Raniel, do Vasco da Gama, em lance contra o Madureira, durante partida válida pela Taça Guanabara, 1º turno do Campeonato Carioca 2022, realizada no Estádio Aniceto Moscoso, em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, neste domingo, 06 de fevereiro de 2022. O Vasco da Gama venceu por 3 a 1. Foto: ALEXANDRE DURÃO/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO CDG20220206035 - 06/02/2022 - 18:08ALEXANDRE DURÃO/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Rio - Recém-chegado ao Vasco, Raniel revelou ter passado por muitas dificuldades no início de sua carreira. Em entrevista ao "The Players Tribune", o jogador, que foi pegou no antidoping por uso de cocaína aos 17 anos, quando defendia o Santa Cruz, disse que começou a usar drogas e começar álcool bem antes, chegando inclusive a ser traficante.
"Com 14 anos eu comecei a beber. Depois, a me drogar. E até vender drogas eu vendi. É doído demais lembrar disso, parece que estou jogando sal numa queimadura de água-viva. Eu era só uma criança e acabei cedendo àquele mundo perigoso que me cercava", disse Raniel.
"Achei que eu fosse perder ela (avó) também, que o coração dela não ia aguentar tanto sofrimento. Isso me machucou mais do que a própria punição, porque a vó Marinalva me ama demais, sempre quis o meu bem e foi o colo onde eu me socorri a vida inteira", completou.
Raniel também contou que a data em que decidiu parar de beber, 07/12/2020, está eternizada em uma tatuagem próxima ao seu olho.
"Com essa tatuagem perto do olho, que a vó Marinalva diz ser a janela da alma, todo mundo pode me ver por inteiro, por dentro e por fora. Os números não mentem: essa é a minha história, cheia de dores, quedas e cicatrizes, mas verdadeira pela primeira vez. Você não precisa sentir pena de mim. Apenas me conhecer. Eu sou Raniel, camisa 9 do Vasco, tenho 25 anos, três filhos e uma esposa incrível. E desde 07-12-20, não boto uma gota de álcool na minha boca", disse.
A decisão de parar de beber aconteceu após dois grandes baques para Raniel: o filho, Felipe, quase morreu aos nove meses de idade, e uma trombose aguda quase encerrou precocemente sua carreira como jogador.
"Era de tarde. Eu e minha mulher tínhamos ido tirar um cochilo no quarto. O nosso bebê Felipe, de nove meses, ficou com a babá. Quando ele adormeceu, ela o deixou num colchão no chão da sala e foi pra área de serviço, cuidar da roupa, essas coisas. Mas esqueceu a porta de acesso pra piscina entreaberta. Provavelmente o Felipe acordou e engatinhou até lá. Eu dei um pulo da cama com os gritos da babá. Desci as escadas correndo e vi meu filho nos braços dela, desacordado, todo molinho, e com a boca espumando", declarou.
"Voltei a beber e não foi pouco. Era o auge da pandemia e os jogos estavam suspensos, os estádios fechados. Eu tive uma recaída. Eu me afundei. Bebia, bebia, bebia até cair e bebia mais um pouco deitado. Só parava depois de desmaiar. Eu queria me destruir. Eu via que a qualquer momento algo grave ia acontecer comigo. E eu desejava que acontecesse, porque aquele abismo em que eu caí depois do antidoping no Santa Cruz ficou rasinho perto desse", finalizou.