio Brant e Fernando Horta. Uma confusão que prejudicava o planejamento justamente para o ano em que o time voltava à Copa Libertadores. A vaga fora conquistada pelo time comandado por Zé Ricardo.
"A situação de 2018 era uma troca de presidentes na época, quando a gente se preparava para a Pré-Libertadores. O Vasco tinha três presidentes, já que a justiça tinha dado condição para que os três governassem. Os três não governaram e, em dez ou sete dias, nós ficamos sem presidente e em uma formatação de elenco para jogar. Não sabia com quem iria contar para jogar o mata-mata em Concepción (CHI), num jogo de Pré-Libertadores. Os jogadores que estavam não sabiam se iriam renovar e foi uma situação muito complicada", lamenta, citando os objetivos para aquela conjuntura:
"Nós conseguimos o objetivo naquele momento. Traçamos o objetivo de chegar à final do Carioca, e chegamos. De passar para a fase de grupos, e passamos. E, caso na fase de grupos não desse para passar porque tinha Cruzeiro, Racing (ARG) e Universidad do Chile - era considerado por todos como o grupo da morte -, pelo menos que tivéssemos a classificação para a Sul-Americana. Em um jogo fantástico nosso no Chile, conseguimos também vencer a Universidad de Chile por dois gols e conseguimos, com gols de Bruno Silva e Pikachu. Eu me senti muito recompensado profissionalmente", valorizou, citando o jogo pela última rodada da fase de grupos.
A política fez de Zé Ricardo uma vidraça solitária naquele período de triunvirato e início de mandato de Alexandre Campello. Mas o treinador pondera. Separa os problemas e as questões inerentes aos debates.
"A questão política envolve qualquer clube de futebol - uns mais, outros menos - e sempre esteve muito presente no Vasco. E eu não vejo mal nenhum que a política esteja dentro de casa. Mas o que falo é que essa política tem que ser no sentido de que o Vasco seja o mais favorecido. Quando a situação, seja ela qual for, está tentando governar um clube como o Vasco, e a oposição, seja ela qual for também, trabalha contra, na verdade, não está trabalhando contra a situação, mas, sim, contra o clube. Fazer futebol hoje é tão difícil, com todos os problemas externos que se tem... se, além disso, tem os problemas internos, certamente vai ficar muito difícil", avaliou, num contexto amplo.
O tempo passou, Zé Ricardo passou por outros quatro clubes e voltou a São Januário. Ou melhor, passou a comandar um time noutro lugar. O treinador vê um Vasco melhor do que na primeira passagem.
"Felicidade de ver um CT extremamente funcional. Lógico que um clube como o Vasco merece mais, mas está caminhando. O projeto estrutural do CT é muito legal. No dia em que ficar pronto, vai atender muito bem ao profissional do Vasco e, quem sabe, à base. Seria um desejo meu de ver o sub-20 treinando próximo da gente. Facilita muito. Um CT funcional, uma comissão técnica - tanto quem trouxemos quanto quem já estava aqui -, mesmo com todas as dificuldades, tenho certeza que é uma das melhores comissões que um clube pode ter", exaltou, para depois emendar:
"Todo mundo muito à vontade, um ambiente sensacional, próprio para o crescimento. Amadurecimento nosso como profissional, como os atletas que nós estamos trazendo com o perfil de querer evoluir, crescer, com fome, querendo buscar seu lugar ao sol", ressaltou.
Além dos jogadores mais experientes, Zé Ricardo entende que tem por missão fazer os jogadores mais jovens do elenco voltarem a jogar o que sabem ou que se espera que saibam. E não mede as palavras sobre isso tampouco sobre o tamanho da montanha que o Vasco terá na Série B do Campeonato Brasileiro.
"Com os jovens meninos, temos a obrigação de tentar recuperá-los depois de um ano que terminou daquela forma. Recolocá-los de forma confiante, porque é o principal aspecto que se perde quando você tem um ano como terminou o passado. Estamos construindo uma equipe. Uma identidade demanda tempo, mas o comportamento deles (atletas) é o que tem me deixado animado para acordar no dia seguinte para treinar. O que estamos pedindo eles estão querendo cumprir com seriedade e comprometimento. Que isso se perpetue durante o ano", desejou, antes de finalizar:
"Eu tenho a certeza de que esse é o caminho para chegarmos (bem na Série B). Se iremos chegar (ao final, com a vaga) é difícil cravar. Temos uma Série B extremamente competitiva e com seis campeões nacionais. Muito disputada e bem trabalhada pelas mídias sociais e TV. É um produto extremamente atrativo com os clubes que tem. Não tenho dúvida nenhuma de que muitos jogos da Série B terão mais público que muitos da Série A. Temos que fazer nosso dever de casa, mas partindo desse princípio que com bom ambiente, trabalho e criatividade, esperamos chegar ao grande objetivo do ano", concluiu.